Cenário pós eleição
Passada a eleição, a primeira reação do mercado é um alívio com a redução do risco político. Após uma disputa bastante acirrada, os mercados domésticos têm uma reação inicial positiva à transição política. O real, que chegou na mínima do ano em R$4,60 em abril, teve desvalorização de quase 20% até às vésperas do primeiro turno, voltando para R$5,40. No atual patamar de R$5,10 voltou a acumular valorização de 8% no ano, refletindo uma visão benigna do investidor estrangeiro. De fato, o ingresso de investimento direto no país em 2022 já vinha se intensificando, e o IDP caminha para fechar o ano próximo de U$80 bilhões, equivalente a 4% do PIB, melhor marca desde 2014. No cenário externo, o Brasil se destaca por estar distante de conflitos geopolíticos e ser produtor e exportador líquido de commodities, principalmente agrícolas e petróleo. Uma retomada da agenda ESG pode significar mais ingressos de investimentos de fora e beneficiar o Real.
Cenário para inflação e juros ainda apresenta incerteza
inflação em outubro deve voltar para território positivo após 3 meses de deflação, mas o cenário base para 2023 ainda é de convergência para a meta. O IPCA até setembro acumulou 7,2% em 12 meses e nossa expectativa é que continue desacelerando para 5,6% ao final de 2022 e 4,7% em 2023, no teto da meta que é de 4,75%. No entanto, esperamos que os juros fiquem elevados por mais tempo. Na recente decisão do Copom em manter a Selic em 13,75%, o Banco Central ressalta o risco atrelado à potencial expansão de gastos em 2023, relacionado ao tamanho do waiver para novas despesas públicas em 2023, o que ainda está indefinido. O novo governo pretende propor, ainda esse ano, despesas extra teto para acomodar o aumento do programa Auxílio Brasil a partir de 2023, mas a definição sobre a nova âncora fiscal deve ficar para o próximo ano, negociada com o Congresso eleito. No cenário de incerteza fiscal, com dívida elevada e sem clareza sobre a trajetória do déficit, os juros devem permanecer elevados até que se possa fazer uma melhor avaliação do impacto das medidas tanto na inflação, via estímulo da demanda, como no prêmio de risco, que pode afetar a taxa de juro neutra da economia. Apesar da queda do dólar nos primeiros dias de novembro, as taxas de juros permanecem em patamar elevado, indicando inflação implícita acima de 6% e juros reais também próximos de 6%, refletindo ainda o risco fiscal.
No cenário externo, inflação e juros também preocupam os investidores
O mês de outubro foi marcado por novas rodadas de elevações de juros nos EUA, Europa e Reino Unido. A inflação nos países desenvolvidos tem se mostrado mais persistente e acumula 10% em 12 meses na zona da Euro, e 8,3% no EUA. O Fed elevou os juros pela quarta vez em 0,75 p.p. e indicou que a taxa terminal pode ser maior que o anteriormente previsto, ou seja, podemos chegar em março de 2023 com o Fed Fund Rate próximo de 5%. A volatilidade nas bolsas deve continuar até se ter maior clareza sobre o fim do ciclo. Os sinais de desaceleração da atividade aparecem nos indicadores antecedentes de produção industrial global, mas o mercado de trabalho americano continua aquecido, como mostrou os dados do payroll de outubro. O investidor deve seguir com cautela, aproveitando das oportunidades em renda fixa, mas sem deixar de alocar em ativos de risco, que , como vimos, podem voltar a valorizar aos primeiros sinais de redução do risco.