Inflação americana avança 0,5% em janeiro
O resultado veio em linha com a expectativa. No acumulado de 12 meses, o CPI continua seu processo de desinflação, e atinge 6,4%, menor valor desde novembro de 2021, portanto, anterior à guerra na Ucrânia.
Excluindo alimentos e energia do índice, a variação do núcleo também veio em linha com a expectativa, registrando alta de 0,4%. O resultado veio acima do mês anterior, mas no acumulado de 12 meses também se observa a continuidade do processo de desinflação, e o núcleo atinge 5,6%. Apesar do resultado dentro da expectativa, a inflação de janeiro não sugere um processo de desinflação mais acelerado que o esperado, validando as ações do Fed na condução da política monetária. Portanto, diminui a probabilidade do Fed encerrar o ciclo de alta após a próxima reunião, em março. Em seu último comunicado, o presidente do Fed indicou que pelo menos mais duas altas na taxa de juros seriam necessárias, não descartando ter que ir além. De fato, o mercado de trabalho ainda bastante aquecido se torna um risco altista para a inflação, diminuindo as chances de uma pausa nos próximos meses.

Habitação explica a maior parte da variação do mês
Com avanço de 0,5% em janeiro, componente respondeu por metade da variação total do índice. Inflação de energia também teve contribuição importante, com alta de 2%, fruto de altas de 2,4% na gasolina e 6,7% no gás de cozinha. Alimentação registrou alta de 0,5%, refletindo altas de 0,4% na alimentação em domicílio e de 0,6% em alimentação fora do domicílio.
Excluindo habitação, inflação de serviços desacelerou em janeiro, alcançando 0,28%. Alta havia sido de 0,37% em dezembro. Esse é o indicador acompanhado mais de perto pelo Fed e refletiu deflação de 0,7% nos serviços médicos.

Preços de bens excluindo aqueles relacionados à energia e à comida avançaram 0,4% no mês. Resultado acima do observado em dezembro, mas em linha com a expectativa. Resultado influenciado principalmente por vestuário e habitação. Por outro lado, carros usados deram sequência à deflação observada nos últimos meses, recuando 1,9%.
Núcleo da inflação excluindo aluguel volta a acelerar. Apesar das pressões inflacionárias vinda de componentes mais rígidos terem se dissipado nos últimos meses, aceleração mostra que o trabalho ainda está incompleto. Estes componentes são os mais rígidos e ainda estão em patamar elevado, com taxa anualizada de 3,5%.
Potenciais impactos para a política monetária
O resultado sem surpresas sugere uma validação do atual curso de ação do Fed. Por um lado, vemos inflação de bens industriais e energia desacelerando rapidamente, enquanto a inflação de serviços se mantém em patamar elevado, desacelerando gradualmente. Essa é a grande preocupação do banco central e é algo que estão acompanhando de perto. A inflação de janeiro não sugere uma mudança de curso na política monetária, nem para altas além do precificado, e tampouco para uma pausa antecipada. O mais provável é termos mais duas altas de 25 bps, com a taxa de juros terminal ficando entre 5-5,50%.
Mercado de trabalho é um risco altista para inflação e juros. Como visto no resultado do payroll de janeiro, o mercado de trabalho americano ainda se encontra bastante aquecido, com a taxa de desemprego em mínimas históricas. Tal dinâmica é inconsistente com a convergência da inflação à meta de 2%, como enfatizado por Powell. Portanto, se não observamos uma desaceleração no mercado de trabalho, aumenta o risco de uma nova aceleração na inflação, o que pode levar o Fed a elevar a taxa de juros além do precificado nesse momento. Portanto, as atenções estarão voltadas para a próxima divulgação do payroll em março, que sai antes da próxima reunião do Fed.