O petróleo no mundo, um tema aprofundo.
O cenário ainda é de incertezas para as dinâmicas globais de oferta e demanda de petróleo, com grandes questões quanto à oferta de óleo e refinados, a qual foi agravada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, bem como pelos desdobramentos do Covid-19, além de uma agenda ESG que direciona os investimentos para energias consideradas mais limpas. Ainda, no campo macroeconômico, o processo de reabertura econômica na China, juntamente com uma possível recessão no mercado americano tem adicionado novos fatores à já difícil leitura para o mercado de Óleo&Gás. Apesar das incertezas, temos visto o preço do barril de petróleo oscilando entre US$ 70-80, resultado também de uma projeção de demanda moderada e oferta limitada. Em nossas projeções, reafirmamos nossas expectativas de US$ 80/barril para 2023, US$ 75 em 2024 e com uma cotação final em US$ 65 a partir de 2026.
No cenário externo, do lado da demanda temos observado as incertezas quanto ao crescimento econômico global diante de políticas monetárias restritivas, em especial em grandes economias como Europa e Estados Unidos, limitando as projeções de consumo de combustíveis. Por outro lado, as expectativas por maiores estímulos que dêem tração à recuperação do PIB chinês têm funcionado como um catalizador para a demanda, além de importante balizador de preços, o que fez com que a OPEP+ revisasse para cima as projeções de demanda global de petróleo para 2023 em junho, para 102 mm barris ao dia. Pelo lado da oferta, entretanto, a organização prevê corte em sua produção, em razão da menor oferta advinda da Arábia Saudita, o que poderia implicar em redução do atual nível de estoques globais, deixando as dinâmicas de oferta e demanda ainda mais apertadas.
Aqui no Brasil, os recentes avanços na agenda política têm se traduzido em maior otimismo e melhora das projeções de inflação e PIB para este e o próximo ano (veja aqui nosso relatório de projeções macroeconômicas). Além disso, as apostas de início de corte nos juros a partir de agosto adicionam mais um elemento positivo à demanda interna. A dúvida que segue é com relação à resposta da Petrobras quanto às oscilações de preços do petróleo nos mercados internacionais diante de sua nova política de preços recém-anunciada (veja nosso comentário aqui) e o quanto isso poderá afetar o desempenho das demais empresas do setor.
No que tange as companhias de nosso universo de cobertura, mantemos a recomendação neutra para Petrobras (PETR4), uma vez que, dentre os três pilares que sustentavam nossa recomendação de compra – política de preços de combustíveis, alocação eficiente de capital e foco no pré-sal – os dois primeiros estão, em nossa opinião, bem fragilizados. Para nós, Prio (PRIO3), torna-se a melhor escolha. A empresa elevou suas reservas de petróleo, seja pela evolução de seus investimentos, seja pelo crescimento de base, com destaque para aquisição de Albacora, transformacional para a empresa. Já 3R (RRR3) passa por momentos mais complexos em termos de resultados operacionais, os quais devem ser revertidos ao longo deste e do próximo ano. Já PetroReconcavo (RECV3) apresentou um relatório de certificação de reservas abaixo das expectativas, com incremento do capex, o que pressionou sua tese, contudo a empresa segue apresentando resultados sólidos, sendo uma boa oportunidade de investimento, em nossa opinião.
Qual é o equilíbrio?
Uma das perguntas de 1 milhão de dólares a serem respondidas no mercado de O&G é se o atual patamar é o novo normal ou se o mercado ainda se encontra em desequilíbrio. Os gargalos de oferta derivado da pandemia, o conflito entre Rússia e Ucrânia, a diminuição do Capex e uma agenda ESG mais ativa migrando os investimentos a outras fontes de energia têm tido impactos relevantes no setor, mas são temporários ou permanentes?
Nos Estados Unidos, o consumo segue forte para todos os derivados. A gasolina é a maior parte do consumo americano, com quase 10 milhões barris dia, seguida pelo diesel com cerca de 4,5 milhões barris consumidos dia, ambos ainda em patamar forte, comparado aos anos anteriores.
Contudo, é na oferta que surgem os questionamentos. Apesar da autossuficiência na produção de óleo bruto, esperava-se um patamar de produção de 15-20 milhões barris de óleo dia, mas este nível tem oscilado em torno de 12 milhões/dia. Embora não minimize a grande revolução que o óleo xisto proporcionou, quase triplicando a produção, frustra algumas expectativas.
Já no refino, existem três pontos importantes. O primeiro é a quantidade nominal refinada que ainda continua no mesmo ritmo pré-pandêmico, bem forte. O segundo e terceiro são bem interligados: capacidade de refino e o crack spread (margem das refinarias). A capacidade estava em declínio acentuado, mas reverteu a tendência e apresentou expansão nos últimos dados divulgados, o que pode contribuir para queda do crack spread, o qual segue elevado ante a média histórica.
Por fim, o último grande destaque no mercado norte-americano são os estoques. As reservas especiais, regidas pelo governo norte-americano, estão em seus menores níveis. Com a exclusão da Rússia em vários níveis da cadeia global de O&G, os Estados Unidos precisaram utilizar de suas reservas para compor a oferta, o que acabou segurando os preços. Entretanto, espera-se que em um futuro breve o país passe por processo de recomposição destes estoques, o que, em caso de maior demanda, poderia afetar os preços nos mercados internacionais.
Em termos de consumo, a China é o maior importador de petróleo do mundo. Entretanto, o país vivenciava severas restrições impostas pelo governo como medidas de segurança contra o covid-19, o que limitou seu desempenho econômico nos últimos anos. Havia grandes expectativas ante à reabertura e diminuição das restrições, que se desdobrariam em um melhor desempenho econômico em diversos níveis, mas os números acabaram frustrando parte do mercado, gerando bastante volatilidade nos preços das commodities, inclusive do petróleo. No entanto, ressaltamos uma recuperação forte nos últimos dados divulgados, o que pode ser resultado do período sazonal mais favorável, com o verão no hemisfério norte, ou mesmo um reflexo dos recentes estímulos apresentados pelo governo chinês a diferentes setores da economia, como o automotivo. Além disso, o fim das restrições significa o aumento da mobilidade e volta de algumas refinarias, o que naturalmente se traduz em retomada do consumo.
Já em termos de produção, a Opec é o maior grupo produtor do mundo. Em suas últimas comunicações, a sinalização é de cortes na produção, sendo números inclusive abaixo do que era produzido em 2020, com menos de 30 milhões de barris/dia atualmente. O grupo tem pressionado a oferta para baixo, alinhado com as expectativas de menor demanda por conta do cenário de desaceleração global, contribuindo para manutenção dos preços no atual patamar de US$ 75/80 barril.
E o Brasil, como fica?
A produção de O&G no Brasil tem aumentado consideravelmente. Tanto a Petrobras tem avançado no pré-sal, quando as juniors tem evoluído em seus campos, expandindo a oferta nacional de óleo bruto. Acreditamos que existe ainda elevado potencial para a oferta no país, com destaque à Margem Equatorial como a “nova joia” da Petro, bem como as entregas previstas para as demais companhias no setor.
Entretanto, na parte de preços, principalmente de derivados, residem as maiores incertezas. A nova gestão da Petrobras estabeleceu uma nova política de preços de derivados, vide nosso comentário, quem em nossa opinião leva a um equilíbrio de preços mais baixos, com margens menores. Quando fazemos uma comparação ao preço das refinarias da Petrobras ante ao PPI (uma proxy do que deveria ser o equilíbrio), o diesel já apresenta uma defasagem considerável, de cerca de 9%, enquanto para a gasolina a defasagem está em 4,5%.
Petrobras: preço versus valor, o dilema.
Atualizamos o modelo de Petrobras e trazemos um preço-alvo para o fim de 2024 para PETR4 de R$ 49/ação. Entretanto, seguimos com recomendação neutra para o papel. Entendemos que a tese da empresa possui quatro grandes pilares. O primeiro é a política de preços dos combustíveis, a qual tem apresentado questionamentos quanto à defasagem internacional, com leve pressão altista recentemente. O segundo é em relação à produção que tem evoluído, com foco no pré-sal, e onde a rentabilização é consideravelmente elevada.
O terceiro está relacionado aos investimentos da empresa. Notícias sobre reestatização da Vibra Energia, investimentos em offshore eólicas, maiores desembolsos em refino, entre outros, podem não apresentar atratividade econômica, diminuindo o retorno aos acionistas. Por fim, a remuneração dos acionistas, via dividendos, também traz um ponto de atenção. Não pela entrega de resultados da empresa, visto que acreditamos em um potencial DY de 13% para o ano, mas se manterá sua política atual, direcionando boa parte dos recursos via proventos ou se mudará a política de remuneração.
Diante de todos estes fatores e apesar do upside ao nosso preço-alvo vis-à-vis o atual patamar de preços, mantemos a recomendação neutra, com preço alvo em R$ 49/ação, visando o final de 2024.
No que tange os resultados do 2T23, esperamos ainda excelentes números, apesar da forte queda dos níveis recordes de 2022. Mesmo com o arrefecimento do petróleo Brent, a empresa deve evoluir em termos de produção, levando a uma receita de R$ 104 mm, o que deve se desdobrar em um EBITDA de R$ 61 bi, quedas de 19% t/t e 47% a/a. Já para o lucro líquido, esperamos que a companhia reporte R$ 29 bi, recuo de 25% versus o 1T23 (-48% a/a).
Prio: a melhor escolha.
Em nossa opinião, Prio ainda é a melhor escolha para se expor ao setor de O&G no Brasil. Apesar de sua vertiginosa ascensão em termos de produção, resultados, campos, projetos e, por consequência, no preço de suas ações, entendemos que ainda existe espaço.
A aquisição de Albacora já vem alavancando a produção, sendo transformacional para a empresa, e agora cabe a evolução orgânica, aplicando o modus operandi da companhia e revitalizando o campo, alavancado ainda mais a capacidade operacional, devendo alcançar mais de 90 mil barris de produção em 2023 e chegando a um pico de quase 180 mil barris dia em 2027. Vale destacar também que em seu último relatório de certificação de reservas os números foram acima das expectativas de mercado, o que reforça as boas projeções de crescimento, e a custos rentáveis.
Diante disto, mantemos nossa recomendação de compra para Prio (PRIO3), com preço-alvo em R$ 55/ação, visando o final de 2024.
Já para o trimestre, a empresa deve recuperar os números apresentados no trimestre anterior, visto que a empresa optou pela não-comercialização de seus barris por não ter encontrado negócios atrativos. Assim, o 2T23 deve apresentar um EBITDA de 1.892 mm, crescimento de 423% t/t e 54% a/a.
3R: vale a aposta.
Por um lado, os resultados operacionais da 3R decepcionaram as expectativas, com os projetos apresentando-se de forma mais tardia, não evoluindo tão rapidamente conforme o esperado, impactando seus números. Por outro, vemos grande potencial de crescimento orgânico. Entendemos que todos os entraves devem ser revertidos ao longo de 2023/24, com a produção crescendo de forma vertiginosa, com destaque para Papa Terra, além de observarmos maior diluição do custo de extração e demais, contribuindo para melhores margens.
Assim, levando em conta o cenário benéfico para o setor, mantemos nossa recomendação de compra para 3R (RRRP3), com preço-alvo em R$ 68/ação, visando agora o final de 2024.
O 2T23 deve apresentar um EBITDA forte, na casa dos R$ 242 mm, crescimento de 140% t/t e 18% a/a. A empresa teve algumas dificuldades em seus projetos, como já mencionado, provavelmente já solucionados, e a integração de Papa Terra deve contribuir para evolução dos resultados.
Petroreconcavo: poço de oportunidade.
devido o seu mix de portfólio, o que lhe proporciona perenidade e estabilidade em termos de resultados operacionais. Além disso, a companhia conta com ativos de qualidade, dos quais conseguiu extrair grande valor ao longo dos últimos anos.
Entretanto, em seu último relatório de certificação de reservas, os números reportados foram bem abaixo das expectativas, com um incremento substancial do capex, alongando na curva de produção, apesar da evolução em termos de reservas totais. Com isso, vimos os papéis da companhia sofrerem nos últimos meses de maneira exagerada, em nossa opinião, visto que entendemos que a empresa deve continuar gerando bons números ao longo dos próximos anos.
Mantemos nossa recomendação de compra para PetroReconcavo (RECV3), com preço-alvo em R$ 32/ação visando agora o final de 2024.
No que tange os resultados do 2T23, a empresa deve entregar uma receita de R$ 726 mm, com leve avanço ante o 1T23 e 5% maior que o mesmo período do ano passado. Esperamos também um EBITDA de R$ 353 mm, crescimento de 5% t/t, mas queda de 7% a/a.