Análise


Ibovespa: Revisão de Preço-Alvo

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Matheus Amaral

Publicado 29/abr5 min de leitura

Ibovespa: Revisão de Preço-Alvo

What’s going on, Brazil?

Após o rally de fim de ano marcado pela forte entrada do investidor estrangeiro na bolsa brasileira, 2024 tinha tudo para iniciar com o o pé direito, com nossos juros por aqui seguindo o ciclo de queda, a inflação próxima da meta e o investidor estrangeiro, que estava acompanhando o CPI americano desacelerar, já estava apostando até mesmo em um corte de juros em março e já voltava a olhar o Brasil como uma alternativa de investimentos mais atrativa.

Mas o que houve de errado em 2024? O Ibovespa cai cerca de 6% no ano, enquanto bolsas nos Estados Unidos batem recordes, ignorando os juros elevados e ajustes de expectativas constantes a cada dado do CPI acima do esperado. Outros mercados como o japonês, argentino e indiano se destacam positivamente. Mas por aqui, estamos acompanhando em uma correlação inversa o juro americano.

Por fim, no final do ano passado havíamos revisado a nossa projeção para o Ibovespa neste relatório que você pode conferir aqui e tínhamos uma expectativa de 142 mil pontos para o Ibovespa em 2024, considerando as expectativas de lucros das companhias para o ano e um múltiplo justo de cerca de 9x. Neste relatório traremos nossa perspectiva atualizada e novo preço-alvo para o Ibovespa.

Cenário doméstico não está tão mal, o excesso de ruído que atrapalha

Em cenários passados, a fuga do investidor estrangeiro era, em boa parte, atrelada a um cenário mais incerto por aqui, seja por risco fiscal, inflação elevada e juro alto, turbulências políticas, cenário corporativo fragilizado e até mesmo ambiente regulatório instável, o que embutia no risco Brasil um prêmio exigido elevado pressionando valuations das companhias por aqui.

Algumas dessas incertezas ainda persistem, outras nem tanto, por exemplo: nossa inflação se mostra mais comportada e próxima da meta e, consequentemente, nosso ciclo de juros já se encaminha para taxa de um dígito até o final do ano. A atividade continua surpreendendo positivamente, com destaque agora para o varejo, o emprego e renda que seguem em níveis que não trazem maiores preocupações. Por outro lado, o aumento real da renda pode continuar impulsionando o varejo, trazendo alguma pressão inflacionária no futuro.

Porém, incertezas quanto à ancoragem fiscal, interferências políticas em companhias relevantes para o índice como a Petrobras e a Vale, além de imbróglios políticos vão trazendo mais ruído que o necessário, o que pode contribuir para a falta de apetite do investidor estrangeiro, sem contar uma concorrência pesada contra o juro real brasileiro, segundo maior do mundo, além do juro americano elevado.

As empresas estão fazendo sua parte

Se por um lado, o macro não vai tão mal, porém com muitos ruídos e pressão externa pesando mais, o desempenho do índice poderia estar correspondendo ao fundamento das companhias. Contudo, a bolsa ainda negocia a cerca de 8x lucros esperados, valor abaixo da média histórica, o que indicaria alguma fragilidade nas companhias de modo geral.

O nível de lucro por ação das companhias pertencentes ao índice está acima da média e não temos visto em maioria resultados aquém do esperado. Dado ao ciclo de queda nos juros, o endividamento das empresas também tem reduzido, o que melhora a perspectiva para empresas que estavam com maior peso do endividamento em seus resultados.

Com base no consenso de mercado, 2024 ainda deve trazer um aumento de 13% no resultado das empresas do Ibovespa. Quando saímos do ambiente do índice, a maioria também traz melhores expectativas e destacamos os setores que podem se beneficiar da queda dos juros por aqui, como consumo cíclico e não-cíclico, além da indústria e saúde. Por outro lado, o segmento imobiliário ainda segue com perspectivas reduzidas, mas traz revisões positivas a cada trimestre, como veremos a seguir nas revisões de estimativas para o ano.

Apesar de lucros em alta, ajuste de expectativas tem ocorrido a cada trimestre

Um fator importante para entendermos o desempenho mais fraco do índice, além dos fatores macroeconômicos que sobrepõem os resultados das companhias, é que eles também acabam afetando o sentimento do investidor, bem como suas perspectivas a cada resultado.

Se observarmos as projeções de lucro dos setores em geral na bolsa, em sua maioria houve um leve declínio das expectativas contra elas mesmas quando comparados aos 12 meses anteriores. O único setor que melhorou em termos de perspectivas foi o imobiliário, que vem de lucros em 2024 vs. 2023 ainda em queda. Os demais setores, onde o mercado espera um desempenho positivo no ano, seguem com estimativas em tendência estável ou de redução na comparação ano contra ano. Setores relevantes como Commodities e Financeiro, por exemplo, não passaram por forte ajuste de estimativas, caindo apenas ambos 1% nos últimos 12 meses.

Ressaltamos que, como já explicado anteriormente, as expectativas para 2024 ainda são de aumento dos lucros, por mais que o mercado ainda esteja revisando o cenário a cada trimestre.

Nossa projeção para o Ibovespa em 2024

Dado que as estimativas de lucro para 2024 ainda são de alta nos lucros, ou seja, um crescimento de 12% em 2024 versus 2023, nossa estimativa segue positiva com a bolsa brasileira. Mas como vimos, o sentimento do mercado tem alterado gradativamente as projeções, o que vale sempre ficarmos de olho na dinâmica macroeconômica seja externa ou doméstica.

Tudo considerado, revisitamos nossa expectativa para o Ibovespa, mantendo nosso múltiplo justo de 9x lucros, que ainda é um múltiplo considerado conservador, o qual embute um desconto para a bolsa brasileira, considerando todo o cenário e apetite do investidor estrangeiro reduzido. Nosso múltiplo também é uma vez a mais do que o mercado precifica hoje, levando em consideração sua média dos últimos 10 anos que está em quase 11x lucros, ainda estamos na banda inferior e sendo cautelosos, seguindo o ritmo do mercado.

Com lucros revisitados estimados pelo consenso de mercado, nosso preço-alvo para o Ibovespa em 2024 é de 144.000 pontos, o que ainda é próximo do que estimávamos em nossa última revisão ao final do ano passado, trazendo um upside de 16% versus o preço atual do Ibovespa.

Onde estão as oportunidades?

Em sua maioria os setores da bolsa se mostram descontados frente à sua média histórica. Contudo, ao avaliar as perspectivas de crescimento nos lucros para 2024, poucos setores – porém alguns relevantes – se mostram ou estagnados ou em queda, caso de commodities e imobiliário.

Em forte crescimento, mas com uma base comparativa um pouco mais fragilizada, o que pode não ser uma evidência de maior oportunidade, se mostram os setores de consumo que tendem a recuperar resultados neste ano com o menor endividamento e uma recuperação da atividade.

Na média de crescimento esperado nos lucros para o ano, os setores industrial, financeiro, utilities e até alguns com menor crescimento como Telecom, aparentam trazer boas oportunidades, dado que são segmentos que trazem maior resiliência ante às condições macroeconômicas atuais.

Alguns casos discrepantes como o de Saúde e Consumo Cíclico parecem estar enfrentando desafios internos, como sinistralidade no caso de saúde, competição no varejo, mas também o endividamento, e valuations mais racionais no momento devido ao juro elevado.

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