Inflação segue desacelerando de maneira mais lenta
Mantemos nossa projeção de IPCA em 5,5% para 2023. O recente reajuste da gasolina e aumento de outras alíquotas de impostos em alguns estados devem impactar a inflação no 1o trimestre. No entanto, a queda dos preços ao produtor, e a cotação de commodities em baixa, em combinação com o enfraquecimento da demanda por bens duráveis que dependem de crédito, devem resultar em menores reajustes ao longo do ano. Elevação de preços em serviços, no entanto, ainda é o risco altista para a inflação esse ano. Reajustes salariais e transferências do governo podem dar impulso ao consumo no curto prazo. No entanto, o cenário de maior aperto na oferta de crédito, com menor apetite a risco tanto no mercado bancário como no mercado de capitais, deve resultar em maior desaceleração à frente.
Esperamos o início de cortes da Selic no Copom de junho
O maior aperto na oferta de crédito doméstico, a queda de preços de commodities com maior risco de recessão global, e a redução do risco fiscal com o novo arcabouço significam uma mudança no balanço de riscos para a inflação prospectiva. No próximo Copom em março, esperamos que o BC mantenha a Selic inalterada em 13,75%, mas indique uma mudança no balanço de riscos para a inflação, que abre espaço para o início do afrouxamento monetário antes do anteriormente previsto. O cenário à frente será de desaceleração da atividade. A elevação de juros em vários países vem resultando em aumento do risco de recessão e a maior cautela por parte de investidores e bancos deve reduzir a oferta de crédito. O novo conjunto de regras fiscais, incluindo controle do crescimento de gastos e objetivando a redução gradual do déficit, trará maior previsibilidade e redução da incerteza.
Com juro real em patamar extremamente restritivo, o Copom pode iniciar o processo de redução da Selic de maneira gradual e ainda manter a política monetária restritiva, garantindo a convergência da inflação para ao redor da meta em 2024. A concessão de crédito bancário desacelerou em janeiro, com significativo aumento das taxas e as emissões no mercado de capitais em fevereiro tiveram uma queda de 70% em relação à média mensal de 2022.
PIB mais fraco em 2023 e 2024
Esperamos crescimento do PIB de 0,8%, puxado pelo setor agropecuário. A safra recorde esperada para esse ano deve dar contribuição positiva para o PIB, mesmo com o aperto monetário em curso. As exportações devem ser o destaque positivo pelo lado da demanda. Já a indústria e os setores de serviços perdem força, com a desaceleração do crédito e a queda da confiança, permeada pelo nível de incerteza.
Cenário externo
O cenário externo permanece desafiador, com a alta de juros impactando o setor bancário nos EUA e na Europa. Entre os reflexos da política monetária mais restritiva está o maior risco de recessão e chegamos próximo do fim do ciclo, com a expectativa de uma última alta de 25bps na reunião do Fed em março. A queda da inflação nos EUA também deve ser mais lenta, mas o Fed deve ponderar entre os riscos de uma alta maior nos juros, uma contaminação da crise no setor bancário.