Cenário externo
Queda da inflação nos EUA traz perspectiva de fim do aperto monetário pelo Fed
O S&P 500 iniciou o ano com forte alta, embalado pela perspectiva de juros menores já em 2023. Apesar dos sinais de desaceleração da atividade, o cenário de recessão também foi colocado de lado e o mercado voltou a apostar forte no softlanding da economia americana. Em janeiro, os juros de 10 anos tiveram queda de 3,9% para 3,5% e a bolsa subiu 6,1% no mês. Em relação à mínima de outubro, a bolsa americana acumula alta de 14%. Com o cenário mais otimista bem precificado pelos mercados, seguimos com cautela considerando os riscos que podem voltar a sobrepor, principalmente por uma eventual inflação de serviços mais persistente.
Começamos fevereiro com mais uma elevação dos juros pelo Fed, mas em um ritmo menor, 25 bps, para 4,75%. A inflação americana continua em queda e fechou dezembro em 6,5% com núcleo em 5,7%. O Fed deve subir os juros mais uma ou duas vezes nesse começo de ano e parar, mantendo a taxa básica próxima de 5% até que a convergência da inflação para a meta esteja mais clara. O mercado de trabalho segue aquecido, com desemprego próximo nas mínimas e altas de salários no patamar de 4,5% a.a., o que pode ser empecilho para o afrouxamento monetário mais cedo, como esperado pelo mercado.
Expectativa de recuperação da China
Passado o feriado de ano novo chinês e a redução na onda de contaminação da Covid, é esperado uma recuperação mais robusta da China ao longo de 2023. Os dados de dezembro confirmaram a queda da indústria e do varejo, mas ainda assim, o PIB do ano fechou melhor que o esperado com crescimento de 3%. Para 2023, o FMI revisou sua expectativa de elevação do PIB para 5,2%, o que deve contribuir para o crescimento dos demais países emergentes, incluindo o Brasil.
Cobre tem alta de 11% em janeiro. A melhora nas perspectivas da economia da China resultou em uma recuperação das commodities ao longo de janeiro e o CRB teve recuperação após a forte queda no início do mês. Em relação à mínima de janeiro, a alta foi de 5,7%, com destaque para o cobre que subiu 11% no mês. Vale ressaltar que, apesar da recente recuperação, a cotação das commodities hoje está em linha com a média de 2022, um patamar atrativo para os exportadores, 50% acima da média pré-pandemia, mas que não deve resultar em pressão inflacionária adicional na economia global.
Expectativa de inflação volta a subir
As expectativas de inflação no Brasil voltaram a subir mesmo com sinais de queda da atividade. O mês de janeiro foi marcado por dados mais negativos da economia brasileira, entre eles a queda da confiança do empresário e a redução de 430 mil vagas pelo Caged de dezembro, mostrando uma desaceleração da atividade maior que o esperado. O IPCA encerrou 2022 em 5,79%, mas as expectativas de mercado para 2023 voltaram a subir para próximo de 5,5% com alta da gasolina e incertezas geradas pelo governo, tanto pelo lado fiscal como pelos questionamentos acerca da política monetária. Ainda entre as notícias negativas, o pedido de RJ da Americanas, com dívida de R$43 bilhões, também surpreendeu o mercado e deve gerar impacto nos bancos credores e desacelerar ainda mais a concessão de crédito.
O que esperar em fevereiro? Apesar dos ruídos, o resultado fiscal do governo em 2022 foi positivo, com superávit primário de 1,3%, o maior desde 2013 e a dívida bruta teve queda para 73,4%. Após várias falas de membros do governo que impactaram o mercado em janeiro, em fevereiro podemos ver uma reversão parcial do cenário com o início das discussões sobre a reforma tributária e o arcabouço fiscal. As novas medidas a serem anunciadas podem trazer alívio para os mercados, reduzindo o prêmio de risco principalmente nas taxas de juros.
Juros mais altos por mais tempo
Juros voltaram a subir em janeiro. Com a expectativa de inflação em alta, os juros voltaram a subir em janeiro. Destacamos os cupons das NTNBs mais longas que abriram cerca de 30 bps em janeiro e as taxas mais longas chegam perto de 6,5%, a maior desde 2015. Enquanto o IMAB ficou estável no mês, o IMAB5+ teve queda de 1,26%. A elevação dos juros reflete ainda uma maior aversão a risco com as discussões mais negativas ao longo do mês, como mudanças na meta de inflação e volta de subsídio de crédito no BNDES.
Expectativa para a Selic. O Banco Central deve manter a Selic em 13,75% por um prazo mais longo, considerando todas as incertezas nesse início de governo. Apesar de esperar uma inflação mais alta, mais próxima de 5,5% em 2023, mantemos nosso cenário base de corte na Selic começando em agosto e a taxa terminando o ano em 12%. A redução nos juros poderia ser mais acelerada caso o arcabouço fiscal seja aprovado ainda no primeiro semestre e traga a perspectiva de equilíbrio fiscal de modo crível. A aprovação da reforma tributária, caso avance ao longo dos próximos meses, também traria uma perspectiva para juros menores no Brasil no médio prazo.
A Bolsas Em Dezembro
Cenário político pressiona ativos locais e lá fora, juros mais altos por mais tempoCenário político pressiona ativos locais e lá fora, juros mais altos por mais tempo
Apesar do mau-humor no fim do ano, 2023 iniciou com reversão do pessimismo, ancorado nas perspectivas de uma desaceleração global mais amena, empolgados com o processo de reabertura na China e retomada da demanda no gigante asiático e dados de atividade e inflação desacelerando nos Estados Unidos o que elevou as apostas de um FED mais brando em seus próximos encontros.
Com exterior tomado pelo otimismo, vimos os ativos de growth recuperarem campo enquanto a temporada de balanços ia ganhando tração, mas com resultados mistos e de difícil leitura. Uma onda de demissões nas Big Techs e outros
grandes setores deve impactar o mercado de trabalho nos próximos meses, indicador que ainda segue forte.
Aqui, as exportadoras foram a bola da vez, beneficiadas mais uma vez pelo impulso que o otimismo com a China deu aos preços das commodities nos mercados internacionais. Além disso, o mercado interno também começa a se antecipar uma provável amenização dos juros no segundo semestre do ano, conforme as novas medidas econômicas a serem anunciadas podem trazer alívio para os mercados, reduzindo o prêmio de risco.
Câmbio
Real inicia 2023 com valorização de 3,8% em janeiro
Apesar dos ruídos no mercado local, o câmbio voltou a se valorizar em janeiro, seguindo a tendência global. Os países emergentes se beneficiaram da expectativa de juros menores nos EUA e o dólar teve nova queda em janeiro, de 3,8% em relação ao real. A moeda americana teve queda de 1,4% em janeiro, e já acumula 10,5% de queda desde o pico em setembro. Essa reversão tem como base uma expectativa de juros menores pelo FED com o arrefecimento da inflação.
Os fundamentos para o real em 2023 devem permanecer favoráveis. Os juros elevados aqui, juntamente com os fluxos comercial e de investimentos positivos devem manter o real no patamar próximo de R$5,00 ~ R$5,30, mesmo com a maior inflação esperada por aqui associada aos riscos fiscais. Apesar do déficit em conta corrente em 2022 de 2,9% do PIB, o investimento direto no país somou U$90 bilhões, 4,8% do PIB, o maior patamar desde 2012.
Fundos Imobiliários
Cautela com os ativos reais
No mês de janeiro, o IFIX manteve trajetória de correção, com perda de 1,6%. O desempenho negativo do índice ocorreu devido à volatilidade observada nos ativos de tijolo, que cederam 2,5% no mês. Por outro lado, os fundos de recebíveis demonstraram comportamento mais resiliente no mês, com variação de +0,2%.
Com riscos de deterioração fiscal e alta do juros, esperamos que os FIIs mantenham elevado nível de volatilidade no curto prazo, em especial os de tijolo, relativamente mais sensíveis à alta de juros. Por outro lado, essa classe vem sendo negociada a múltiplos bastante atrativos. Apesar da melhora operacional observada, o que refletiu diretamente na evolução do yield, a deterioração de expectativas no segmento devolveu parte relevante dos ganhos obtidos no ano de 2022, aumentando novamente sua defasagem em relação ao IMA-B e o desconto frente ao valor patrimonial.
Diante das incertezas fiscais e cenário de juros restritivo para 2023, esperamos que os fundos de papel apresentem desempenho relativo superior às demais classes. Com risco inflacionário e extensão do ciclo monetário contracionista, mantemos preferência por ativos com carteira de recebíveis indexados à inflação e ao CDI, bem como com perfil de risco high grade e colateral elevado para mitigação do risco de crédito.