Transações correntes foram deficitárias em US$8,7 bilhões em janeiro
Transações correntes foram deficitárias em US$8,7 bilhões em janeiro, ante expectativa de um déficit de US$9,0 bilhões. No acumulado dos últimos doze meses, o déficit foi de US$65,4 bilhões, ou 3,0% do PIB. O resultado em dezembro foi fruto do recuo de US$4,3 bilhões no saldo comercial, e do aumento em US$1 bilhão no déficit de serviços, que foram compensados com melhora conjunta de US$1,1 bilhão no saldo de renda primária e de US$30 milhões no saldo de renda secundária. Nota-se ainda que o resultado pior, em nível, é parcialmente derivado de uma revisão metodológica feita pelo BC, que ampliou o critério de registro para viagens internacionais e ampliou o déficit em transações correntes.

Investimento Direto no País (IDP) teve ingresso líquido de US$ 6,5 bilhões
O IDP em dezembro foi de US$6,5 bilhões, ante expectativa de saídas líquidas de US$5,7 bilhões. Nesse mês, houve ingresso líquido de US$4,7 bilhões em participação no capital e entradas de US$1,8 bilhões em operações intercompanhia. No acumulado de 12 meses, o IDP totalizou US$68,5 bilhões, o que corresponde a 3,2% do PIB.

Balança comercial
Em janeiro, a balança comercial registrou superávit de US$2,2 bilhões, contrastando com os US$6,2 bilhões atingidos no mesmo mês do ano anterior e acumulando saldo de US$70,1 bilhões nos últimos 12 meses conforme dados da Secex. A internalização de divisas por motivo comercial atingiu saídas líquidas de US$2,2 bilhões em janeiro e entradas líquidas de US$60,6 bilhões no acumulado de 12 meses, num resultado particularmente negativo e que serve como indício inicial de que a deterioração da balança comercial não está sendo compensada com a repatriação de divisas por exportadores.

As exportações variaram -5,7% frente a janeiro de 2024, com qualitativo ligeiramente melhor que o apresentado em dezembro. Porém, as quedas de volume nas principais pautas agropecuárias persistem, e o crescimento do volume de petróleo foi apenas modesto, não compensando as demais linhas.

As importações variaram 12,2% frente a janeiro de 2024, continuando o ritmo de enfraquecimento observado nos três meses anteriores, com a leitura qualitativa indicando arrefecimento marginal na difusão dos volumes importados, ainda que não indique tendência generalizada em meio a uma indústria cuja produção, apesar de crescimento recentemente ameno, se mantém em níveis mais firmes do que vistos em anos anteriores.
Destaca-se também o crescimento nas importações de veículos, fruto de um consumo das famílias ainda pujante apesar de sinais pontuais de perda de força no mercado de trabalho, que merecem mais atenção nas próximas divulgações e pode impulsionar uma retomada no saldo comercial, que continua reduzindo no acumulado de 12 meses após atingir um pico de cerca de US$100 bilhões, impondo leves pressões no equilíbrio do setor externo que acende um ponto de atenção, caso os fluxos de IDP não apresentem retomada proporcional como contrapeso.

Cripto e serviços
A conta capital, substancialmente composta por transações de criptomoedas, atingiu um déficit de US$1,3 bilhão em janeiro, frente a US$1,5 bilhão em janeiro de 2024 e acumulando US$16,0 bilhões nos últimos doze meses, ou 0,74% do PIB. Notamos estabilização no fluxo de saídas, em conjunto com redução na popularidade das criptomoedas num ciclo de mercado que tem caminhado num ritmo mais ameno do que esperado pela maioria dos participantes.

Como anteriormente notado, boa parte do fluxo de saídas de criptomoedas está atrelado a moedas com vínculo transacional (stablecoins) e não especulativo. Ainda é cedo para concluir que este ciclo de mercado se encerrou prematuramente, porém as saídas mensuradas pelo BC seguem estáveis nas últimas leituras. É possível que revisões posteriores demonstrem um fortalecimento deste fluxo, mas o que vemos até agora é uma boa notícia para o balanço de pagamentos brasileiro, que já sofre com as reduções do saldo comercial em conjunto com um saldo de serviços também mais negativo por conta do efeito latente de uma economia aquecida. De todo modo, vemos tendência de estabilização nos serviços associados à demanda das famílias, que pode indicar uma perda de momento no consumo privado em conjunto com o maior controle com os gastos em bets após campanhas de desincentivo promovidas pelo governo federal.
