Macroeconomia


Inter Strategy | Nov.22

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Rafaela Vitória

Publicado 01/nov15 min de leitura

Cenário pós eleição ainda tem incertezas, mas também oportunidades. A diversificação das carteiras continuou beneficiando o investidor mesmo após o surpreendente resultado das eleições, tanto para a presidência, como para o congresso e estados. Os ativos brasileiros estavam descontados e a primeira reação do mercado foi uma recuperação após a redução do risco político. O risco fiscal, no entanto, ainda permanece no radar e somente será resolvido com a discussão e aprovação das novas regras, por isso o cenário ainda será de juros mais elevados por mais tempo. O cenário externo também segue desafiador com o ciclo de alta de juros ainda em curso e bolsas com volatilidade acima do normal.

Alocação Estratégica Recomendada

Retorno acumulado das carteiras por nível de risco; Os portfólios representam o backtest da atual carteira e desconsideram custos atrelados a administração, custodia, etc.

Cenário externo

  • Recuperação da bolsa mesmo com expectativa de juros mais altos

Apesar dos juros em alta, o S&P500 recuperou 8% no mês. Os resultados das big techs também não foram animadores, mas o movimento técnico de recuperação das bolsas preponderou. Essa volatilidade em meio a um cenário de elevada incerteza ressalta a importância da diversificação da carteira, sem querer tentar acertar momentos de entrada e saída.

No mercado de renda fixa, a taxa de 10 anos teve alta de 3,83% para 4,05%aa. A taxa chegou ao maior patamar desde 2007. Ao longo do mês, os sinais de inflação mais persistente resultaram na reprecificação das expectativas do mercado para o ciclo de alta de juros pelo Fed, que deve chegar mais próximo de 5% até março de 2023.

O mercado deve seguir atento às próximas mensagens do Fed, com a possibilidade de redução no ritmo de alta em dezembro de 75 bps para 50bps com melhor visibilidade sobre o fim do ciclo. Notícias que confirmam a desaceleração da economia, incluindo o setor imobiliário e o mercado de trabalho, podem também ser bem recebidas pelo mercado, sinalizando a proximidade do fim do ciclo de alta de juros.

  • Ações e renda fixa têm o pior ano desde 1929

O tradicional portfolio 40/60, que consiste em manter 60% dos investimentos alocados em ações e 40% em títulos públicos nos EUA, tem a pior performance desde 1929. Em 2022, tanto o S&P500 quanto os títulos do tesouro americano apresentam retorno negativo em 19% no acumulado do ano ano até outurbo. A ideia por trás desse portfólio explora a tendência de que os retornos das ações são negativamente correlacionados com o retorno dos bonds na maior parte do tempo, o que não ocorreu em 2022.

Em resposta à inflação elevada, o Federal Reserve deu início ao maior ciclo de alta da taxa de juros americana em 41 anos. Essa postura aumentou o risco de recessão e já se observa efeitos negativos no mercado imobiliário. Todas as vezes em que o Fed elevou a taxa de juros acima do seu patamar neutro, a média móvel de 3 meses da taxa de desemprego ficou 0,5 ponto percentual acima do seu menor valor nos 12 meses anteriores, o que é considerado indício de recessão econômica. Com a taxa de juros neutra atualmente estimada em 2,5%, a probabilidade de recessão continua a aumentar. Portanto, a postura do Fed tem elevado o receio de uma recessão entre os investidores, explicando porque o S&P500 já devolveu quase todos os ganhos pós pandemia.

China e commodities

Assim como as bolsas, as comodities tiveram um mês de recuperação, mas em menor magnitude. O índice CRB teve alta de 1,7% em outubro, puxado pelo petróleo que subiu 9% no mês. A redução de oferta pela Opep resultou na recuperação da commodity, mas a demanda global mais fraca com queda nos PMIs industriais deve conter futuras altas das commodities. Ainda assim, a classe acumula valorização de 17% no ano, em cima de ganhos de 38% em 2021, patamares ainda atrativos para os produtores do setor.

A China divulgou o PIB do 3 trimestre que mostrou crescimento de 3,9% com a melhora na mobilidade. No entanto, o setor de construção ainda segue mais fraco, -8% no ano, e as commodities metálicas tiveram nova queda no mês. No ano, o cobre caiu 22,6% e o minério de ferro 28%, voltando para patamares pre-pandemia. A recuperação mais lenta da China, ainda enfrentando restrições pelas medidas da política de covid zero também é fator que deve manter as commodities em patamar mais acomodativo nos próximos meses.

Cenário Doméstico

A eleição foi definida mas a incerteza sobre o cenário econômico deve permanecer até termos mais detalhes sobre como iniciará o próximo governo. Uma vitória apertada e um congresso mais de centro-direita vão trazer desafios para o novo governo eleito. O mercado aguarda a definição de nomes, principalmente para liderar a economia, e como será resolvido o imbróglio do orçamento 2023. A preocupação de curto prazo é com relação aos gastos extra- teto, principalmente para acomodar o Auxílio Brasil. Propostas de despesas acima de R$100 bilhões além do teto podem trazer preocupação com relação à intenção do governo de, de fato, manter a responsabilidade fiscal.

Trajetória de queda da inflação e dos juros. No curto prazo, o cenário permanece benigno com a queda da inflação e superavit fiscal esperado de 1,1% do PIB no ano. O Copom manteve a Selic em 13,75% na reunião de outubro, dando mais ênfase ao risco fiscal e incertezas do cenário externo. Com a indefinição sobre o arcabouço fiscal, a Selic pode permanecer elevada por mais tempo. A inflação continua dando sinais de queda, tanto pela medida de núcleos como pelos índices ao produtor, mostrando a redução de pressões inflacionárias na indústria. No entanto, propostas de novos gastos podem estimular a demanda e manter a inflação mais elevada, exigindo que o aperto monetário seja mais longo.

Renda Fixa

  • Inflação volta para território positivo em outubro.

Após três meses de deflação, a variação do índice de preços voltou a ser positiva em outubro e esperamos IPCA próximo de 0,4% no mês. O IMA-B, no entanto, teve alta de 0,2% em outubro, refletindo leve alta nos juros no mês, principalmente nas taxas mais curtas.

Após as quedas de agosto e setembro, a curva de juros ficou estável em outubro, refletindo maior aversão a risco. O risco fiscal associado ao debate eleitoral voltou a impactar os prêmios nos juros no Brasil. As discussões sobre propostas de gastos para 2023 seguem indefinidas e pressionam os juros. Além disso, o cenário externo de alta de juros também refletiu aqui, com uma piora geral no risco dos títulos dos países emergentes.

Na medida em que tivermos mais clareza sobre as propostas para 2023, os juros podem voltar a cair. Com a inflação em tendência de queda, caso a proposta orçamentária para 2023 não traga surpresa de gastos extraordinários, a perspectiva de queda de juros pode melhorar. Estamos alterando nossa expectativa para o início do ciclo de afrouxamento monetário de março para maio de 2023, esperando que a Selic termine o ano em 10,5%.

A Bolsa em out/22

  • Ibovespa tem alta de 6,4% em outubro

A volatilidade com a campanha eleitoral seguiu firme ao longo de outubro que encerrou em forte alta, de mais de 6%, favorecido pelos resultados das urnas, mas também ajudado pelo cenário internacional, que refletiu um possível posicionamento mais brando do FED na reunião de dezembro, além da temporada de resultados melhor que o esperado.

No cenário doméstico, vimos o mês fechando com forte alta dos setores de Construção Civil e Varejo e Consumo, com investidores apostando em estímulos para estes segmentos com o novo governo. Contudo, as estatais federais sofreram forte pressão negativa, com receios de possíveis interferências na gestão.

Lá fora, a temporada de balanços nos Estados Unidos e na Europa seguiu surpreendendo, em especial o setor financeiro, em contrário ao visto com as Megacaps, que decepcionaram com revisão de guidance para baixo e resultado financeiro pesando nos balanços. Na China, a visão segue ponderada pelas expectativas de arrefecimento da economia, enquanto a política anti-covid segue impactando a recuperação da produção e das atividades no país.

Câmbio

  • Dólar fica estável em relação à cesta de moedas

Após acumular valorização de 17% no ano, o dólar ficou estável em relação à cesta de moedas (DXY). Mesmo o Fed mais hawkish e expectativa de juros maiores nos EUA não alteraram as taxas de cambio entre as principais moedas em outubro. Na Europa, o ECB elevou os juros em 75 bps, e no Reino Unido o novo governo voltou atras em medidas de expansão fiscal, o que equilibrou as demais moedas no mês.

Aqui no Brasil o Real retomou a valorização e teve alta de 4% no mês. O movimento foi fortalecido no ultimo dia do mês, já pós-eleições, com a melhora na visão do investidor estrangeiro sobre a redução do risco político e confirmação do resultado das eleições. Uma consolidação fiscal pode melhorar o cenário atraindo o investidor estrangeiro, que já mostra melhora em 2022, com o ingresso de US$70 bilhões de investimento direto no país até setembro, 4% do PIB, o melhor resultado desde 2013.

Fundos Imobiliários

Durante o mês de Outubro, o IFIX tem oscilação de -0,1%, desta vez puxado pela consolidação do segmento de tijolo e alta dos fundos de papel. No período, os veículos ligados a ativos reais tiveram perda consolidada -0,9%. Por outro lado, uma vez passado o impacto negativo da deflação no curto prazo, os fundos de recebíveis oscilaram +0,9%.

Apesar dos riscos de recessão no mercado externo e desdobramentos eleitorais, o segmento de fundos imobiliários deve continuar a ser beneficiado pela conjuntura macroeconômica positiva, com dados robustos da atividade – sobretudo do setor de serviços –, queda do desemprego e desaceleração da inflação que, por sua vez, endossa um possível afrouxamento monetário no ano seguinte. Com isso, o deverá se beneficiar da melhor precificação por parte do mercado.

Conforme destacado, revisões altistas de crescimento do PIB e queda do desemprego reforçam a tendência positiva dos reajustes graduais de aluguel do segmento de tijolo e diminui sua defasagem em relação ao IMA-B, de forma a estabelecê-lo novamente como importante instrumento de hedge à inflação.

Apesar do menor desconto frente o valor patrimonial, a expectativa de queda da Selic em 2023 e a evolução gradual dos proventos devem sustentar a tendência de alta do IFIX nos próximos meses.

Fundos Multimercado

  • Multimercados em alta no mês de setembro

Os fundos multimercado em geral estão comprados em dólar contra uma cesta de moedas globais. A tese é de que a moeda americana ainda tem espaço para se valorizar contra o euro, pois a Europa lida com a desaceleração e o choque energético no fornecimento de gás da Rússia.

No mês de outubro o índice Ibovespa subiu 5,45% e o índice S&P500®, 9,57%. Com isso, os fundos com posições em bolsa Brasil e posições no exterior foram destaque de performance no mês. Alguns destaques para a classe: Genoa Capital Arpa FIC FIM (427,64% do CDI), Mar Absoluto FIC FIM (396,97% do CDI) e ARX Extra FIC FIM (392,91% do CDI).


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