Inflação menor com impacto da PLP18
Com o crescimento do PIB mais robusto no 1o semestre, revisamos nossa projeção para o ano de 1,2% para 1,6%. Apesar do bom desempenho, esperamos uma desaceleração a partir da segunda metade do ano, impactada principalmente pelo efeito defasado do aperto monetário.
Selic deve chegar a 13,50%. Esperamos uma nova alta de 0,25 p.p. na próxima reunião do Copom em agosto, encerrando o ciclo de alta. Conforme comunicado pelo BC, a taxa deve permanecer nesse elevado patamar por mais tempo, uma vez que a convergência da inflação para a meta tende a demorar mais. Porém, com uma conjuntura mais favorável para a inflação a partir do segundo semestre, o processo de normalização dos juros pode se iniciar no começo de 2023.
Inflação, fiscal e a PLP18. Revisamos nossa expectativa de IPCA para 7,7% em 2022 considerando os impactos das novas medidas aprovadas. Por outro lado, o resultado fiscal deve ser menor que o anteriormente esperado e a expectativa de superavit primário foi reduzido para 0,3% do PIB em 2022.
O principal risco para o nosso cenário ainda é externo. A inflação nos EUA vai requerer um aperto monetário maior e trás mais volatilidade para os mercados, deteriorando as condições financeiras globais. A queda na atividade da China, devido ao lockdown, e a guerra na Ucrânia também trazem riscos para os preços das commodities e consequentemente para a inflação..
Revisamos a projeção de crescimento do PIB para 1,6% em 2022 e 0,9% em 2023
Com o desempenho mais forte da economia no 1o semestre, revisamos nossa projeção do PIB de 1,2% para 1,6% em 2022. Mas já a partir do 2o semestre esperamos uma desaceleração, resultado do aperto monetário e, para 2023, o crescimento foi revisado de 1,5% para 0,9%. Mesmo com o elevado patamar de juros desde o início do ano, a atividade surpreendeu nos primeiros meses, principalmente com o forte desempenho dos setores de serviço e varejo. O fim das restrições e a demanda reprimida foram suficientes para impulsionar a demanda, e o uso da poupança acumulada durante a pandemia, também contribuiu para manter o consumo em alta. Mas com a restrição de crédito devido aos no atual patamar, a demanda deve desaquecer já a partir da segunda metade do ano.
Selic em 13,5% em agosto
O Copom subiu os juros em 0,50 p.p. em junho e deixou a porta aberta para mais um ajuste em agosto e esperamos a Selic em fim de ciclo em 13,50%. A Selic já chegou em patamar bastante restritivo e o BC poderia até parar de subir os juros e aguardar o efeito defasado do aperto monetário. Com expectativa de inflação em cerca de 5% 12 meses a frente, a taxa de juro real ex-ante é bastante contracionista. As expectativas de inflação para 2023 ainda estão sendo revisadas para cima, e o Copom preferiu antecipar um ajuste adicional, além de indicar que deve manter a taxa no elevado patamar por prazo mais longo. Para o próximo ano, no entanto, acreditamos que a desaceleração da economia doméstica juntamente com uma menor demanda global, em função do aperto monetário simultâneo nos países desenvolvidos, deve significar a convergência mais clara da inflação para a meta e o BC poderá iniciar a revisão dos juros ainda no primeiro semestre de 2023, a depender do cenário fiscal apresentado pelo novo governo a ser eleito.
Inflação e Resultado Fiscal: mudanças com a PLP18
A aprovação da PLP 18, ainda pendente te sanção presidencial, traz importantes mudanças para o resultado fiscal e para a inflação ainda em 2022. Nossa estimativa de inflação já apontava para o pico tendo sido atingido em abril em 12,2% e uma gradual redução para 8,9% até o final do ano. Mas com as recentes mudanças, principalmente a limitação do ICMS em serviços essenciais 17%, estimamos IPCA de 7,7%, incluindo o reajuste de combustíveis efetivado pela Petrobrás em junho. Somente nas tarifas de energia elétrica, estimamos uma redução de cerca de 12% a partir de julho. Para 2023, com a reversão da isenção de PIS e Cofins sobre os combustíveis, o IPCA deve subir para 4,8%, acima da expectativa anterior de 4,1%. Apesar de próximo do topo da meta, o processo de convergência mais longo é adequado, considerando o elevado patamar acumulado da inflação nesse momento, devido aos sucessivos choques, e o custo de se subir juros ainda mais.
Reduzimos nossa expectativa de superavit fiscal de 0,7% para 0,3% para 2022. Estimamos em cerca de R$40 bilhões o impacto nas receitas consolidadas do setor público em 2022, mas ainda assim, devemos ter novamente um superavit fiscal primário em 2022 e a dívida pública com nova redução para 78% do PIB. Para os anos seguintes, esperamos que a dívida volte a crescer atingindo o pico de 82% em 2027 e depois voltando a reduzir.
Apesar da estimativa de déficit nominal ainda elevado nos próximos anos a trajetória está bem mais benigna do que há 12 meses atrás. O ciclo de alta das commodities e a inflação elevada contribuíram para o crescimento da arrecadação e do PIB nominal, mas principalmente, o controle de gastos segue beneficiando o resultado primário, apesar dos ruídos nas discussões de medidas que tentam flexibilizar a lei do teto.
Mantemos nossa projeção para o cambio para R$4,90 em 2022 e R$5,00 em 2023. O cenário externo permanece desafiador e o dólar segue com alta volatilidade. Entre os fundamentos para a manutenção do bom desempenho do Real no ano está a melhora nos termos de troca da balança e a maior taxa de juros na comparação global.
Risco Externo
O principal risco para o nosso cenário é externo. A inflação global ainda está subindo e um aperto monetário nos EUA maior que o antecipado anteriormente trás mais volatilidade para os mercados, com uma deterioração das condições financeiras e risco de recessão. A taxa de juros nos EUA pode chegar em 3,5%, algo que não se via desde 2008. O Brasil conta com alguns mitigantes para esse cenário, como um balanço de pagamentos mais robusto, reduzindo a necessidade de investimento estrangeiro para financiamento das contas externas e um diferencial de juros que já considera um premio bastante elevado, mesmo para períodos de maior aversão a risco.