Macroeconomia


Câmbio | 02.Jan.25

gustavo

Gustavo Menezes

Publicado 02/jan2 min de leitura

Oferecendo uma retrospectiva do câmbio em 2024

O câmbio fechou o ano de 2024 cotado a R$6,18, numa desvalorização acumulada de 26,38%. Vimos na última semana um cenário externo misto em conjunto de uma continuação dos temores fiscais, motivados pelo bloqueio das emendas parlamentares pelo STF que poderia gerar implicações desfavoráveis para os gastos do governo logo no fim do orçamento anual.

Com a desvalorização vista no fechamento de 2024, o Brasil marcou um resultado antes visto somente em situações de estresse agudo, tais como a Covid-19, a crise político-econômica de 2015, a crise financeira de 2008 e o “Efeito Lula” de 2002. Houve deterioração progressiva nos primeiros meses do ano, marcada principalmente pelas tensões no Oriente Médio, por temores de intervenção política no BC e por um FOMC mais hawkish do que o esperado, que culminaram, por fim, na percepção crescente de risco fiscal entre outubro e dezembro, originalmente oriunda da aversão doméstica que, juntamente com eventos-calendário de saídas de dividendos em meio à tributação de multinacionais, levou o dólar ao patamar recorde de R$6,30 em meio ao ritmo mais intenso de saídas cambiais desde setembro de 1998, às vésperas do fim da âncora cambial, antes de retroceder em razão dos leilões à vista promovidos pelo BC totalizando mais de US$20 bilhões.

Porém, mesmo com a queima de reservas do Banco Central e a sinalização de mais 200 bps de alta nas próximas duas reuniões do Copom, o câmbio ainda se manteve em níveis acima de R$6,00. Apesar de estar descontado, tanto frente a paridade de poder de compra quanto aos pares emergentes em meio a um diferencial de juros historicamente atrativo, a depreciação não perdeu o ritmo graças à falta de apetite de investidores que ficaram descontentes com a contínua frustração das notícias de ajuste fiscal do governo, que segue sem solução crível para a trajetória crescente de endividamento e já gera pressão significativa nos dados de déficit nominal, inclusive provocando temores de dominância fiscal por parte dos agentes de mercado.

O cenário externo também foi desafiador em 2024: em meio à sólida performance econômica dos Estados Unidos e à performance robusta do S&P 500, em conjunto com um sentimento de aversão à emergentes provocado pela eleição de Trump. 2024 foi marcado por uma grande migração de capital financeiro não só do Brasil, mas também do resto do mundo, em direção aos Estados Unidos. Isso impulsionou o câmbio real americano para patamares antes vistos somente em 1985, situação que na época havia motivado um movimento coordenado dos países desenvolvidos para depreciar o dólar no Acordo de Plaza.

Desta vez, não vemos um indicativo claro de que isso irá ocorrer, mas o efeito do dólar forte já exerce peso no déficit americano de transações correntes antes da posse da nova administração, que deve buscar meios de tornar as exportações do país mais competitivas além de ampliar os déficits fiscais num movimento que é desfavorável para a manutenção do DXY nos níveis atuais.

Por ora, não temos visto a materialização destas pressões adversas, mas ressaltamos que elas estão parcialmente condicionadas a uma perda de apetite pelo mercado de renda variável americano, que já embute atualmente expectativas desafiadoras de lucros que podem ser frustradas em vários trimestres à frente, situação na qual o Brasil pode se tornar um destino atrativo para o fluxo de capital estrangeiro caso a pauta fiscal seja solucionada, trazendo assim o câmbio para patamares mais próximos do equilíbrio de médio prazo, atualmente estimado em R$4,60.


Compartilhe essa notícia

Notícias Relacionadas

Receba nossas análises por e-mail