Macroeconomia


Inter Strategy | Set.22

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Rafaela Vitória

Publicado 02/set15 min de leitura

Alocação Estratégica e Tese de Investimento

Em agosto os mercados voltaram ao modo risk off, mas o Brasil andou na contramão. Mais um exemplo da importância da diversificação das carteiras e da difícil capacidade de acertar movimentos de curto prazo. Lá fora, continua a preocupação com a inflação, e a necessidade de juros maiores para conte-la teve novo impacto negativo nas bolsas globais. A crise energética na Europa e sinais de desaceleração na China compõe o cenário de incertezas. Aqui no Brasil, destoamos com notícias positivas da economia, com o crescimento maior do PIB e queda da inflação. Os prêmios de juros continuam elevados, mas a expectativa é de redução com cenário mais benigno de inflação. Portanto, vamos aos poucos reduzir nossa posição overweight em IPCA.

Alocação Estratégica Recomendada

Retorno acumulado das carteiras por nível de risco; Os portfólios representam o backtest da atual carteira e desconsideram custos atrelados a administração, custodia, etc.

Cenário Externo

  • Fim do bear market rally

Depois de subir 9% em julho, o S&P500 caiu 4% em agosto. A inflação mais persistente e o Fed mais hawkish trouxe de volta o receio de um ciclo de juros mais longo impactando o desempenho da economia americana e consequentemente o resultado das empresas no próximo ano. A volatilidade continua alta com o Vix em 25 pontos, bem acima do patamar neutro, mais próximo de 15.

Taxa de juros nos EUA segue com bastante volatilidade, mostrando a incerteza no cenário. As taxas de juros voltaram a subir com a mensagem mais dura do presidente do Fed sobre o ciclo de aperto monetária. O título americano de 2 anos bateu a máxima desde 2007 com a taxa chegando em 3,5%, embutindo a expectativa que o Fed suba a FFR até 4% no começo de 2023, mantendo os juros no elevado patamar praticamente ao longo de todo o próximo ano.

Inflação Global e Commodities

  • Inflação volta ao centro das atenções com a alta da energia, principalmente na Europa

A inflação voltou a preocupar os investidores em agosto. Apesar da queda do petróleo de 9% no mês, os custos de energia continuam a subir na Europa. A inflação na zona do Euro atingiu o maior patamar da história em 9,1% em 12 meses em agosto. Tanto o Fed como o ECB devem continuar subindo juros nas próximas reuniões.

O índice CRB fechou praticamente estável no mês de agosto, mas com muita volatilidade e discrepâncias entre as principais commodities. Por exemplo, o gás teve forte alta de 7% no mês, enquanto o petróleo caiu 9%. Commodities metálicas seguem em queda, com a desaceleração da construção na China e uma demanda industrial global menos aquecida. Já os alimentos estão mais estáveis, mas o mercado segue atento aos impactos climáticos da onda de calor no hemisfério norte. Aqui no Brasil, a Conab anunciou a expectativa de uma nova safra recorde em 2023, que pode ter crescimento de até 14%, uma boa notícia para economia brasileira e que pode contribuir para evitar pressões de alta adicional nas comodities agrícolas, principalmente a soja.

Cenário Doméstico

  • No Brasil, PIB em alta e inflação em queda

Os dados macroeconômicos continuam apontando para a melhora na economia. O PIB do 2o trimestre teve alta de 1,2%, e ficou acima da expectativa. O investimento surpreendeu subindo 4,8% no trimestre, puxado pelo bom desempenho da construção. Marcos regulatórios e novas concessões e privatizações contribuem para um cenário favorável para o investimento privado no pais, que também vem se beneficiando do forte crescimento das emissões privadas no mercado de capitais. O setor de serviço mostrou crescimento resiliente e vem contribuindo para a melhora do mercado de trabalho que, em julho, teve nova queda da taxa de desemprego para 9,1% com crescimento da massa salarial, o que deve manter o nível do consumo nos próximos meses. Os índices de confiança de agosto também tiveram alta e devemos ver novas revisões de crescimento para 2022. Nossa revisão preliminar aponta para PIB de 2,6% no ano, com viés de alta.

IPCA cai e Copom deve manter os juros a partir de setembro. Em agosto devemos novamente ver deflação no IPCA, devido à queda dos preços da gasolina. Mas, além dos preços monitorados que ainda sofrem o impacto da redução de impostos, a inflação de bens, principalmente de alimentos, dá sinais de arrefecimento. Com isso, esperamos que na reunião do Copom de setembro, a taxa Selic seja mantida em 13,75%.

Renda Fixa

  • Apesar da deflação, títulos do tesouro em IPCA sobem no mês.

A deflação em agosto tem impacto de curto prazo nos títulos, mas a queda das taxas ainda beneficiou os títulos indexados. O IMA-B teve alta de 1,1% em agosto, mesmo com a deflação esperada de 0,35% no mês. Mas os títulos mais longos foram os mais favorecidos com a queda nas taxas ao longo do mês, e o IMA-B 5+ rendeu 2,5% no mês. A diversificação em prazos diferentes também é importante para a carteira.

A curva de juros teve forte fechamento em agosto. Com os sinais de queda da inflação e consolidação da aposta de fim do ciclo de alta da Selic, os juros pré-fixados começaram a cair. O mercado precifica a primeira redução da Selic em março de 2023, mas a queda esperada ainda é bastante modesta perto do possível movimento de afrouxo monetário ao longo do próximo ano, considerando uma expectativa de inflação caindo para abaixo de 5% no ano que vem. O cenário ainda é de incerteza, devido às eleições e propostas de novas politicas fiscais no ano que vem. Portanto, ainda preferimos a alocação em títulos em IPCA mais, com as atuais taxas ainda próximas de 6% mas já iniciamos a redução da alocação overweight na classe.

Bolsa Brasil

  • Destoando dos pares internacionais

O Ibovespa encerrou mais um mês de forte alta, avançando 6,2%, apesar da maior aversão ao risco nos mercados internacionais que se alastrou por todo o mês de agosto, com mercados precificando um FED mais agressivo em seu movimento de aperto monetário.

Internamente, a temporada de balanços do 2T22 mostrou um cenário mais benéfico para as companhias no geral, com recuperação da atividade refletida em melhores números de mercado de trabalho e sinais de inflação já desacelerando no país. O provável fim do ciclo de alta da SELIC, bem como a deflação reportada nos últimos meses impulsionaram os papéis locais, descolando o Ibovespa de seus pares externos

A fala de Jerome Powell em Jackson Hole afirmando que a instituição será incisiva em seu objetivo de controle de custos, mesmo que isso signifique juros mais altos por um período mais longo, levou à piora no humor e setembro inicia em meio à cautela.

Diante disto, vemos setembro mais favorável às companhias voltadas ao consumidor local e mais desafiador às exportadoras, com China também pesando negativamente.

Varejo & Consumo seguem como destaque, juntamente com setor imobiliário

Seguindo o movimento iniciado no mês anterior, vimos as companhias do setor de Varejo & Consumo beneficiadas por um cenário de recuperação de atividade, mercado de trabalho mais aquecido e menores pressões inflacionárias à frente. O ICON, índice que mede o desempenho do setor, avançou cerca de 7% no período. Destaque para as empresas de e-commerce e do setor alimentício.

Mesmo racional foi observado para as companhias no segmento de Construção, que subiram em bloco, beneficiadas por menores pressões de custos medidos pelo INCC, ajudado pela queda expressiva das commodities metálicas nos mercados internacionais e pelo provável fim do ciclo de alta de juros no país.

Mais uma vez, as empresas de commodities tiveram um mês de queda em virtude de um cenário desafiador na China, que lida com novos surtos de covid, desaceleração econ6omica, crise no setor de Real Estate e problemas com fornecimento de energia em razão de uma onda de calor que se alastra pelo país. O IMAT teve desempenho negativo no mês, com as companhias de commodities metálicas pesando, mas amenizado pelas ações das petroleiras, que ainda refletem o bom momento do petróleo no exterior.

Já o IFNC (Financeiro) recuperou as perdas do mês anterior e teve importante avanço, de mais de 10%, com indicadores econômicos favorecendo e compensando receios de maior inadimplência.

Câmbio

  • Dólar forte no mundo, mas real fica estável no mês

Além da bolsa, o real também descolou dos mercados lá fora em agosto e ficou praticamente estável, fechando em R$5,18, frente a uma valorização de 2,6% do dólar em relação à cesta de moedas (DXY). No ano, o real tem valorização acumulada de 7% enquanto o dólar se valorizou 13%, um bom descolamento.

Os fundamentos para o real mais forte em relação aos pares estão na taxa de juros mais elevada aqui no Brasil e do forte resultado da balança comercial, que já acumula superavit de US$44 bilhões até agosto. A melhora geral na economia brasileira, com uma forte taxa de crescimento no 1o semestre e o bom resultado de superavit primário de 2,5% em 12 meses até julho apresentado pelo governo federal, afastam, por hora, o risco fiscal que teve forte impacto no cambio brasileiro ao longo de 2020 e 2021.

Fundos Imobiliários

  • Melhora de dados domésticos garante o rali do segmento de tijolos

O IFIX registrou em Agosto sólida alta 5,8%. Dessa vez, o índice foi sustentado unicamente pelo segmento de tijolo, que vivenciou um verdadeiro rali ao obter ganhos de 11,1% no mês. Enquanto isso, o segmento de papel reportou leve queda de -0,3%.

Alheio à volatilidade observada nos mercados globais, grande parte deste movimento é explicado pela melhora da conjuntura doméstica. Primeiramente, os sinais de arrefecimento da inflação reforçaram as expectativas de fim do atual ciclo contracionista de juros que, consequentemente, contribuíram para redirecionamento de expectativas junto aos ativos reais de tijolo, ao passo que a deflação de curto prazo trouxe queda de rentabilidade dentro do mercado de recebíveis.

Além disso, revisões positivas do PIB brasileiro, em grande parte sustentado pela recuperação acima do esperado de serviços, trouxeram um ânimo adicional dentro do real estate e, com isso, reforçou seu movimento altista.

Apesar do menor desconto frente o valor patrimonial, a expectativa de queda da Selic em 2023 e a recuperação gradual dos aluguéis devem sustentar a tendência de alta do IFIX nos próximos meses.

Fundos Multimercado

  • Multimercados em alta no mês de agosto

Com o mercado mais volátil, os gestores de fundos multimercado conseguem identificar mais assimetrias e assim alocar melhor o capital disponível. Nossa recomendação de alocação estratégica nessa classe visa resultados dos fundos são mais aparentes, entregando mais retorno ao investidor. Além disso, com uma possível retomada da bolsa muitos fundos conseguem se beneficiar deste movimento mais tático, como ocorreu no mês de agosto.

Mesmo com a boa performance da classe em geral os investidores ainda estão receosos e a captação no ano continua negativa em R$77 bilhões. Alguns destaques da classe multimercado: Asa Hedge FIC FIM (436,51% do CDI), Absolute Vertex FIC FIM (323,36% do CDI), Ibiuna Hedge STH FIC FIM (317,19% do CDI)


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