Cenário global é o grande desafio para 2022 e 2023
O cenário global continua desafiador e as perspectivas de inflação ainda estão sendo revisadas para cima em 2022. Aqui no Brasil, revisamos nossa projeção de alta do IPCA de 6,8% para 7,4% para 2022 e de 3,6% para 3,8% em 2023. A guerra na Ucrânia trouxe novos choques de oferta em alimentos e combustíveis, resultando em inflação maior que o esperado, aumentando o risco de maior persistência.
Apesar da inflação maior, mantemos nossa expectativa de Selic terminal em 12,75%, com início do ciclo de baixa apenas em 2023. A Selic em 12,75% já será suficiente para conter a inflação, mesmo com reajustes maiores em 2022. O juro real já se encontra em patamar restritivo e pode chegar a 8% até o final do ano.
Aumentamos nossa projeção de PIB de 0,5% para 0,8% em 2022 e mantemos em 1,5% para 2023. O PIB do primeiro trimestre teve um desempenho melhor que o esperado com bons resultados do varejo e serviços, seguindo o processo de reabertura e refletindo também em um maior nível de emprego.
O principal risco para o nosso cenário é externo. A inflação global ainda acelera e um aperto monetário nos EUA maior que o esperado pode trazer mais volatilidade para os mercados, piorando as condições financeiras globais impactando o crescimento e podendo levar a juros maiores no Brasil
Inflação surpreendeu novamente no curto prazo
O impacto da elevação dos preços dos combustíveis foi maior que o esperado e revisamos nossa projeção de inflação de 6,8% para 7,4% para 2022. A inflação acumula 11,3% em 12 meses até março, uma alta significativa que reflete novos choques de oferta, principalmente em alimentos e combustíveis, mas também mostra uma aceleração da inflação dos serviços no primeiro trimestre do ano, resultado de uma economia mais aquecida e da reabertura pós pandemia.
O risco de termos inflação alta por um período maior aumentou, mas há fatores que devem contribuir de maneira positiva nos próximos meses. A política monetária mais restritiva, com um ajuste de elevada magnitude na taxa de juros, deve começar a ter efeito na demanda agregada, restringindo o crédito e desestimulando o consumo. Os preços das commodities no mercado internacional mostram uma acomodação na margem e novos reajustes tendem a ser menores daqui em diante, apesar de uma inflação de bens industriais que ainda pode perdurar por alguns meses, como antecipado pelos recentes reajustes ao produtor (elevado IGP de 2,48% em abril) e pelo lockdown na China, ainda impactada pela Omicron. Por fim, a valorização do real acumula 18% em 2022 e deve amenizar, em parte, a alta dos preços de bens comercializáveis nos próximos meses.
Dólar
Revisamos nossa projeção para o cambio para R$4,90 em 2022 e R$5,00 em 2023. O cenário externo permanece desafiador e o dólar teve valorização de cerca de 5% esse ano em relação à cesta de moedas, devido à expectativa de aumento dos juros pelo Fed de maneira mais acelerada. Os juros de longo prazo nos EUA tiveram forte correção, saltaram de 1,5% em dezembro para 2,9% a.a. em abril. O real é destaque entre as principais moedas emergentes, com a maior valorização, e entre os fundamento está a melhora nos termos de troca da balança comercial, que reduziram nossa estimativa de déficit em conta corrente de 1,5% para 0,5% do PIB esse ano. Os juros maiores aqui, com a antecipação do ciclo de alta feita pelo Banco Central comparado com outros países, também contribui para a atratividade do investimento estrangeiro no Brasil.
O risco fiscal segue em baixa. Contribuindo para a apreciação do real, o risco fiscal segue controlado. Além da melhora observada nos últimos meses, com a boa performance dos setores ligados a commodities, a PLDO de 2023, apresentada ao Congresso essa semana, tem como destaque uma nova expectativa de redução dos gastos públicos em relação ao PIB. Entre 2016 e 2022 observamos uma consolidação fiscal com a redução das despesas e a volta do superavit primário, que estimamos em 0,1% do PIB em 2022. As despesas/PIB saíram de 20% em 2016 para 17,8% em 2023. As pressões por reajustes e aumento de gastos devem continuar, alinhado ao debate eleitoral. No entanto, o teto de gastos, mesmo após flexibilizações, vem se mostrando efetivo para o controle da expansão das despesas do governo, enquanto a maior inflação e o bom desempenho da economia ligada ao setor de commodities se reflete em um resultado fiscal melhor que o esperado, tanto para o governo federal como apara os estaduais.
Selic em 12,75%
O Copom deve novamente subir a Selic em 1 p.p. na reunião em maio, levando a taxa para 12,75%. Apesar da maior inflação em março e das revisões de expectativa para o ano, esperamos que o Copom mantenha o ajuste da taxa conforme antecipado. A Selic em 12,75% já será suficiente para a convergência da inflação para a meta em 2023, apesar que ainda acima do centro da meta, na nossa estimativa em 3,8%. Nesse patamar, terminaremos o ano com uma taxa de juros real ex-ante próxima de 8%, nível já bastante restritivo. Não descartamos uma alta adicional de 0,5% na reunião em junho, caso as medidas de núcleo da inflação, excluindo a alta dos itens mais voláteis como alimentos e combustíveis, permaneça acima da meta, impactando nas expectativas par o próximo ano.
Melhora no PIB
Revisamos nossa projeção ao de crescimento do PIB de 0,5% para 0,8% em 2022 e mantemos em 1,5% para 2023. Os dados preliminares do primeiro trimestre do ano apontam para um crescimento da economia de cerca de 0,5%, bem acima da nossa projeção inicial de estabilidade. O varejo vem surpreendendo com um crescimento maior e o setor de serviços segue em recuperação com a reabertura. A taxa de desemprego também teve queda inesperada contribuindo para uma melhora, apesar de modesta, na massa salarial. Para o restante do ano, a inflação alta ainda prejudica o poder de compra do consumidor e a taxa de juros mais restritiva tende a inibir uma expansão mais robusta dos investimentos e esperamos uma retomada para um ritmo mais moderado de crescimento somente em 2023, com o início do ciclo de redução da Selic. Os setores exportadores devem continuar sendo beneficiados pela maior demanda global e melhores preços das commodities, tanto para a indústria extrativa como para a agropecuária.
Risco Externo
O principal risco para o nosso cenário é externo. A inflação global ainda está acelerando e um aperto monetário nos EUA maior que o esperado pode ser necessário, trazendo mais volatilidade para os mercados, com uma deterioração das condições financeiras, principalmente para países emergentes. O Brasil conta com alguns mitigantes para esse risco, como um balanço de pagamentos mais robusto, reduzindo a necessidade de investimento estrangeiro para financiamento das contas externas e um diferencial de juros que já considera um premio bastante elevado, mesmo para períodos de maior aversão a risco.