Macroeconomia


Análise | Juros nos EUA | Mai22

Daniel_Arruda

Daniel Arruda

Publicado 04/mai3 min de leitura

FED eleva taxa de juros para intervalo entre 0,75% e 1,0%

Alta de 0,5 p.p. veio em linha com o consenso das projeções de mercado. A autoridade também reafirmou que a conjuntura econômica atual requer a continuidade do movimento de contração monetária, e sinalizou prováveis novas altas de 0,5 p.p. nas próximas reuniões, caso o cenário evolua conforme o projetado. Dessa forma, elevações mais intensas da ordem de 0,75 p.p. perderam materialidade, o que foi percebido como mais dovish pelo mercado. Os juros americanos de 2 anos reagiram ao comunicado do FED com queda de aproximadamente 0,15 p.p., para 2,65%.

Além disso, foi apresentado um plano para diminuição do balanço do Banco Central a partir de junho. Esse movimento deve se iniciar com reduções de US$ 30 bilhões ao mês para títulos do governo e de US$ 17,5 bilhões para hipotecas; após três meses, o ritmo de redução será dobrado, alcançando volume total equivalente a US$ 95 bilhões. Vale lembrar que a intensidade dessas vendas é mais expressiva do que a observada entre 2017 e 2019, o que traz incerteza para a resposta da liquidez na economia e dos preços dos diversos ativos financeiros.

Mercado de trabalho americano segue sobreaquecido e pode pressionar preços

Apesar da retração do PIB de 1,4% no primeiro trimestre de 2022, que surpreendeu o mercado, a economia americana segue em boa forma. O crescimento de 2,7% no consumo das famílias e de 7,3% no investimento foi compensado pelo salto de 17,7% nas importações, o que gerou o sinal negativo no indicador agregado.

A demanda agregada se mantém robusta, o que implica a continuidade do descasamento entre oferta e procura no mercado de trabalho. O número de vagas de trabalho disponíveis aumentou para 11,5 milhões em março, ante 11,3 milhões no mês anterior, o que representa quase o dobro da quantidade de desempregados na economia americana. Além disso, a taxa de pedidos de demissão se manteve no patamar historicamente elevado de 3,0%, o que aponta para alto poder de barganha dos funcionários e pressão sobre os salários reais.

Tomando o acumulado em oito trimestres, de forma a compensar pela volatilidade trazida pela pandemia, a pressão dos salários sobre a inflação já é observada. Sob essa ótica, o custo unitário do trabalho (CUT), que representa a evolução dos salários ajustados pela produtividade, mostra alta de 5,0% até o final de 2021, acima do núcleo do PCE de 3,2% no mesmo período. Projeta-se que o CUT avance em 10% no primeiro trimestre de 2022, o que elevaria ainda mais o risco de persistência da inflação.

Nesse sentido, o FED precisará gerar uma recessão na economia americana para controlar o aumento dos preços? Por um lado, a pressão de salários e a aceleração do núcleo da inflação de serviços para 5,5% no primeiro trimestre sugere a necessidade de uma contração monetária mais forte, o que teria impacto negativo na atividade. No entanto, o Presidente do FED, Jerome Powell, vem apontando que existe a possibilidade de a política monetária exercer impacto suficiente para realinhar a oferta e a demanda na economia, sem necessariamente levar a uma contração severa da atividade, especialmente dado o balanço robusto das famílias e das empresas, sendo necessário acompanhar a evolução dos dados de inflação e emprego para avaliar a possibilidade desse ajuste. É provável, no entanto, que alguma retração do crédito e um efeito riqueza negativo possam se seguir nos próximos meses, trazendo incerteza para a evolução da atividade.

Até onde vai a taxa de juros?

Para responder a essa pergunta, deve-se ter em mente o patamar para o nível neutro dos juros. Esta variável, não observável diretamente, reflete a taxa de juros que equilibra o hiato do produto e não gera pressão sobre a inflação. Atualmente, estima-se que esteja em torno de 2,5%.

De acordo com o mercado de títulos públicos, a taxa básica do FED deve convergir para cerca de 3,0% até o início de 2023. A partir daí, caberá ao FED optar entre uma estratégia de elevação mais intensa dos juros, acima de 4,0%, ou da manutenção em 3,0%, mas provavelmente por período mais prolongado. Diversas variáveis determinarão a decisão ótima da autoridade monetária, como o desenrolar do cenário de gargalos de oferta (inclusive com a guerra na Ucrânia e o lockdown na China), a força da demanda doméstica e do mercado de trabalho. Uma variável determinante será a expectativa de inflação de longo prazo. Essa métrica, que pode ser extraída das taxas de juros de longo prazo, ainda segue razoavelmente ancorada próximo da meta, embora tenha acelerado nos últimos meses. Caso esse indicador seja pressionado, e atinja patamares mais elevados, o FED pode ser forçado a intensificar o ritmo de alta dos juros, de forma a evitar a perda da sua credibilidade e o avanço da inércia inflacionária na economia americana.


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