Atividade dá sinais de desaceleração em novembro
Todas as atividades pesquisadas pelo IBGE apresentaram recuo na produção mais intenso do que o esperado. Vemos sinais de enfraquecimento da demanda para o varejo, que teve desempenho aquém do esperado mesmo em mês de black Friday, mas a piora nas condições de crédito parece impactar de maneira mais intensa a atividade, deteriorando as condições de oferta. Para o mês de novembro, esperamos que o IBC-Br, a medida de PIB mensal do banco central, apresente um recuo de 0,4%, indicando o que pode ser o início da acomodação do crescimento, que vem surpreendendo desde o pós-pandemia.
Indústria varia -0,6% em novembro
É o segundo mês consecutivo de queda na produção industrial. Em relação a novembro de 2023 a indústria apresentou uma alta de 1,7% sexta taxa positiva consecutiva nessa comparação. O recuo foi disseminado, com 76% das atividades pesquisadas apresentando redução na produção frente a outubro.
As principais contribuições negativas foram produção de veículos e produção de derivados de petróleo, com recuos de 11,5% e 3,5%, respectivamente. A produção de veículos tem sido um dos grandes contribuintes para o crescimento da produção industrial em 2024, com alta acumulada de 15%. Para dezembro, antevemos uma nova contribuição negativa da produção de veículos, tendo em vista que, de acordo com a Anfavea, a produção recuou 19% em dezembro. No campo positivo, o destaque foi a produção de de máquinas e equipamentos foi a de maior impacto, com alta de 2,3%.
Também se observou recuo generalizado em todas as grandes categorias econômicas, com destaque para o recuo de 1,7% na produção de bens de capital e de 1,6% na produção de bens de consumo. Apesar do recuo, a produção de bens de capital mantém ritmo robusto de crescimento no ano, acumulando alta de quase 9%, um bom sinal em termos de ampliação da capacidade produtiva. O resultado de novembro reforça a ideia de que devemos ver uma acomodação da produção industrial, depois do esgotamento das boas perspectivas vistas em 2024 e o enfraquecimento da demanda. Além disso, o aperto nas condições financeiras tendem a impactar o setor de maneira mais intensa, o que deve manter a trajetória de crescimento em direção descendente.
Serviços recuam 0,9% em novembro
O resultado veio bem abaixo da expectativa, mas ainda assim o setor se encontra 16,9% acima do nível pré-pandemia, acumulando crescimento de 3,2% no ano e de 2,9% nos últimos 12 meses.
Apesar do resultado negativo, apenas duas atividades dentre as cinco pesquisadas tiveram recuo no volume, transportes e serviços profissionais, com recuo de 2,7% e 2,6%, respectivamente. Portanto, o desempenho negativo foi devido, principalmente, à questões de oferta, enquanto as atividades mais sensíveis à demanda mantiveram bom desempenho, como é o caso dos serviços prestados às famílias, com alta de 1,7% no mês. Por um lado, o desempenho dos serviços prestados às famílias ainda é sustentado pelo bom desempenho do mercado de trabalho, o que mantém a massa salarial elevada. Por outro lado, o desempenho de transportes foi influenciado pela queda nas atividades turísticas, de 1,8%. Finalmente, a queda intense nos serviços técnicos-profissionais pode ser indício das piores condições financeiras já afetando a produção, algo que poderá ser confirmado nas próximas divulgações.
Varejo recua -0,4% em novembro
O resultado veio abaixo do esperado, mas, ainda assim, o setor acumula alta de 5% no ano, sendo um dos grandes destaques de 2024.Frente a novembro de 2023, o varejo registrou alta de 4,7%, 18ª taxa positiva consecutiva nessa métrica.
No varejo restrito, a queda foi disseminada, com cinco das oito atividades pesquisadas registrando queda no volume de vendas, com destaque para móveis e eletrodomésticos e artigos farmacêuticos, com quedas de 2,8% e 2,2%. No lado oposto, os destaques positivos foram equipamentos para escritório e vestuário, com alta de 3,5% e 1,4%.
No varejo ampliado, que inclui veículos, materiais de construção e atacado alimentício, o recuo foi ainda mais intenso, de 1,8% frente a outubro, amplamente influenciado pela queda de 7,6% na venda de veículos. A venda de veículos foi um destaque 2024, acumulando alta de 16% de acordo com a Anfavea, impulsionado pela maior oferta de crédito para aquisições de veículos.
O resultado de novembro sugere perda de dinamismo do setor, com atividades mais ligadas à demanda enfrentando dificuldades. O volume de vendas das atividades mais sensíveis à renda recuou 0,2% no mês, a despeito do crescimento da massa salarial, o que sugere que as menores transferências de renda por parte do governo no 2º semestre de 2024 tenha contribuído para esse desempenho, uma tendência que deve se manter em 2025 com o impulso fiscal menor. Além disso, a escassez de crédito também aparenta estar impactando o setor, com o volume de vendas das atividades mais sensíveis ao crédito recuou 4,8% no mês, tendência que deve piorar nos próximos meses, com a Selic prevista a chegar a 15% ao longo de 2025.