Macroeconomia


Inter Forecast Abril 2023

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Rafaela Vitória

Publicado 14/abr5 min de leitura

Copom mais hawkish que o necessário

Mantemos nossa projeção de inflação em 5,6% para 2023, com leve alta de 4% para 4,1% em 2024. O primeiro trimestre de 2023 fechou com inflação de 2,1%, mas os sinais são de desaceleração nos próximos meses, e esperamos que o IPCA termine o ano em 5,6%. Uma surpresa positiva adicional pode vir da menor inflação de bens, com o IGP negativo em 12 meses e demanda mais fraca devido à desaceleração no crédito.

Projetamos crescimento do PIB em 0,8% em 2023 e 1,5% em 2024, mas vemos risco de atividade doméstica mais fraca. A elevada taxa de juros e consequente desaceleração do crédito deve impactar a atividade e o PIB pode voltar a ter variação negativa no 2o trimestre. O crescimento de 0,8% esperado para o ano ainda é basicamente devido à agricultura e exportações.

Mesmo com a apresentação do novo arcabouço fiscal tendo sido bem recebida, nossa expectativa de início dos cortes da Selic foi revisada de junho para agosto. O Copom deixou claro na última ata que não vê espaço para queda de juros no curto prazo, tendo como foco as expectativas de inflação em alta, medida pela pesquisa Focus. No entanto, mantemos nossa visão de que os juros estão em patamar excessivamente restritivo e o maior aperto de crédito e sinais de queda da inflação devem contribuir para uma mudança na direção do Copom a partir do segundo semestre.

Cenário externo ainda requer cautela na condução de políticas econômicas no Brasil. Por um lado, a crise bancária nos EUA foi amenizada pelas medidas de liquidez do Fed, mas por outro, a lenta queda da inflação deve requerer ainda uma alta adicional pelo Fed de 25 bps na reunião de maio e o início dos cortes por lá somente devem começar a entrar em discussão no final do ano.

Inflação em março indica tendência de desaceleração

Mantemos nossa projeção de IPCA em 5,6% para 2023. Os dados de inflação de março trouxeram uma boa notícia com a desaceleração das medidas de núcleo e da inflação de serviços. Mas os reajustes de preços monitorados foram maiores que o esperado e incorporamos mais uma elevação no ICMS da gasolina a partir de julho, portanto nossa projeção para o ano se manteve constante.

A inflação deve seguir em tendência de queda nos próximos meses, considerando o cenário de maior aperto na oferta de crédito, com menor apetite a risco tanto no mercado bancário como no mercado de capitais. A maior queda nos reajustes de preços deve vir no grupo de bens industriais e alimentos, seguindo a trajetória observada do IGP nos últimos 12 meses, que acumula -1%.

Dólar de volta abaixo de R$5,00

Revisamos nossa expectativa de cambio de R$5,20 par R$5,00 para o final de 2023. Com a proximidade do fim do ciclo de aperto monetário nos EUA, o dólar voltou a perder força nas últimas semanas. Ao mesmo tempo, os fundamentos de fluxo comercial e fluxo de investimentos no Brasil permaneceram fortes e favorecem a valorização do real. O novo arcabouço fiscal trouxe melhora na percepção de risco fiscal e, mesmo com a esperada queda na Selic no segundo semestre, o diferencial de juros deve continuar elevado e manter o real próximo do patamar de R$5,00.

Revisamos nossa expectativa de corte na Selic para Agosto

Apesar dos sinais de queda de inflação, o Copom foi mais duro na última ata e ainda não considera cortes nas próximas reuniões. O Banco Central segue focado nas expectativas de inflação, que ainda apontam para IPCA esperado acima da meta. No entanto, a inflação de março trouxe uma leitura mais positiva e o juro real fica em patamar ainda mais restritivo nos próximos meses com a queda recente da inflação corrente. A concessão de crédito bancário desacelerou novamente em fevereiro, com significativo aumento das taxas e as emissões no mercado de capitais no primeiro trimestre tiveram queda de 40% em relação a 2022. A confirmação de dados de atividade em queda e inflação desacelerando, juntamente com a aprovação do novo arcabouço fiscal, devem contribuir para estabilizar as expectativas de inflação.

Revisamos nossa expectativa de início da redução da Selic para agosto, terminando o ano com a taxa em 12%. O corte esperado para 2023 ainda é moderado e a taxa Selic deve continuar restritiva ao longo de 2024, garantindo a convergência da inflação para ao redor da meta até 2025.

PIB mais fraco em 2023 e 2024

Mantemos nossa projeção de crescimento do PIB de 0,8% para 2023 e 1,5% para 2024. O crescimento nesse ano é derivado praticamente do setor agropecuário e principalmente com base nas exportações. A safra recorde esperada para esse ano deve dar contribuição positiva para o PIB, mesmo com o aperto monetário em curso. Já a indústria e os setores de serviços devem perder força, com a desaceleração do crédito e o elevado comprometimento da renda com a alta de juros.

Cenário externo

O cenário externo permanece desafiador, com a expectativa de mais uma alta pelo Fed em maio. Apesar do fim do ciclo próximo, entre os reflexos da política monetária mais restritiva está o maior risco de recessão nos EUA. Os dados mais recentes do mercado de trabalho e vendas no varejo em março já apontam para uma queda da atividade. A queda da inflação nos EUA ainda deve ser mais lenta, mas o atual patamar de juros de 5% deve ter forte impacto na economia nos próximos trimestres e o risco de recessão permanece elevado. A crise bancária foi amenizada, mas a redução na oferta de crédito também pode ser observada nos balanços principalmente dos bancos médios.


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