Principais teses de investimento: diversificação privilegiando a renda fixa
Cenário de incerteza global. A diversificação das carteiras é fundamental para a redução do risco, considerando a atual incerteza no cenário. Internacional. Com a elevação dos juros globais, as bolsas podem continuar voláteis em 2023, mas após a forte queda de 2022, não descartamos a possibilidade de recuperação. As oportunidades também podem surgir com o fim do ciclo de aperto monetário , que deve trazer alívio para os mercados, assim como uma recessão mais branda do que o esperado.
Juros elevado no Brasil. As carteiras tendem a privilegiar a renda fixa em 2023, considerando o elevado prêmio de juros, principalmente nas taxas reais. Apesar da expectativa de queda da inflação no cenário base, o risco de uma expansão fiscal mais forte, bem como a volta de políticas parafiscais, como uso de bancos públicos e estatais, pode manter a inflação de serviços mais pressionada, com o mercado de trabalho próximo de pleno emprego. Nesse cenário, o BC deve manter a Selic elevada por um período mais prolongado que o anteriormente esperado.
Alocação tática e fundos multimercados. A volatilidade do início do novo governo, com medidas que podem ser mais populistas ou mais duras, pode trazer oportunidades de alocação tática e, para tanto, aumentamos a alocação em fundos multimercados, para os clientes moderados e agressivos, que podem melhor se posicionar nos momentos de distorções.
Fundos Imobiliários. Os FIIs tiveram modesta recuperação em 2022, mas ainda foram impactados pela elevação na taxa de juros. Similar ao nosso racional de alocação em títulos indexados a inflação, com yield elevados, os FIIs oferecem proteção contra uma inflação mais persistente no longo prazo, com a vantagem tributária e de liquidez.
Cenário externo
- Sem rally de final de ano, 2022 fecha com a pior performance média entre a renda fixa e a renda variável
O S&P 500, o principal índice de ações nos EUA, teve queda de 6% em dezembro e fechou o ano com retorno negativo de 19,5%, a pior performance anual desde 2008. O ano de 2022 foi bastante atípico, não somente pela forte queda das ações, mas também pela queda da renda fixa. Com a elevação dos juros ao longo do ano,os investimentos em renda fixa também ficaram negativos em cerca de 13%. O tradicional portfolio de Stocks and Bonds, teve seu pior retorno histórico.
A alta de juros marcou o ano de 2022, mas ciclo ainda não se encerrou. Com a elevada inflação, o Fed iniciou o aperto monetário em março de 2022, e as consecutivas altas de juros levaram a taxa ao atual patamar 4,5% (upper bound). O mercado ainda precifica mais 3 altas de 25 bps esse ano, e podemos ver a taxa final cehgando em 5,25% até maio de 2023. Esse restritivo patamar de juros deve resultar em uma desaceleração mais forte da economia americana, com risco de recessão e deve continuar impactando a expectativa de lucro das empresas. 2023 começa com cautela, ainda sem uma perspectiva de quando o ciclo de aperto deve se encerrar e o tamanho do impacto nas bolsas.
Commodities estáveis e incertezas da China
Petróleo estável em dezembro. Depois de atingir o pico de $128/barril ao longo de 2022, o petróleo encerrou o ano em $82, bem abaixo da média de $99, e acumulando pequena alta de 5% no ano. Nesse patamar, devemos ver pouca pressão inflacionária, principalmente na produção industrial de bens de consumo, mas a recuperação da China e restrições pelo lado da oferta ainda podem causar variações ocasionais ao longo de 2023.
Incertezas da China e recuperação dos preços do minério de ferro. A expectativa para o desempenho da economia chinesa segue no radar com muita incerteza sobre como será a o desempenho econômico após a mudança na política de controle da pandemia e o fim da grande onda de contaminação . A liberação das restrições e o elevado numero de novos casos em dezembro, indicam que até o fim de janeiro a atividade deve permanecer mais fraca. No entanto, após o ano novo Chinês, em fevereiro, podemos começar a ver uma recuperação mais forte, o que já antecipou a alta da cotação do minero que recuperou 20% da mínima de novembro, voltando para $108/ton.
Cenário Doméstico
- Inflação em queda mas risco fiscal segue no radar
Inflação em queda. Dezembro trouxe dados positivos da inflação, com o IGPM abaixo do esperado, fechando o ano em 5,45%. O IPCA-15 também mostrou desaceleração das medidas de núcleo e serviços, refletindo o impacto da política monetária mais restritiva. De fato, os dados de crédito e de atividade confirmam uma desaceleração a partir de novembro, o que deve manter a inflação em baixa no curto prazo. Esse cenário trouxe um pouco de alívio nos juros, mas o risco fiscal permanece no radar.
O que esperar da política fiscal em 2023? As primeiras medidas do governo foram na direção de uma expansão fiscal. A Pec da transição aprovou despesas acima do teto que podem chegar a R$200 bilhões e a LOA revisada indica déficit de 2,1% do PIB, uma expansão significativa em relação ao superavit de mais de 1% de 2022. Entre as primeiras medidas do novo governo está a prorrogação da isenção do PIS/Cofins sobre combustíveis, que retira R$52bilhões da arrecadação e declaração de usos das estatais, Petrobras e bancos, como instrumentos de políticas parafiscais, o que deve manter o mercado em cautela.
Renda Fixa
- 2023 começa com juros em patamar ainda bastante atrativo
Expectativa para a Selic. Apesar dos sinais claros de queda da inflação, o risco fiscal pode pressionar a inflação ao longo do ano e esperamos que o Banco Central mantenha a Selic em 13,75% até o final do primeiro semestre, aguardando a definição do novo arcabouço fiscal e medidas de recuperação da arrecadação. No cenário base, o corte na Selic começaria em agosto e a taxa terminaria o ano em 12%. No cenário mais otimista, caso a reforma tributária avance e a perspectiva para arrecadação seja maior, os cortes de juros podem acontecer mais cedo e de maneira mais acelerada. Por outro lado, caso a expansão fiscal seja seguida de mais gastos parafiscais, como uso dos bancos públicos e empresas estatais, a inflação pode ficar ainda mais pressionada, e o BC pode até retomar o ciclo de alta de juros.
As taxas pré-fixadas tiveram alivio parcial, mas o risco de alta da inflação no médio prazo ainda é alto. O mês de dezembro foi marcado por um alívio parcial nas taxa de juros pré, mas no início de janeiro o mercado mostra que ainda vamos ver bastante volatilidade com os primeiros anúncios do governo. A taxa pré de 2 anos está próxima de 13%, precificando pequena queda na Selic e os juros reais permanecem próximos de 6%, o que indica uma inflação implícita de 7% ao ano.
A Bolsa em Dezembro
- Cenário político pressiona ativos locais e lá fora, juros mais altos por mais tempo
A esperança de que as festividades trouxessem o bom-humor do Natal para os mercados infelizmente não se concretizou e no mês, o Ibovespa encerrou em queda de 2,45%, finalizando o ano pouco abaixo dos 110 mil pontos.
O mercado local se viu a mercê dos imbróglios políticos locais, processando os nomes dos novos 37 ministros do novo governo que toma posse em 01 de janeiro, além de contabilizando os efeitos da PEC da Transição nas contas públicas e o risco fiscal que voltou a pairar entre as preocupações para o próximo ano. Com isso, o FOCUS trouxe revisão para cima das projeções de inflação para 2023 e as expectativas de cortes na SELIC já no primeiro semestre arrefeceram.
Lá fora, o processo de reabertura da China que animou as bolsas no mês anterior trouxe ponto de atenção com o aumento significativo no número de novos casos de covid e os impactos na recuperação econômica no país. Enquanto isso, no restante do mundo, os bancos centrais reforçaram o tom mais hawkishem suas falas, refletidos também nas decisões mais agressivas em suas políticas monetárias.
Câmbio
- Real tem a melhor performance entre as principais moedas em 2022
O real teve valorização de 5,5% em 2022 e foi a melhor performance ente as principais moedas em relação ao dólar. A taxa de juros mais elevada no Brasil contribuiu para a melhor performance da moeda, que havia desvalorizado mais entre 2020 e 2021. O real deve permanecer volátil em 2023, aguardando o avanço das reformas econômicas, mas o atual patamar próximo de R$5,30, com a taxa de juros real mais elevada no Brasil, não aponta para grandes distorções. Além dos juros elevados, a balança comercial superavitária, que teve saldo recorde de US$62 bilhões em 2022, e o ingresso de investimento estrangeiro, que deve terminar o ano próximo de US$80 bilhões, indicam que o déficit em conta corrente é bastante gerenciável.
Apesar da desvalorização de 2% em dezembro, o dólar fechou com alta de 8% em relação à cesta de moedas em 2022. Com a elevação dos juros na zona do Euro e no Reino Unido em dezembro, o dólar continuou perdendo força e o índice DXY fechou o ano com alta acumulada de 8%.
Fundos Imobiliários
- Cautela com os ativos reais
Após a volatilidade do mês anterior, IFIX encerrou o mês de dezembro de lado, sustentado pela estabilidade tanto do segmento de tijolo quanto de papel, que variaram 0% e -0,1%, respectivamente.
Em reação à composição do novo governo e orçamento de 2023, o mercado ainda segue com visão bastante cautelosa para este ano. Com cenário ainda incerto na parte fiscal, o segmento de FIIs deve seguir volátil.
Apesar da melhora operacional observada nos ativos de tijolo, com destaque para os reajustes graduais dos aluguéis frente à inflação, reiteramos que os riscos fiscais em 2023 podem frear o início do ciclo de queda da Selic, o que compromete a precificação dos papeis ligados a ativos reais. Diante da expectativa prolongamento do ciclo monetário contracionista e potenciais riscos inflacionários, mantemos preferência por ativos com carteira de recebíveis indexados à inflação e ao pós-fixado, bem como com perfil de risco high grade.
No longo prazo, enxergamos um excessivo desconto nas cotas dos fundos de tijolo. Diante dos fundamentos apresentados, acreditamos que o setor deva seguir sua trajetória de recuperação e diminua sua defasagem em relação ao IMA-B nos próximos anos.
Fundos Multimercado
- Multimercados tiveram ano positivo com retorno acumulado de 13%
Após queda mais acentuada em novembro, em dezembro, o índice de hedge funds da Anbima apresentou rentabilidade positiva, mas abaixo do CDI no mês. A queda nas bolsas e a volatilidade no mercado de juros, com a aprovação da Pec no mês, trouxeram impacto mistos para os fundos.
Alguns destaques do mês: Kapitalo Zeta FIC FIM (178,01% do CDI), JGP Strategy FIC FIM (146,79% do CDI), Kapitalo Kappa FIN FIC FIM (144,18% do CDI) e Gávea Macro Plus FIC FIM (122,52% do CDI).