Inflação registra menor valor para um mês de janeiro desde 1994, mas perfil da inflação demanda cautela
IPCA registrou alta de 0,16% em janeiro de 2025, em linha com o esperado. Com isso, nos últimos 12 meses, a inflação acumula alta de 4,56%, abaixo dos 4,83% observados em dezembro. Foi o menor resultado para um mês de janeiro desde a criação do Plano Real.

No mês, as principais contribuições para a alta foram os grupos de Transportes e Alimentação e bebidas. O primeiro refletiu a alta de mais de 10% das passagens aéreas, mas também o avanço nas tarifas de ônibus, assim como dos combustíveis, com altas de 3,84% e 0,75%, respectivamente. O grupo de Alimentação e bebidas registrou alta pelo quinto mês consecutivo, principalmente devido à alta de 1,07% na alimentação em domicílio que sofre nos últimos meses com as condições adversas de oferta. Por outro lado, alimentação fora do domicílio desacelerou de 1,19% em dezembro para 0,67% em janeiro.

O núcleo da inflação, medida que retira do cálculo os itens mais voláteis, acelerou em janeiro, como antecipado pelo IPCA-15, saindo de 0,57% em dezembro para 0,61% em janeiro, registrando uma alta média de 0,53% nos últimos 3 meses, mantendo tendência de crescimento no acumulado em 12 meses, alcançando 4,54% em janeiro. Inflação de serviços também apresentou aceleração, saindo de 0,66% em dezembro para 0,78%, influenciada pela alta de 10% das passagens aéreas, mas também indicando uma pressão de inflação mais disseminada no setor de serviços. A inflação de serviços ex-passagens aéreas registrou alta de 0,58%, enquanto os serviços subjacentes e serviços intensivos em trabalho registraram altas de 0,86% e 0,74%. Essas duas últimas medidas são mais sensíveis às condições do mercado de trabalho e indicam um repasse do aperto observado no emprego para a inflação. Por outro lado, a inflação dos itens administrados recuou 1,52% em janeiro, amplamente influenciada pelo bônus Itaipu nas contas de energia elétrica, movimento que será revertido na leitura de fevereiro. Por fim, o índice de difusão, medida do tamanho do processo inflacionário, recuou de 69% em dezembro para 65% em janeiro, mantendo-se em patamar pressionado e sugerindo uma maior pressão inflacionária nos últimos meses.



O resultado de janeiro não apresentou muitas novidades frente ao IPCA-15, sinalizando uma piora da dinâmica da inflação, influenciada pelas questões voláteis do grupo de Alimentação, mas principalmente pela piora do perfil da inflação de serviços. Entretanto, não se observa piora suficiente para alterar a condução da política monetária para além do que o Copom já sinalizou, com um novo aumento de 1 ponto percentual na Selic em março. Como o comitê deixou em aberto os passos seguintes, a partir de maio, as principais variáveis para se observar nos próximos meses estão ligadas à atividade e mercado de trabalho. Os primeiros sinais de desaceleração já podem ser observados e podem contribuir para desacelerar a inflação, principalmente de serviços, considerando a força do choque de juros que começa a ser sentida com as condições financeiras mais restritivas. Nesse cenário de desaceleração da atividade mais acentuada, o Copom pode inclusive pausar o ciclo de alta antes da expectativa atual do mercado.