Macroeconomia


Inter Forecast | Revisão de Cenário | Mar.23

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Rafaela Vitória

Publicado 17/mar7 min de leitura

Resumo

Revisamos nossa expectativa para o início do ciclo de cortes da Selic de agosto para junho, com a taxa chegando em 12% ao final do ano e 10% em 2024. O aperto no cenário de crédito e a redução do risco fiscal, com a apresentação do novo arcabouço, deve permitir uma antecipação do início do ciclo de corte de juros. Os recentes eventos globais também aumentaram o risco de uma recessão, refletido na queda nas commodities, o que pode contribuir para o processo de desinflação. Mantemos nossa projeção de inflação em 5,5% para 2023, com aumento de 3,7% par 4% em 2024. A revisão de alíquotas de impostos pressionou preços administrados e de bens em fevereiro e março, mas com a queda da inflação ao produtor, os reajustes devem perder força a partir do 2o trimestre. A inflação de serviços deve desacelerar de maneira mais lenta, ainda pressionada pela alta nos salários e aumento de transferências do governo, e esperamos um impacto inercial maior em 2024, mas que não deve impedir o ciclo de afrouxamento monetário, mas ser mais lento. Mantemos a projeção de crescimento do PIB em 0,8% em 2023 e revisamos de 2% para 1,5% em 2024. Após crescimento de 2,9% em 2022, a economia deve ter forte desaceleração em 2023. A alta esperada de 0,8% é puxada pela agropecuária, enquanto a indústria deve seguir mais fraca devido à elevada taxa de juros e crédito mais escasso. Novo arcabouço fiscal pode trazer alívio para o prêmio de risco nos juros. Nossa projeção de déficit primário se mantém em 0,9% do PIB em 2023 e 0,8% em 2024, mas as novas regras fiscais, incluindo regra de controle de gastos e recomposição de receita, podem indicar resultado fiscal melhor para os anos seguintes. Cenário externo requer cautela na condução de políticas econômicas no Brasil. A deterioração no mercado bancário nos EUA e Europa significa uma menor liquidez e maior aversão a risco em geral. O aperto adicional no crédito internacional também aumenta o risco de recessão global.

Inflação segue desacelerando de maneira mais lenta

Mantemos nossa projeção de IPCA em 5,5% para 2023. O recente reajuste da gasolina e aumento de outras alíquotas de impostos em alguns estados devem impactar a inflação no 1o trimestre. No entanto, a queda dos preços ao produtor, e a cotação de commodities em baixa, em combinação com o enfraquecimento da demanda por bens duráveis que dependem de crédito, devem resultar em menores reajustes ao longo do ano. Elevação de preços em serviços, no entanto, ainda é o risco altista para a inflação esse ano. Reajustes salariais e transferências do governo podem dar impulso ao consumo no curto prazo. No entanto, o cenário de maior aperto na oferta de crédito, com menor apetite a risco tanto no mercado bancário como no mercado de capitais, deve resultar em maior desaceleração à frente.

Esperamos o início de cortes da Selic no Copom de junho

O maior aperto na oferta de crédito doméstico, a queda de preços de commodities com maior risco de recessão global, e a redução do risco fiscal com o novo arcabouço significam uma mudança no balanço de riscos para a inflação prospectiva. No próximo Copom em março, esperamos que o BC mantenha a Selic inalterada em 13,75%, mas indique uma mudança no balanço de riscos para a inflação, que abre espaço para o início do afrouxamento monetário antes do anteriormente previsto. O cenário à frente será de desaceleração da atividade. A elevação de juros em vários países vem resultando em aumento do risco de recessão e a maior cautela por parte de investidores e bancos deve reduzir a oferta de crédito. O novo conjunto de regras fiscais, incluindo controle do crescimento de gastos e objetivando a redução gradual do déficit, trará maior previsibilidade e redução da incerteza.

Com juro real em patamar extremamente restritivo, o Copom pode iniciar o processo de redução da Selic de maneira gradual e ainda manter a política monetária restritiva, garantindo a convergência da inflação para ao redor da meta em 2024. A concessão de crédito bancário desacelerou em janeiro, com significativo aumento das taxas e as emissões no mercado de capitais em fevereiro tiveram uma queda de 70% em relação à média mensal de 2022.

PIB mais fraco em 2023 e 2024

Esperamos crescimento do PIB de 0,8%, puxado pelo setor agropecuário. A safra recorde esperada para esse ano deve dar contribuição positiva para o PIB, mesmo com o aperto monetário em curso. As exportações devem ser o destaque positivo pelo lado da demanda. Já a indústria e os setores de serviços perdem força, com a desaceleração do crédito e a queda da confiança, permeada pelo nível de incerteza.

Cenário externo

O cenário externo permanece desafiador, com a alta de juros impactando o setor bancário nos EUA e na Europa. Entre os reflexos da política monetária mais restritiva está o maior risco de recessão e chegamos próximo do fim do ciclo, com a expectativa de uma última alta de 25bps na reunião do Fed em março. A queda da inflação nos EUA também deve ser mais lenta, mas o Fed deve ponderar entre os riscos de uma alta maior nos juros, uma contaminação da crise no setor bancário.


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