Uma frase que ficou bem famosa e exemplifica, na prática, os conceitos do ESG é: who cares wins, ou quem se importa ganha. O termo foi cunhado pela Secretaria Geral da ONU, em parceria com o governo suíço, em 2004, dando base para diversos relatórios fundamentados em ações práticas e iniciativas visando o alcance de metas na esfera global de sustentabilidade. As empresas, hoje, têm cada vez mais se preocupado com crescimento sustentável a longo prazo, respeitando os aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa.
Neste Inter Dica abordaremos, no que diz respeito ao G, sobre os Conflitos de Agência. Para entender tal ponto, voltamos ao relacionamento de agência, que nada mais é do que a interação entre acionistas e administradores. Nem sempre os interesses dos primeiros estão estritamente alinhados com o dos segundos, nascendo então o conflito de agência.
Unindo conceitos dos dois parágrafos anteriores, os administradores deveriam se preocupar com a maximização do valor da empresa de forma sustentável a longo prazo. Entretanto, divergentemente, a gestão geralmente é remunerada pela produtividade, abrindo espaço para que o gestor opte por entregas de curto prazo, visando incrementar sua remuneração, mas que não necessariamente seja a melhor opção para geração de valor no longo prazo. Quanto este tipo de situação ocorre, temos então o conflito de agência.
Um caso que ficou famoso em âmbito nacional foi o da IRB Brasil (IRBR3), uma das maiores resseguradoras do país. Assim como em outras companhias, parte dos executivos, leia-se também tomadores de decisão, era remunerada pelo desempenho da ação. Quanto mais ela subia, mais bônus eles ganhavam. Certamente, impulsionar os resultados de curto prazo em detrimento dos de longo acabou se tornando um incentivo. Após questionamentos, foram constatadas fraudes contábeis – muitas delas até hoje julgadas pela CVM – com o intuito de inflar os resultados operacionais, garantindo a boa performance da ação e, consequentemente, maiores bônus.
Quando foi descoberto o desalinhamento entre gestão e acionistas, bem como todas as irregularidades contábeis, o valor de mercado da empresa sofreu forte pressão, derrubando a cotação da ação. Mesmo com as mudanças e novos direcionamentos da gestão atual, a quebra de confiança na companhia torna difícil a recuperação do papel.
Este foi um exemplo de inúmeros que podem e acontecem recorrentemente. Contudo, com a evolução das cobranças dos stakeholders para com as companhias, temos vistos cada vez mais ferramentas e adoção de boas práticas no meio corporativo que visam mitigar o conflito de interesses. Membros independentes no Conselho, ou seja, aqueles que não têm ligação direta com a empresa e ajudam nas tomadas de decisão, alinhamento da gestão com acionistas, maior transparência nos planejamentos de curto e longo prazo, bem como maior presença dos acionistas, principalmente nas assembleias e reuniões extraordinárias, são alguns exemplos do que temos visto neste campo.
Ressaltamos, porém, que apesar da evolução, o conflito de agência ainda é um dos principais pontos de atenção no que tange Governança das companhias. Acompanhar e cobrar uma postura mais responsável, que vise a geração de valor e crescimento sustentável é papel não apenas dos acionistas, mas também de todos os demais stakeholders.
Gostou? Fique ligado para mais dicas!