Macroeconomia


Especial | Brasil Tarifado

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Rafaela Vitória

Publicado 10/jul2 min de leitura

Brasil Tarifado

Trump anunciou que a partir do dia 01 de agosto, os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos serão tarifados em 50%, bem acima dos 10% inicialmente anunciados no dia 02 de abril. Até o momento, o Brasil foi o país que teve a maior tarifa aplicada, após o fim do prazo de 90 dias para a negociação dos acordos bilaterais.

Ao anunciar sua decisão, Trump elencou mais motivos políticos que comerciais, deixando clara sua insatisfação com o processo que o ex-presidente Jair Bolsonaro responde na justiça, assim como a postura do STF com empresas americanas de tecnologia. Considerando que o Brasil incorre em déficits recorrentes com os Estados Unidos, ou seja, importa mais produtos do que exporta, há pouco sentido econômico nessa decisão de impor uma elevada tarifa nesse momento, e o principal impacto, se confirmada a tarifa, será o aumento de custo para o consumidor americano.

Para o Brasil, o impacto econômico no curto prazo deve ser limitado, considerando a baixa participação das exportações no PIB, cerca de 2%, concentrada em commodities. No médio e longo prazo, no entanto, o cenário de maior incerteza pode pressionar o cambio e manter a inflação acima da meta, além de potencialmente reduzir o investimento no país, um quadro de desaceleração que pode ser ampliado pelo impacto da elevada Selic no momento.

A economia brasileira é uma economia bastante fechada ao comércio internacional, com elevadas tarifas de importação em geral. Além disso, nossa exposição ao mercado americano é relativamente pequena. Apesar de ser o 2º maior parceiro comercial, atrás da China, apenas 12% das nossas exportações tem como destino os EUA.

Além disso, nossa pauta de exportação é baseada em commodities. Entre os 10 principais produtos exportados para os Estados Unidos, 7 são commodities, como petróleo e café. Tais itens são mais facilmente redirecionados para outras economias, condicionado que haja demanda internacional para absorver esses produtos.

Em termos macroeconômicos gerais, confirmada a tarifa, podemos observar uma depreciação do real, movimento que tipicamente ocorre de modo a compensar o impacto, mantendo a competividade dos produtos exportados em dólar. Além disso a maior incerteza e aversão a risco também pode resultar em potencial depreciação do real. Caso se confirme, esse movimento poderia ser um entrave ao atual processo de desinflação. Por outro lado, o real ainda está longe do patamar observado no fim do ano passado, quando a taxa de câmbio chegou a R$6,30, e o alto diferencial de juros entre a economia brasileira e americana tende a evitar movimentos mais abruptos na taxa de câmbio.

A médio prazo, o aumento das tarifas, não somente para o Brasil, tende a levar a um impacto negativo na atividade, principalmente na produção industrial, que já se encontra em tendência de queda. Particularmente no Brasil, dadas as condições financeiras adversas, com Selic a 15%, isso pode contribuir para uma desaceleração maior que o esperado do PIB, potencialmente gerando leituras negativas nos próximos trimestres. O impacto sobre o PIB tende a ser moderado, dada a baixa exposição da economia brasileira à americana, mas o risco de desaceleração da economia global deve persistir com a confirmação das elevadas tarifas impostas a diversos países, comprometendo também o crescimento em 2026.


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