Inflação deve chegar a 5,3% em 2025
Após encerrar 2024 próximo de 4,8%, projetamos que o IPCA siga acelerando até o pico de 5,3% em abril de 2025, para fechar o ano em 4,9%. Estimamos que a inflação somente deverá retornar para o dentro do intervalo da meta em 2026, em 3,9%. A desvalorização cambial nos últimos meses, devido ao cenário de maior aversão a risco, deve ser o principal fator para a reaceleração da inflação. No ambiente de crescimento econômico ainda robusto e mercado de trabalho aquecido, os reajustes de preços tendem a se intensificar no começo de 2025 e só esperamos o efeito do maior aperto monetário na desaceleração da inflação no segundo semestre de 2025.
Revisamos nossa projeção de câmbio de R$5,70 para R$6,00 em 2025. Mesmo com a forte atuação do BC em dezembro, com leilões de dólar à vista que somaram US$19 bilhões nos últimos 30 dias, a cotação do dólar deve encerrar 2024 próxima de R$6,15, uma desvalorização acumulada de 27% no ano. Os juros mais elevados nos EUA e a percepção de maior risco fiscal no Brasil devem manter a moeda no novo patamar ao longo do próximo ano.
Revisamos nosso cenário de alta para a Selic para 15% ao final do ciclo. Mesmo com o choque de juros anunciado pelo Copom na última reunião em dezembro, a desvalorização cambial deve continuar afetando a inflação no curto prazo, bem como as expectativas. Com isso, estimamos que o Copom deve prolongar o ciclo de alta até 15% em maio de 2025.
Considerando a execução orçamentária mais contida no próximo ano, apesar do tímido pacote de contenção do crescimento dos gastos aprovado, a desaceleração da inflação a partir do segundo semestre de 2025 pode permitir o início do ciclo de cortes de juros, e esperamos que a Selic encerre o ano em 14%, uma taxa de juro ainda bastante restritiva para a expectativa de inflação de 3,9% em 2026.
Por outro lado, caso o governo volte a anunciar novos aumentos de gastos, incluindo a revisão da tabela de correção de IR sem as devidas compensações, o novo estímulo pode resultar em nova depreciação cambial e a continuidade da aceleração da inflação, o que impediria cortes de juros em 2025.
Desaceleração do PIB
Revisamos o crescimento do PIB de 3,2% para 3,4% em 2024, mas de 1,9% para 1,7% em 2025. A desaceleração do crescimento do PIB deve continuar ao longo de 2025, efeito do menor impulso fiscal esperado em conjunto com o aperto monetário em curso. A menor oferta de crédito e seu custo mais caro devem impactar tanto o consumo das famílias como o investimento ao longo de 2025.
Risco fiscal e cenários para 2025
A aceleração na dívida pública e o desafio de cumprir o arcabouço fiscal permanecem como principal risco no cenário em 2025. O pacote de medidas aprovado nesse final de ano não trouxe soluções estruturais par o crescimento dos gastos públicos, que vão continuar pressionando os limites do atual arcabouço.
O déficit primário em 2024 deve ficar próximo de 0,5% do PIB, incluindo despesas fora do cálculo, como o pagamento de precatórios e crédito extraordinário para o RS. Mas incluem também receitas extraordinárias, como a incorporação do saldo de fundos e arrecadação de IR não recorrente. Com isso, nossa estimativa para o déficit em 2025 permanece mais elevada, em 0,8% do PIB e o cumprimento do meta, que é na prática um déficit de 0,3%, excluindo o pagamento dos precatórios, ainda depende de uma execução mais austera ou a concretização de novas receitas ainda incertas como acordos do CARF e transações de teses da RFB.
O risco fiscal deve permanecer no radar com a discussão da reforma do imposto de renda e isenção de IR para rendimentos até R$5 mil, o que pode injetar R$50 bilhões de renda extra em 2026 e novamente pressionar a inflação e deteriorar o resultado fiscal em ano de eleição. Além disso, a desvinculação de gastos e o reajuste real dos salário mínimo, que impactada vários programas sociais, ainda precisam passar por uma revisão para a viabilidade do ajuste fiscal de longo prazo.