FED eleva juros novamente em 0,25 p.p.
Em decisão amplamente esperada, o Fed sinaliza fim do ciclo de aperto. Após 10 altas consecutivas, o Fed deverá manter a taxa de juros em 5,25% (upper bound) pelos próximos meses, encerrando o ciclo de alta mais agressivo dos últimos 30 anos. Com a inflação ainda rodando a uma taxa anualizada de 5%, a expectativa é que o ciclo de cortes inicie apenas em 2024.
Fed alterou seu comunicado adicionando linguagem consistente com pausas observadas no passado. No comunicado após a última reunião, o FOMC via que “alguma restrição adicional na política fosse necessária”, o que, após os episódios bancários de março, foi visto como uma forma de não se comprometer a pausar naquele momento. Ao retirar essa frase, o FOMC sinaliza que não antevê altas adicionais e que será data-dependent daqui para frente. Esse último ponto foi enfatizado pela frase de que o “comitê está preparado para ajustar a política monetária da maneira que for apropriada caso algum novo fato coloque em risco o cumprimento das metas”.
Fed ainda se mostra preocupado com a inflação elevada, mas considera sistema bancário resiliente e robusto. Portanto, o Fed não vê necessidade de alterar sua política em vista aos recentes acontecimentos bancários, pelo contrário, o comitê conta com a ajuda da desaceleração do crédito no processo de desinflação, reduzindo a atividade e afrouxando o mercado de trabalho.
Eventual pausa não significa política menos restritiva. No comunicado, o FOMC anuncia a continuidade do quantitative tightening, reduzindo a sua posição em títulos do tesouro e hipotecários. Portanto, a liquidez continuará sendo drenada do mercado nos próximos meses, o que pode continuar adicionando pressão sobre os bancos americanos.
Dessa vez será diferente? Powell disse na coletiva de impressa que acredita ser possível trazer a inflação de volta à meta sem causar uma recessão na economia americana. Seria algo extraordinário e que nunca aconteceu após um aperto tão intenso quanto esse. De fato, o mercado de trabalho continua bastante aquecido, com a taxa de desemprego na mínima histórica. Entretanto, o mercado de trabalho é uma das variáveis mais defasadas do ciclo e, tipicamente, a taxa de desemprego alcança a mínima pouco antes da recessão iniciar. Além disso, há diversos indicadores antecedentes que sugerem uma recessão iminente, e os episódios bancários recentes, seguidos da desaceleração de crédito que já se observa, apenas aumentam essa probabilidade.
Quando os cortes iniciarão?
Com a pausa do Fed o mercado passa a se preocupar com o início dos cortes nos juros. O comunicado do FOMC sugere que o comitê espera que a inflação leve algum tempo para convergir à meta, o que implica que a taxa de juros ficará nesse patamar até o fim do ano. Entretanto, esse cenário é condicionado à economia americana não entrar em uma grande recessão até o fim do ano. Como esse é o cenário base do Fed e ele implica em uma taxa de juros de 5,1% e uma inflação de 3,3% ao fim de 2023, não esperamos cortes antes disso. A não ser que uma crise bancária de fato se materialize trazendo um novo choque na atividade.