Macroeconomia


Real Estate | Julho 2024

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Luana Bretas

Publicado 01/ago5 min de leitura

Resumo

Mercado imobiliário brasileiro segue aquecido e preços em alta. As construções vem sendo impulsionadas pelo programa Minha Casa Minha Vida, resultando em recorde de vendas no primeiro semestre pelas empresas listadas na bolsa que atuam nesse segmento. A confiança no setor de construção iniciou o segundo semestre com boas perspectivas para a demanda, mas ainda abalada com o aumento dos custos, especialmente o de mão de obra, e a elevada carga tributária. Nos EUA, os preços de imóveis em alta e taxas de hipoteca elevadas ainda afastam potenciais compradores que aguardam por um alívio com a tão esperada queda dos juros por lá, o que tem levado a um acúmulo de estoque em listagens no mercado.

Preços imobiliários em alta no Brasil

O índice FipeZap teve alta de 0,61% em junho, menor que a do mês anterior, mas acelerando no acumulado em 12 meses para6,17%. O IGMI-R cresceu 0,85% no mês, também avançando no acumulado em 12 meses para 11,65%. Ambos os índices refletem a resiliência dos preços do mercado imobiliário, com crescimento acima da inflação de junho que em 12 meses registrou variação de 4,22% pelo IPCA e 3,77% pelo INCC. O metro quadrado dos imóveis residenciais ultrapassou R$ 9 mil, aumento de 2,16% acima da inflação em 12 meses, enquanto os comerciais têm perda real de 4%, caindo para R$ 8,4 mil em junho.

Os aluguéis também subiram em junho, com variação de 1,43% do índice FipeZap e 0,61% do IVAR, e no semestre acumulam respectiva alta de 8,02% e 9,73%. Comparativamente, o IGP-M acumula 1,10% no ano e o IPCA, 2,48%. A rentabilidade anual do aluguel avançou para 5,94% para imóveis residenciais e 6,54% para os comerciais.

Elevação dos custos com construção e impulso do setor pelo MCMV

O INCC subiu 0,69% em julho, uma desaceleração frente ao mês anterior mas acima da expectativa de 0,58%. O crescimento no ano é de 3,34%, 1,1 p.p. acima do observado no mesmo período do ano anterior. O índice mostra uma tendência de alta, com a média móvel de 3 meses crescendo a 0,7% e o dado acumulado em 12 meses passando de 3,77% para 4,4%.

O resultado no mês veio com aceleração do grupo de materiais, equipamentos e serviços, de 0,46% em junho para 0,58%, influenciada pela alta de materiais para estrutura e de projetos. Já mão de obra teve sua primeira desaceleração desde fevereiro, variando 0,85% ante 1,6% em junho, o que representa certo alívio após fortes altas dos últimos meses que foram influenciadas pelos reajustes salariais e dissídios somado à dificuldade de se encontrar trabalhadores qualificados para o setor, em um cenário de demanda para construção aquecida.

O impulso do Minha Casa Minha Vida no setor de construção e incorporação resultou em recorde de vendas no 2º trimestre do ano pelas empresas listadas na bolsa que atuam nesse segmento. De acordo com o indicador ABRAINC-Fipe, mais de 179 mil novos imóveis foram vendidos nos últimos 12 meses até abril, sendo 72% do programa MCMV, que teve aumento de 57% nas vendas. Os imóveis de médio e alto padrão recuaram na margem e os outros empreendimentos aceleraram em 73,1% nas vendas no período de abril de 2023 a abril de 2024. Os lançamentos, no entanto, foram menores, resultando em recuo de 3% na oferta total de imóveis. Em 12 meses, houve uma alta real de quase 50% no valor de vendas e 25% no valor de lançamentos.

A confiança para a construção iniciou o segundo semestre com boas perspectivas para a demanda, mas ainda abalada com o aumento dos custos do setor, especialmente o de mão de obra, e a elevada carga tributária. O sustento da demanda se deve principalmente ao bom desempenho do mercado de trabalho, especialmente o setor formal. Já a preocupação referente à carga tributária segue em discussão diante da proposta na reforma tributária de aumento da alíquota para operações de compra e venda que deverá aumentar o valor dos imóveis.

Melhora do crédito Imobiliário

As concessões de crédito imobiliário à pessoa física tiveram novo avanço de 3% em junho, na série com ajuste sazonal, acumulando alta de 11,5% em 12 meses. No ano, as concessões ultrapassam R$ 108 bilhões, aumento real de 18% em relação ao primeiro semestre do ano anterior.

O saldo da poupança apresentou nova melhora em junho, crescendo 1,3% acima da inflação e com tendência de recuperação, refletindo no desempenho de contratações com recursos do SBPE que teve crescimento real de 23,5% nos últimos 12 meses (69,5% para construções e 12,8% para aquisições), representando alta de 16,5% em unidades financiadas no total. O financiamento com poupança alcançou o valor de R$ 82,1 bilhões no primeiro semestre do ano, crescimento real de 2,6% em relação ao primeiro semestre de 2023. Já os financiamentos pelo FGTS atingiram R$ 67,2 bilhões no semestre. Em 2023, o fundo obteve um lucro recorde de R$ 23,4 bi, quase atingindo o dobro do valor do ano anterior, e a distribuição ocorrerá até o dia 31 de agosto, ampliando os recursos disponíveis para o financiamento habitacional pelo MCMV.

O mercado de capitais tem tido participação cada vez mais relevante na oferta de crédito imobiliário. No primeiro semestre do ano o financiamento somou mais de R$ 300 bilhões, alta de 16% comparado aos R$ 270 bilhões do primeiro semestre de 2023. As LCI são o 3º maior instrumento de captação do mercado, com mais de R$ 100 bilhões de depósitos no semestre, seguidas dos CRI e FII, que tiveram respectivo crescimento de 150% e 240% no semestre, frente ao mesmo período do ano anterior.

IFIX

Oíndice de fundos imobiliários teve alta de 0,6% em julho, recuperando parte das perdas do mês anterior. Os juros elevados no país impactaram o ritmo de crescimento nos últimos 12 meses do índice, que desacelerou para 5,3%. No primeiro semestre do ano, o índice cresceu 1,7%. Comparativamente, o IMA-B teve variação de 0,5% no ano, o CDI 6,1% e o Ibovespa acumula queda de 5,5,%.

Mercado imobiliário fraco nos EUA

Nos EUA, as vendas de casas existentes caíram novamente em junho, -5,3%, bem abaixo das expectativas do mercado de -2,3%, e as vendas de casas novas caíram 0,6% ante expectativa de alta de 2,9%. O índice de vendas pendentes atingiu mínima histórica ao cair 2,1% no mês de maio.

Já as licenças para construção cresceram 3,9% em junho, recuperando parte das 3 últimas quedas consecutivas, puxadas pela alta de 16% de novas licenças para construções multifamily. As construções de casas novas aumentaram 3% em junho, mas a série com ajuste sazonal mostra queda pelo 11º mês consecutivo. O número de unidades que estão em estágio de construção reduziu 1,3% para o segmento single-family e 1,6% para o segmento multifamily.

A oferta de casas novas no mercado está 11,2% maior do que em junho de 2023 e o tempo de escoamento da oferta dado o ritmo de vendas aumentou para 9,3 meses. Para as casas já existentes, esse tempo ultrapassou os quatro meses pela primeira vez desde maio de 2020.

Apesar do aumento da oferta, os preços das casas estão na máxima histórica, o que junto com a taxa de hipoteca elevada vem aumentando o número de desistências de compra, que atingiu 15% do total de contratos, maior valor para o mês de junho. Com isso, aqueles que permanecem no mercado acabam tendo maior poder de barganha e 20% das listagens já tiveram que reduzir seus preços, maior proporção vista até então.

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