Afinal, o que é um Fundo Soberano?
Não comercializado no mercado, o fundo soberano é um investimento de propriedade governamental, que tem o propósito de usufruir desse montante em benefício econômico e social de seu país. Os primeiros Fundos Soberanos foram lançados na década de 50 na Arábia Saudita e Kuwait, com o objetivo de acumular os ganhos com recursos naturais extraídos, em razão da predominância destes na economia local, além de obter investimentos rentáveis para o longo prazo.
O montante aplicado na operação pode ser arrecadado de diversas maneiras, dentre elas com (i) ganhos de excedentes fiscais ou da (ii) balança de pagamentos, (iii) lucro de estatais, (iv) reservas internacionais, assim como (v) prêmios com arrecadação de royalties. Normalmente, os fundos soberanos do Oriente Médio e Noruega usufruem dos ganhos com royalties para sua reserva.
Historicamente, muitos fundos soberanos foram constituídos em cenários de entrada relevante de receita fiscal em uma economia, o que levou a formação desse investimento pelos governos. Ao olhar para um horizonte mais recente, dados da Sovereign Wealth Fund Institute (SWFI) mostram que desde 2005 mais de 40 fundos soberanos foram criados em diversos países.
Nesse sentido, a finalidade desse movimento é diversa, tendo em vista que cada fundo possui sua própria individualidade. No entanto, dentre os objetivos mais comuns, têm-se:
- Proteção: o montante investido pode auxiliar a economia e a balança do país em cenários de alta volatilidade. Ademais, pode ser uma ferramenta para diversificação de commodities não-renováveis, assim como um auxílio para autoridades monetárias.
- Investimento: o valor aplicado pode ser destinado para o financiamento de atividades para desenvolvimento social e econômico do país, assim como para um crescimento sustentável do capital da economia no longo prazo.
- Estratégia política.
Além disso, esses fundos podem optar por investir indiretamente em alguma indústria do país, visando impulsionar o seu desenvolvimento.
Classificação
Segundo o SWFI, os fundos soberanos são classificados em cinco categorias, dentre elas:
- Estabilização;
- Poupança ou de futuras gerações;
- Reserva de pensão;
- Investimento de reserva;
- Desenvolvimento estratégico;
E como funciona?
Similarmente a um fundo de investimento, cada Sovereign Wealth Funds (SWF) possui a sua própria individualidade quando se trata de liquidez, tolerância a risco, objetivos e termos. Em vista disso, o desenvolvimento da carteira pelo gestor irá variar conforme as características do fundo, podendo ser constituído de ações, imóveis, títulos e outros ativos.
Dentre as características burocráticas dos fundos soberanos, o primeiro ponto é que os investimentos necessitam pertencer a uma pessoa jurídica de direito público. Em segunda lugar, as suas atividades são isoladas de outras responsabilidades e ativos do governo. Por fim, fica disposto ao fundo realizar aspirações governamentais e uso de recursos para o desenvolvimento do país.
Diferença entre fundo soberano e reservas internacionais
Com o objetivo de servir como um seguro para o país diante de choques e obrigações externas, a reserva internacional equivale a ativos acumulados em moeda estrangeira por um país. Em economias que detém o regime de câmbio flutuante, as reservas recebem mais uma funcionalidade, sendo ela a de amenizar os efeitos das oscilações da moeda local.
Em vista disso, enquanto os fundos soberanos buscam desenvolver uma carteira de investimentos que traga rentabilidade superior, a reserva internacional está direcionada para liquidez e estabilidade cambial. Outro ponto divergente é que os gestores dos fundos possuem a permissão para aplicar em investimentos de classe mais arriscada, visando atingir o seu objetivo e trazer mais rentabilidade a carteira. Já no caso da reserva internacional, o capital será aplicado em títulos de curto prazo ou outros ativos que possuam alta liquidez.
Fundo Soberano do Brasil (FSB)
Criado em 2008, o Fundo Soberano do Brasil (FSB) foi vinculado ao Ministério da Fazenda com o objetivo de mitigar os efeitos dos ciclos econômicos no país. No entanto, ao longo do percurso, pela falta de planejamento, somado a investimentos nocivos e a extração do montante aplicado para o pagamento da dívida pública em 2018, o FSB acabou extinto em 2019.
Top 20 - Maiores Fundos Soberanos do Mundo
Maiores fundos soberanos do mundo
1. Norway Government Pension Fund Global – GPFG
Com primeiro lugar no ranking, o Fundo Soberano da Noruega foi fundado em 1990, com objetivo de garantir a aposentadoria da população, assim como suprir as necessidades do país em um cenário de escassez de petróleo ou esgotamento das reservas. Atualmente o fundo possui quase US$ 1,4 trilhão aplicados, sendo 72,8% dos investimentos em renda variável, no qual esse capital investido é oriundo de uma parcela da receita da extração de petróleo e gás na Noruega.
2. China Investment Corporation – CIC
O China Investment Corporation foi fundado em 2007 em Pequim, com o propósito de diversificar as reservas de moeda estrangeira do governo, bem como obter um rendimento máximo com um risco tolerável. O fundo é divido em três subsidiárias e opera com US$ 1,2 trilhão em sua carteira, tornando-o o maior da China e segundo maior no mundo.
3. Kuwait Investment Authority – KIA
Um dos primeiros fundos soberanos lançados, o KIA foi fundado em 1953 na cidade de Kuwait, com objetivo de obter retorno a longo prazo dos seus ativos aplicados para proteção da população em cenários de esgotamento de suas reservas. Atualmente, o fundo opera com US$ 738 bilhões, o que o torna o terceiro maior do mundo.
4. Abu Dhabi Investment Authority – ADIA
Com o intuito de reinvestir o capital excedente da exploração de petróleo, o ADIA foi fundado em 1976 em Abu Dhabi. Em 2021 obteve o quarto lugar dentre os maiores do mundo, com US$ 698 bilhões investidos.
5.Hong Kong Monetary Authority Investment Portfolio
Em quinto lugar, o fundo soberano de Hong Kong atua desde 1935 no mercado, com o propósito de auxiliar o governo na sua estabilidade financeira. Segundo a SWFI, o fundo detém US$ 586 bilhões na sua carteira.
Últimas notícias
Por fim, como um exemplo das possibilidades de investimentos dos fundos soberanos, relembramos o comunicado da BRF na quinta-feira (13) sobre a criação da Joint Venture com o Public Investment Fund (PIF) na Arábia Saudita.
Curiosidade. Sediado na Arábia Saudita, o Public Investment Fund (PIF) é o oitavo maior fundo soberano do mundo, com cerca de US$ 480 bilhões de ativos sob gestão, segundo dados da SWFI. O fundo foi fundando em 1997 com o propósito de desenvolver a economia do país através do seu apoio financeiro a projetos de crescimento do governo. Atualmente, o PIF já criou 47 empresas, auxiliou no desenvolvimento de 13 setores, bem como implementou mais de 400.000 de vagas de trabalho no país.
A MOU, empresa criada pela JV, vem com o objetivo de desenvolver a cadeia completa de produção de carne de frango no país, por meio do qual a BRF auxiliará com 70% dos U$ 350 milhões destinados para sua construção. Ao longo dos anos a Arábia Saudita sofre com o processo de importação de carnes, principalmente em virtude de suas exigências sanitárias. Desse modo, como o país é um dos maiores consumidores da carne de frango brasileira, o desenvolvimento da MOU auxiliará a Arábia Saudita no fornecimento dessa proteína, ao mesmo tempo que fortalecerá as operações do segmento Halal da BRF.
Você sabe o que é uma Joint Venture? Se quiser entender mais sobre o assunto, fizemos outro Inter Dica explicando no link ao lado. (Acesse o relatório aqui).