Resumo
- Após mudança no comunicado, esperamos que o Copom pause o ciclo de cortes em junho e retome no final do 3º trimestre, encerrando 2024 com Selic em 9,75%, ante nosso cenário anterior de 9,25%. Para 2025, mantemos a expectativa de novos cortes até o patamar terminal esperado de 8,5%;
- Revisamos nossa expectativa de IPCA de 3,9% para 4,0% em 2024, impacto do câmbio maior e alta recente das commodities. Para 2025, mantemos em 3,5%, com o maior aperto monetário e desaceleração da atividade;
- Projetamos crescimento de 0,8% no 1º trimestre e 1,9% em 2024, ante 2,0% na projeção anterior. Apesar do começo do ano mais robusto, o maior aperto monetário e o impacto da tragédia no RS devem resultar em atividade desacelerando já a partir do 2º trimestre;
- Cenário externo com relativo alívio na desaceleração da inflação nos EUA pode confirmar a expectativa de dois cortes pelo Fed no 4º trimestre.
Uma pausa prematura no ciclo de cortes
Após a mudança na comunicação do Copom, e reação negativa nos mercados, alteramos nossa expectativa para a Selic de 9,25% para 9,75% ao final de 2024, mas mantemos em 8,5% em 2025. Apesar da inflação corrente seguir com dinâmica benigna, o cenário de maior aversão a risco alterou a perspectiva de mercado, com impacto já visível nas expectativas de inflação e juros.
O cenário de maior incerteza também teve como contribuição a mudança na comunicação do Copom, que deixou em aberto os próximos passos da política monetária levando a uma precificação de encerramento do ciclo já a partir de junho pela curva de juros.
A principal razão para essa mudança, na visão do Copom, é a deterioração das expectativas de inflação, principalmente para 2025. Ademais, o dissenso entre dois grupos, com a votação em 5x4, também trouxe à tona uma nova preocupação com a direção do BC a partir de 2025, resultando em nova deterioração no mercado, mesmo em meio a uma expectativa de juros maiores.
Nesse cenário de maior incerteza e peso maior à desancoragem das expectativas, apesar de ainda haver espaço para redução na Selic,esperamos que o Copom pause o ciclo de cortes em junho de 2024, retomando ao final do 3º trimestre, quando a dinâmica inflacionária mais benigna, bem como o efeito do aperto monetário adicional com a desaceleração da atividade, volte a ancorar as expectativas. O segundo semestre também deve ser marcado por uma maior clareza sobre o início de cortes pelo Fed, o que também pode trazer alívio para mercados emergentes.
Meta de inflação e desancoragem - parcial
Nossa expectativa para a inflação em 2024 subiu levemente de 3,9% para 4%, mas se manteve em 3,5% em 2025. A mudança no patamar de câmbio e a alta pontual de alimentos deve manter a inflação mais próxima de 4% em 2024, mas com tendência de desaceleração pelas medidas de núcleo e serviços, como observado desde março.
Historicamente, a inflação no Brasil vem reduzindo seguindo a queda gradual na meta, apesar dos choques inflacionários de 2015-16 e 2021-23.
A volta da expansão fiscal a partir de 2023, ainda sem uma visibilidade sobre a efetividade do novo arcabouço no controle de gastos, ainda gera incerteza sobre a capacidade do BC em cumprir a meta de inflação, e, diferentemente do cenário de 2017-2020, a autoridade monetária hoje já trabalha com juro neutro superior, ou seja, o custo de convergência da inflação tem sido maior, não somente considerando a inédita meta de 3%, mas a menor confiança do mercado na atual política fiscal. Historicamente, no entanto, observamos que o BC tem alguma tolerância para a inflação dentro do intervalo da meta, tanto em períodos de alta, em 2008-2015, como de baixa, em 2017-2020.
Um dos efeitos desse cenário de incerteza no curto prazo foi a valorização do cambio em 6% no ano, o que deve ter impacto no IPCA nos próximos meses (em média 0,16 p.p. para cada 1% de depreciação do real, como mostramos no nosso artigo Repasse Cambial), mas sem impacto relevante para 2025, considerando o maior aperto monetário ao longo desse ano.
A continuidade da queda da inflação e sua convergência para a meta vai depender de vários fatores. A melhora no cenário externo e reflexo na estabilidade do cambio será fundamental. No entanto, a retomada da credibilidade da política econômica, tanto a fiscal como a monetária, é essencial para ancoragem das expectativas, que garantiria que a dinâmica atual mais benigna da inflação siga em frente, permitindo maiores cortes na Selic ao longo de 2025.
PIB deve perder força no 2º trimestre
Projetamos crescimento do PIB de 0,8% no primeiro trimestre de 2024, puxado pelo consumo das famílias. A atividade surpreendeu para cima no começo do ano, mas já vemos sinais de desaceleração a partir de março. Não só o impulso fiscal deve perder força, mas a paralização econômica no RS, devido à tragédia causada pelas chuvas, deve contribuir para a atividade mais fraca. Além disso, juros mais restritivos por mais tempo e uma desaceleração do crédito também devem contribuir para um menor crescimento do PIB no 2º semestre.
Arrecadação melhora, mas ajuste fiscal sem controle das despesas ainda é um desafio
A preocupação com o risco fiscal aumentou após aprovação de créditos extraordinários e ausência de contingenciamento, mesmo em meio a gastos maiores que o orçado. Nas últimas semanas, os dados das contas públicas voltaram a preocupar o investidor. Não só o crescimento dos gastos continua elevado, 6% real nos 3 primeiros meses do ano (excluindo o pagamento antecipado dos precatórios em fevereiro), mas a revisão de meta de superávit primário para 2025 trouxe um cenário de maior afrouxamento das regras, o que significa que não haverá gatilhos para conter a alta das despesas.
Com a arrecadação acima do esperado, nós revisamos a projeção de déficit primário de R$100 bilhões em 2024 para R$77 bilhões (0,7% do PIB) e mantemos em 0,5% em 2025. Vale ressaltar que o déficit nominal tem aceleração maior e está próximo de R$1 trilhão em 12 meses até março, acima de 9% do PIB, devido ao elevado custo de dívida que terá nova pressão com a alta de juros observada no mercado.
Cenário externo pode ter alívio com desaceleração do CPI
No cenário externo, a melhora na inflação de abril nos EUA trouxe alívio para os mercados e, caso siga essa tendência, consolida a previsão de dois cortes pelo Fed no segundo semestre. Os juros maiores por mais tempo por lá, ainda trazem pressão para mercados emergentes, mas a consolidação do cenário de soft landing pode reduzir a pressão no cambio no segundo semestre.
Os preços internacionais de commodities acumulam alta no ano. O índice de commodities IC-Br, calculado pelo BC, acumula alta de 14% em reais, até abril, puxado pela alta do petróleo e metais. Essa correção deve trazer alguma pressão nos preços de industriais e de alimentos, como já observado pela variação do IGP em maio, o que reforça o cenário de maior cautela por parte do Banco Central nos próximos meses.
Por outro lado, o cenário de commodities em alta com superávit maior na balança comercial tende a beneficiar a economia brasileira. Tanto pelo impacto positivo na arrecadação federal, reduzindo o déficit primário, como pelo cambio, cuja pressão altista pelo aumento da aversão a risco pode ser amenizada.