Macroeconomia


Inter Strategy | Ago.22

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Rafaela Vitória

Publicado 01/ago15 min de leitura

Alocação Estratégica e Tese de Investimento

Em julho os mercados tiveram forte recuperação, com um alivio no cenário global de aversão a risco. Apesar da inflação ainda em alta, mais uma subida e juros de 75 bps pelo Fed, e um aumento do risco de recessão global, as bolsas tivera, alta no mês, tanto aqui com lá fora. Por isso a importância de manter uma alocação estratégica sempre diversificada, que é capaz de capturar momentos de recuperação como esse bear market rally. Para agosto, mantemos a recomendação de alocação incluindo a posição de overweight em papeis indexados a inflação, que pode começar a se beneficiar de uma redução nos prêmios de risco, caso o cenário de menor inflação se concretize.

Alocação Estratégica Recomendada

Retorno acumulado das carteiras por nível de risco; Os portfólios representam o backtest da atual carteira e desconsideram custos atrelados a administração, custodia, etc.

Cenário externo | Bear market rally

A bolsa americana teve forte recuperação em julho. O S&P500 subiu 9% no mês, mesmo com o aumento dos juros e o aumento do risco de recessão. Após a queda acumulada de 20% no ano até junho, o mês de julho pode ser considerado um rally de bear market, quando há uma reversão das posições vendidas, não necessariamente pela melhora no cenário, mas porque o mercado ficou barato o suficiente para a volta parcial dos investidores.

Fed novamente subiu os juros em 75 bps. A inflação nos EUA ultrapassou 9% ao ano e o Fed elevou a taxa básica mais uma vez em 75 bps, chegando a 2,5%. Mas com sinais de desaceleração na economia, o banco central americano indicou que pode reduzir o ritmo na próxima reunião e que o fim do ciclo estaria mais próximo. O mercado gostou do Fed mais dovish e as taxas de juros de longo prazo lá tiveram queda. O título de 10 anos saiu de 3,02% para 2,64% em um mês. Mas a inflação continua alta e o mercado de trabalho pode não desacelerar como se espera, portanto, é importante ter cautela, pois podemos ter juros altos por mais tempo por lá. Além disso, a inflação também impacta o resultado das empresas, tanto pela perspectiva de redução de vendas, como maiores custos, e as previsões de lucros ainda podem ser revisadas para baixo.

China e commodities | Indústria global dá sinais de desaceleração, particularmente na China.

PMIs no mundo desaceleram em julho. A alta dos juros nos EUA, as restrições ao acesso ao gás na Europa, e a China ainda com restrições à mobilidade têm impacto direto na demanda global e os indicadores antecedentes, como os PMIs da indústria, já mostram uma desaceleração em julho. A cotação das commodities pode ter nova queda com enfraquecimento geral da demanda global, mas o patamar atual ainda está 40% acima da média pré pandemia.

Commodities oscilaram em em julho, mas fecharam estáveis em relação a junho. Após queda de cerca de 10% em junho, as commodities ficaram estáveis em julho. A cotação do petróleo segue oscilando entre $100 e $110/barril, com ainda bastante incerteza no cenário. O destaque negativo é a cotação do minério de ferro que teve nova queda de cerca de 10% e voltou para próximo de $105/tonelada. Já a recente queda das commodities agrícolas deve contribuir para uma menor inflação de alimentos à frente.

Cenário Doméstico

Os dados macroeconômicos de julho confirmam o momento de crescimento maior da economia brasileira. O mercado de trabalho foi novamente o destaque com nova queda da taxa de desemprego para 9,3%. A estimativa de crescimento do PIB no 2º trimestre é de cerca de 0,7% e no ano devemos ter crescimento acima de 2%, puxado principalmente pelos setores de serviços. O saldo da balança comercial em julho ficou abaixo do esperado, mostrando um ponto de atenção com relação à demanda externa, que está mais fraca. Apesar da queda de preços e menores volumes exportados para a China, a produção e exportação de commodities deve ser robusta e o superavit comercial no ano pode ficar próximo de US$60 bilhões.

IPCA-15 e IGPM desaceleram e Copom pode encerrar o ciclo de alta em agosto . A inflação dá sinais de desaceleração além das reduções do ICMS na gasolina e tarifas elétricas. Julho deve ser o primeiro mês de deflação do IPCA desde maio de 2020, principalmente com a queda do preço da gasolina que já chega a 20%. Além dos combustíveis, a inflação de bens também dá sinais de alívio e pode contribuir para reduzir a inércia inflacionária para o próximo ano. Com o cenário de inflação mais benigno, o Copom pode encerrar o ciclo de alta na reunião de agosto, com a Selic terminal em 13,75%. O risco no cenário ainda é a inflação de serviços e os recentes estímulos fiscais que podem impactar a demanda nos próximos meses, além de manter as expectativas de inflação em alta para 2023.

Renda Fixa

As taxas de juros pré chegaram a ter forte alta ao longo do mês, mas o cenário é de melhora com expectativa de queda da inflação global. A taxa pré de 2 anos chegou a quase 14%, porém, com a mudança no discurso do Fed, e os sinais de inflação em queda no Brasil, tanto pela divulgação do IPCA-15 como do IGPM de julho, a curva de juros voltou a cair. Ainda assim, o mercado precifica mais uma alta de 0,25 p.p. na Selic em setembro e queda somente para 12% até dezembro de 2023. Ou seja, caso a inflação desacelere mais rapidamente, ainda há bastante premio na curva

Ao longo de julho, os cupons dos títulos indexados em IPCA também tiveram alta. As taxas subiram de cerca de 5,8% para quase 6,4%, mas também voltaram a cair no final do mês com o alívio nos mercados. Apesar da incerteza, taxas de juros reais acima de 6% refletem elevado premio de risco e mantemos nossa recomendação overweight em papeis indexados. Os meses de julho e de agosto devem ter correção negativa pelo IPCA, mas no médio e longo prazo tendem a proteger o investidor caso o risco de uma inflação mais persistente se materialize. Por outro lado, caso o cenário de menor inflação seja confirmado, as taxas deverão ter quedas, seguindo a redução da Selic e da expectativa de inflação embutida hoje nas taxas pré fixadas.

Bolsa Brasil

O Ibovespa encerrou o mês em alta de 4,69%, refletindo os robustos ganhos da última semana, diante de um FED mais dovish e uma amenização do prêmio de risco tanto aqui quanto lá fora. Com isso, o mês de julho finalizou com um ar de alento aos mercados. Somado a isso, a temporada de balanços vem mostrando resiliência do mercado interno, com as companhias superando as expectativas do consenso, trazendo margens estáveis, mesmo com os custos mais elevados e as pressões inflacionárias.

A temporada de balanços aqui segue de vento em popa e, mais importante que os números reportados, analistas e investidores atentam para os calls de resultados das companhias, em busca de sinais sobre o que esperar no segundo semestre do ano.

Agosto começa pressionado pela realização de lucros, após a forte subida recente, mas também receoso com dados macroeconômicos, como PMI, abaixo do esperado e trazendo novamente as incertezas diante de um cenário de enfraquecimento da economia global, que pressiona os papéis de commodities em geral.

Câmbio | Cambio tem volatilidade seguindo mercado externo

Nas últimas semanas, o real seguiu o movimento do dólar lá fora e teve nova desvalorização, chegando à máxima de R$5,50 ao longo do mês de julho. No entanto, com o Fed mais dovish e expectativa de juros menores nos EUA, o dólar perdeu parte da força, o que também foi acompanhado pelo real, que voltou para R$5,17, uma valorização de 2% no mês.

O câmbio deve continuar volátil com as incertezas do cenário externo e a aproximação das eleições aqui. Os fundamentos, no entanto, ainda favorecem a moeda brasileira, tanto pela expectativa de robusta balança comercial no ano, como pela elevada Selic comparada com as taxas de juros dos demais emergentes.

Fundos Imobiliários | Menor inflação impulsiona os fundos de tijolo

Diante da sólida recuperação de 1,4% observada nos fundos de tijolo, em conjunto com a estabilidade de -0,1% registrada pelos fundos de papel, o IFIX avançou 0,7% ao longo do mês de Julho.

Em meio à melhora nos dados de inflação no Brasil e discurso dovish do Fed na última ata, que contribuíram para o fechamento da curva de juros frente o mês anterior, os fundos de tijolo apresentaram desempenho positivo e puxaram o IFIX para o campo positivo. Ao mesmo tempo, perspectivas de inflação negativa para o próximo mês seguraram o desempenho dos fundos de papel, que tiveram variação estável de -0,1%.

Diante da correção gradual dos contratos de aluguéis detidos pelos fundos de tijolo e melhores expectativas quanto à trajetória da inflação, é esperado que os fundos de tijolo apresentem um melhor desempenho no curto prazo. Por outro lado, a desaceleração esperada nos indexadores devem gerar uma menor rentabilidade ao fundos de papel.

Com elevado desconto frente o valor patrimonial vis-à-vis a melhora observada nos dados operacionais, entendemos que fundos ligados a ativos reais permanecem com alto potencial de ganho de capital no longo prazo.

Fundos Multimercado | Multimercados têm semestre positivo, apesar da volatilidade

Os multimercados terminaram o primeiro semestre de 2022 positivos em todos os meses até o momento. Os destaques deste mês continuam com as alocações em títulos pré-fixados, investimentos longos atrelados à inflação e novas posições em bolsa brasileira. Alguns gestores já se posicionam para capturar os movimentos de queda do dólar e alta dos juros americanos.

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