Macroeconomia


Curva de juros e alocação de ativos

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André Valério

Publicado 04/mai

Curvas de juros contêm muita informação

Os movimentos nas curvas de juros podem conter informações valiosas. Boa parte da expectativa dos agentes do mercado são resumidas nas curvas de juros. E dentre os principais movimentos observados, há quatro que se destacam.

Bear Steepener: é caracterizado pelo fato de as taxas longas aumentarem mais rapidamente que as taxas curtas, inclinando a curva. É associado a um ambiente de maior apetite ao risco e tende a aparecer nos estágios iniciais do ciclo de negócios, após uma recessão em que o banco central cortou as taxas de juros e sinaliza mantê-la em patamar reduzido.

Bear flattener: ocorre quando as taxas curtas aumentam mais rapidamente que as taxas longas, comprimindo as taxas e deixando a curva mais plana. Tipicamente surge na fase de expansão da economia, pouco antes do Fed aumentar a taxa básica para conter as pressões inflacionárias.

Bull steepener: ocorre quando as taxas curtas caem mais rápido que as taxas longas, inclinando a curva. Tipicamente associado com períodos de maior aversão a risco, surge no início de uma recessão, em um ambiente caracterizado pela maior incerteza à medida que o banco central corta as taxas de curto prazo para estimular a economia.

Bull flattener: ocorre quando as taxas longas caem mais rápido que as taxas curtas, tornando a curva mais plana. Surge quando uma recessão passa a ser precificada, antecipando maior turbulência nos mercados e uma maior desinflação.

Esses movimentos acontecem frequentemente na curva de juros. No gráfico abaixo, temos cada um desse movimentos documentados para a curva de juros americana, definida pelo spread entre a Treasury de 10 anos e a de 2 anos.

Alocação de ativos de acordo com a curva de juros

Dada a frequência desses movimentos e as expectativas contidas neles, faz sentido questionar como as principais classes de ativos performaram em cada um desses regimes. Após identificar cada um desses movimentos, definimos um regime quando esse movimento persiste por pelo menos três meses consecutivos. Além disso, distinguimos se a economia está em fase de aceleração ou desaceleração do crescimento econômico. Para tanto, consideramos a média móvel de 12 meses da variação do Conference Board Leading Economic Indicator, o principal indicador antecedente da economia americana.

Para ativos de risco, o ambiente de crescimento é mais importante do que o regime da curva de juros. Como podemos ver pela tabela abaixo, ativos de risco performam relativamente bem em todos os cenários, contanto que a economia esteja acelerando. Entretanto, o regime mais favorável para os ativos em geral, no contexto de aceleração do crescimento, é o Bull Steepener, ou seja, quando o banco central começa a aliviar o aperto monetário em um momento em que a economia está começando a acelerar seu crescimento.

Como se posicionar nesse momento em que o Fed pausou o ciclo de alta nos juros?

Fed indica que não fará altas adicionais na taxa de juros. Por outro lado, o crescimento americano dá claros sinais de desaceleração, portanto, estamos nos aproximando do momento em que o Fed realizará a mudança de rumo na política monetária, cortando as taxas de juros curtas, portanto, um regime de Bull Steepening. Nesse cenário, vemos os ativos de risco sofrendo mais e o dólar perdendo força frente às moedas mais fortes (lembrando que a definição da taxa de câmbio utilizada é tal que variações positivas implicam valorização do dólar). Portanto, ativos defensivos são os mais adequados, e faz sentido ficar comprado em bonds, iene e ouro, e vendido em ações.


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