Um assunto recorrente nos noticiários econômicos é que junto ao movimento de alta de juros dos principais bancos centrais globais, foram anunciados planos de redução dos programas de compras de títulos e do tamanho de seus balanços patrimoniais. Em resumo, o fim do quantitative easing (QE). Mas qual a relevância disso? O que é o QE? E como o fim dele pode afetar o mercado financeiro e a economia?
O QE é uma ferramenta de política econômica utilizada pelos bancos centrais para estimular a economia pelo canal monetário, mas a taxa de juros se encontra em patamares extremamente baixos, próximo de zero, sem poder de estímulo adicional. Isso se deve, pois, a taxa de juros nominal não pode ser negativa, caso contrário o dinheiro em espécie tomaria o lugar dos títulos como um ativo, pois os agentes procurariam moeda como forma de aplicação patrimonial.
Nesse ambiente global de juros historicamente baixos, essa ferramenta vem sendo amplamente utilizada pelos principais bancos centrais desde a crise de 2008, e teve seu apogeu durante a pandemia do COVID-19, quando foram anunciados pacotes trilionários de compras de ativos. Dentre os objetivos dessa política estão o estímulo da atividade econômica, a manutenção da liquidez do sistema financeiro e das expectativas dos agentes, estimulando a tomada de risco.
Funcionamento
O Banco Central realiza rodadas de compras de ativos pré-determinados, em sua maioria com datas de vencimento mais longas, com o objetivo de pressionar para baixo as taxas de juros de médio e longo prazo. Essa injeção de liquidez induz a uma redução das taxas pela dinâmica de oferta e demanda — com o aumento da procura por esses títulos, seus preços aumentam e, consequentemente, o prêmio necessário para atrair investidores diminui. Esse movimento de reprecificação dos títulos afeta o formato da curva de juros, que se torna mais achatada, impactando os demais ativos financeiros e beneficiando a economia.
Impactos
Assim, o deslocamento da curva leva (i) à redução das taxas de empréstimos; (ii) à redução do custo de dívidas de médio e longo prazo, benéfica para setores com dívidas nesse perfil, como tecnologia e construção civil; e (iii) ao rebalanceamento do portfólio para ativos além dos financeiros, incorrendo em um transbordamento para a economia real, incentivando o consumo das famílias.
Por outro lado, devido ao caráter recente dessa política, os resultados empíricos ainda são inconclusivos. Os críticos ao QE argumentam que durante as rodadas de compras do programa, as taxas de juros de longo prazo apresentaram movimento inverso ao esperado, ou seja, de alta — aumento da expectativa de inflação, seja pela expansão considerável do M2 ou perspectiva de melhora econômica. Outro ponto é o aumento da desigualdade, levando em consideração que uma pequena parcela da população possui ativos financeiros, extremamente beneficiados pelo programa, e que esse transbordamento do mercado financeiro para a economia real não é um consenso.
O que esperar?
O QE teve papel chave na manutenção da confiança dos investidores no mercado financeiro nos últimos anos, seja como garantia ou forma de sinalização. O anúncio da retirada dos estímulos já impactou de maneira considerável o apetite ao risco dos investidores, tendo em vista os movimentos de queda dos ativos de risco globais, e ainda deve impactar. Levando em conta o momento conjuntural único, é necessária muita cautela, pois após uma década de bonança é chegada a hora do aperto.
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