Setembro foi mês de forte queda lá fora, mas às vésperas da eleição, mercados brasileiros foram mais resilientes
A diversificação das carteiras continuou beneficiando o investidor com a performance da renda fixa em alta, tanto pelo CDI, que rende 1,1% ao mês, como pelo IMAB em 1,5%. Lá fora, a preocupação com a alta dos juros derrubou as bolsas no mês, mas o Ibovespa teve leve alta de 0,5%. Os prêmios de juros continuam elevados aqui no Brasil e, como vimos no início de outubro, o resultado do primeiro turno das eleições trouxe certo alívio nos mercados. A incerteza e volatilidade ainda devem permanecer e manter a carteira diversificada é a melhor opção de investimento no atual cenário.
Alocação Estratégica Recomendada
Retorno acumulado das carteiras por nível de risco; Os portfólios representam o backtest da atual carteira e desconsideram custos atrelados a administração, custodia, etc.
Cenário Externo
- S&P500 cai 9% em setembro
A bolsa americana teve forte realização no mês e acumula queda de 23% em 2022. O receio de uma recessão mais forte, causada pela elevação dos juros mais tempestiva pelo Fed, é a principal preocupação dos investidores. O índice de volatilidade voltou a subir, indicando elevada incerteza no cenário.
A incerteza no cenário global também leva em consideração a crise enérgica na Europa e a desaceleração na China. O índice CRB teve nova queda de 7% em setembro e reflete uma expectativa de menor crescimento global com os riscos geopolíticos atuais. Com a desaceleração da construção na China, o banco mundial reduziu a expectativa de crescimento da economia chinesa de 4,1% para 2,8% em 2022. Na Europa, o ECB também revisou expectativas para 2023 para 0,9% para o crescimento do PIB com inflação ainda elevada em 5,5% na região.
- Renda fixa nos EUA também sofre perdas
A elevação dos juros no mercado americano de renda fixa também foi destaque em setembro. A curva de juros teve forte alta e a taxa de 10 anos chegou a 4% no mês, e fechou próximo de 3,8%. Em relação ao inicio do ano, a taxa subiu mais de 200 bps e essa alta deve encarecer o custo de capital das empresas e não só impactar a expectativa de lucros futuros, mas também reduzir a alocação de capital em ativos de maior risco.
O impacto da elevação dos juros dos títulos do tesouro também foi sentido nos portfólios de renda fixa corporativa. O índice de títulos high yield de empresas americanas teve nova queda de 4% em setembro. No ano, a classe de ativos acumula baixa de 15%. Além da alta dos juros, que reduz o valor presente dos títulos, o aumento da aversão a risco também impacta os spreads de crédito. O spread médio de crédito corporativo nos EUA está em 5,6%, bem acima da média de 4% dos últimos 5 anos.
Cenário Doméstico
- Brasil descola do cenário externo
Apesar do mês de setembro negativo no cenário externo, aqui no Brasil o mercado acompanhou a elevada volatilidade, mas não a realização. Os dados macroeconômicos domésticos seguem mais positivos, principalmente a queda mais rápida da inflação. O IPCA-15 e o IGPM mostraram deflação maior que o esperado e as revisões de expectativa para baixo continuam. O próprio BC revisou seu cenário de IPCA para 2022 para 5,8% e vemos risco de baixa tanto para 2022 como 2023. Dados de atividade continuam mostrando crescimento no trimestre, ainda que em menor ritmo, e o resultado fiscal acumulado até agosto mostrou superávit ainda significativo no ano, com nova redução da dívida/PIB para 77,5%. O mercado de trabalho continua surpreendendo com forte geração de empregos e nova queda da taxa de desocupação, para 8,9%, menor patamar desde 2015.
O inicio de outubro segue fortalecendo essa visão, reforçada pela redução do risco eleitoral com o resultado do primeiro turno mostrando uma disputa mais acirrada e um congresso mais de centro-direita. O começo do mês é marcado por forte alta nas bolsas e queda dos juros, com alívio no risco de que políticas de maior expansão de gastos em 2023 serão mais difíceis de serem aprovadas no congresso, e o atual arcabouço fiscal com o teto de gastos deve ser mantido, ainda que como alguma flexibilização.
Renda Fixa
- Apesar da nova deflação, títulos do tesouro em IPCA sobem no mês.
Novamente tivemos deflação em setembro, o terceiro mês consecutivo. O IMA-B teve alta de 1,5% em setembro, mesmo com a deflação esperada de 0,3% no mês. Novamente, os títulos mais longos foram os mais favorecidos com a queda nas taxas ao longo do mês, e o IMA-B 5+ rendeu 2,3% no mês. A diversificação em prazos diferentes também é importante para a carteira.
A curva de juros teve novo fechamento em setembro. Com renovada expectativa de queda da inflação e a manutenção da Selic pelo Copom em 13,75%, ficou consolidada a expetativa de fim de ciclo. Com isso, a curva de juros teve queda média de 50 bps, nos vértices médios e longos.
Nosso cenário base permanece com Selic com 13,75% até o primeiro trimestre de 2023, com a queda de juros podendo iniciar entre março e maio de 2023, com a convergência mais clara da inflação para a meta. O cenário ainda é de incerteza, devido as propostas de novas políticas fiscais no ano que vem. Portanto, ainda preferimos a alocação em títulos em IPCA, com as atuais taxas ainda próximas de 5,7%.
Bolsa Brasil
- Mais um mês destoando dos pares internacionais e outubro tempera a volatilidade após 1º turno
O Ibovespa encerrou setembro com alta de 0,47%, enquanto os mercados internacionais mantiveram a onda de aversão ao risco do mês anterior e encerraram não só o mês, mas o 3T em queda no ano, algo que não ocorria desde 2009, acompanhando o aumento dos juros em 75 bps pelo Fed e um comunicado mais hawkish.
Além da expectativa pelas eleições, o mercado seguiu dando peso aos dados macroeconômicos, com expectativas de acomodação das taxas de juros, o que trouxe benefícios as companhias mais sensíveis ao movimento, favorecendo no mês principalmente as ações do setor de Construção Civil.
Após o resultado do 1º turno das eleições no final de semana, outubro começou com forte alta com sinalizações de um congresso centralizado e de que o próximo governo terá que acenar à políticas econômicas mais em linha com o mercado. As estatais acabaram disparando, principalmente as Estaduais com vitória ou indicação de candidatos favoráveis às privatizações. Com isso, outubro traz uma certeza, volatilidade até o fim do mês com atenções voltadas ao cenário eleitoral.
Construção civil foi o destaque
Com o cenário doméstico em movimento contrário ao exterior, com deflação e acomodação da política monetária, o mercado brasileiro viu ações que costumam apresentar maior sensibilidade ao movimento da taxa de juros se beneficiarem no mês de setembro, caso das companhias de construção civil, tecnologia e varejistas que atuam no e-commerce.
O setor imobiliário foi o destaque de setembro, com o IMOB apresentando retorno de 12,4% no mês, seguindo o movimento dos juros, mas também dados positivos da atividade da construção civil e expectativas de crescimento para 2022 se mantendo, mesmo após o ano recorde de 2021.
O mesmo racional foi observado nas companhias de tecnologia e varejo online, que com o fechamento da curva de juros acabaram apresentando forte alta no mês de agosto, caso de MGLU3, VIIA3 e LWSA3.
As ações do setor financeiro mantiveram o pace e o IFNC computou alta de 3,09% no mês, seguindo um ambiente de juros altos e spreads em alta nos últimos dados de crédito, apesar da inadimplência nos segmentos sem garantia do crédito à pessoa física ainda mostrar deterioração.
Por fim, as commodities mostraram desempenho misto em setembro, com a Vale liderando a ponta positiva, valorizando cerca de 11%, versus a Petrobras que caiu cerca de 10% no período. Na Vale, o mercado avaliou positivamente o plano de reorganização da área de metais básicos, já na Petrobras, expectativas negativas vieram de falas sobre intervenção na política de preços da companhia.
Câmbio
- Dólar tem mais um mês de alta
O dólar teve nova alta em setembro e acumula ganho de 17% em relação à cesta de moedas (DXY). Com o Fed mais hawkish e expectativa de juros maiores nos EUA, a moeda americana continua a tendência de valorização no mês, o quarto consecutivo, com alta de 3,1%. No ano, o dólar tem valorização de 14% em relação ao Euro, 20% ao Yen e 17% à Libra Esterlina.
O real também se desvalorizou frente ao dólar em setembro. O real fechou o mês em R$5,41, desvalorizando cerca de 4% no mês. Mas o forte movimento pós eleições já reverteu a alta e o real volta a acumular 7% de alta no ano, se destacando entre os pares. A Selic mais elevada e a balança comercial robusta, que acumula superavit de $48 bilhões até setembro, permanecem como fundamentos.
Fundos Imobiliários
- Segmento segue em recuperação
Durante o mês de Setembro, o IFIX acumulou alta de 0,5%, novamente sustentado pelo bom desemprenho dos fundos ligados a ativos reais, que seguem fechando a defasagem frente o IMA-B. Neste período, o segmento de tijolo registrou ganhos de 1,0%, enquanto os fundos de papel seguiram em consolidação ao oscilarem -0,3%.
Apesar da volatilidade observada nos mercados globais e aproximação das eleições, a conjuntura macroeconômica interna continua a contribuir positivamente para o bom desemprenho dos fundos imobiliários Os dados de inflação reiteram o fim do atual ciclo monetário contracionista e beneficiam na melhor precificação dos ativos ligados ao setor imobiliário.
Além disso, dados positivos de atividade, sobretudo no segmento de serviços, reforçam melhores expectativas do PIB para o biênio 22-23, o que contribuiu os reajustes graduais de aluguel do segmento de tijolo e diminui a defasagem de rendimento frente o segmento de papel.
Apesar do menor desconto frente o valor patrimonial, a expectativa de queda da Selic em 2023 e a evolução gradual dos proventos devem sustentar a tendência de alta do IFIX nos próximos meses.
Fundos Multimercado
- Multimercados em alta no mês de setembro
O Índice de Hedge Funds ANBIMA (IHFA) apresentou uma alta de (+1,2%) no mês de setembro. Com a volatilidade enfrentada pelos fundos de ações no mês de setembro, os multimercados se sobressaíram no período.
Muitos fundos com posições compradas em dólar se beneficiaram da alta de 4% da moeda em setembro. Além disso, posições vendidas em bolsas europeias e vendidas em moedas do velho continente ajudaram na performance.
Alguns destaques do mês para a classe: SPX Raptor Feeder FIC FIM (897,90% do CDI), SPX Nimitz FIC FIM (482,68% do CDI), ACE Capital W FIC FIM (402,61% do CDI), Asa Hedge FIC FIM (375,62% do CDI).