No ano de 2020 vivenciamos um período de alta aversão a risco marcado pela crise econômica causada pela pandemia. Naquele período, o real desvalorizou mais de 20% em relação ao dólar em menos de 5 meses. Agora, em 2022, as últimas semanas também foram marcadas por eventos que ainda geram preocupação por parte dos investidores e empresas, como o início da guerra na Ucrânia e o aumento da taxa básica de juros pelo Banco Central Americano (FED). Inesperadamente, todavia, o real se manteve resiliente e valorizou aproximadamente 15% desde então. Há vários fatores que contribuíram para esse resultado. Entretanto, como principais causas, podemos destacar: (i) a alta taxa de juros real oferecida pelo Brasil em relação aos seus pares e (ii) a apreciação do preço das commodities, principalmente daquelas que impactam positivamente a balança comercial brasileira.
Os títulos de dívida emitidos pelo Tesouro Americano, que são considerados o ativo mais seguro para investidores, atualmente pagam -1,2% ao ano de juros reais para um período de 5 anos. Por outro lado, para esse mesmo período, é possível garantir um retorno real de 5,54% ao ano no Brasil. Esse retorno é significativamente elevado ao comparar, não somente com o que os títulos americanos oferecem, mas com as taxas de outros países. Somente na Rússia, país que iniciou uma guerra e hoje enfrenta inúmeras sanções econômicas, é possível encontrar títulos emitidos pelo governo que pagam um juro real maior.
Dessa forma, é de se esperar que investidores e instituições internacionais queiram aproveitar estes rendimentos elevados, trazendo dólares para o Brasil. Além disso, é de se esperar que residentes domésticos não tenham incentivos para buscar retornos reais mais baixos em outros países, como ocorreu entre agosto de 2020 e março de 2021, em que a taxa Selic estava em 2% e a taxa de câmbio estava bastante volátil.
O Brasil, como exportador líquido de commodities, é geralmente impactado positivamente pela apreciação de seus preços. Nos últimos 20 anos, a indústria extrativa e a agropecuária têm adquirido uma relevância cada vez maior para o saldo da balança comercial. Nesse contexto, a tendência de alta do preço do petróleo, que começou em meados de abril de 2020 e acelerou após início da guerra na Ucrânia, bem como o comportamento do preço da soja e do ferro, commodities que juntas representam mais que 50% das exportações brasileiras, são fatores que definitivamente beneficiariam o real. Nos gráficos abaixo é possível observar o ganho de representatividade desses setores com o tempo e a variação dos preços das commodities mais importantes para balança comercial brasileira desde o início de 2022.
Finalmente, além do efeito no câmbio decorrente do comércio internacional, em que produtores nacionais contribuem para aumentar a oferta de dólares, investidores estrangeiros também possuem um papel fundamental para a valorização do real. Segundo a B3, a participação na bolsa de valores brasileira desses investidores já corresponde a aproximadamente 53% do total. Como as maiores empresas ligadas a commodities estão listadas na bolsa, investir no Brasil é uma forma de aproveitar o ciclo de alta do setor. Pode-se verificar no próximo gráfico que, em menos de 3 meses em 2022, o fluxo anual de investidores estrangeiros na B3 neste ano já é recorde para série histórica, e essa tendência deve permanecer nos próximos meses, a não ser que haja uma correção expressiva nos preços das commodities ou se o houver uma alteração significativa no diferencial de juros brasileiro.
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