Crédito avança entre as famílias
Em maio as concessões de crédito avançaram 1% na comparação com abril, com o dado ajustado sazonalmente, somando R$570 bilhões. Entretanto, essa alta se deu inteiramente por conta do crédito às pessoas físicas, cuja concessão avançou 2% no mês, enquanto entre as pessoas jurídicas as concessões recuaram 1% no mês. Considerando apenas o crédito livre, a dinâmica é similar. As concessões avançaram 1,6%, com alta de 1,5% entre as PFs e recuo de 1,2% entre as PJs. Por outro lado, as concessões de crédito direcionado recuaram 1,9% no mês, já com ajuste sazonal, refletindo a queda de 9,6% nas concessões entre as PJs, enquanto entre as PFs as concessões avançaram 1,6%. Portanto, vemos a continuidade do cenário de crescimento do crédito entre as famílias, impulsionado pelo aumento da renda real e mercado de trabalho dinâmico, apesar da piora dos juros observados nos últimos meses, que parece estar pesando mais sobre as empresas nesse momento. No acumulado em 12 meses a concessão continua a acelerar, tanto entre PFs e PJs, com alta acumulada de 11% e 5,7%, respectivamente, enquanto as concessões totais avançam 8,6%, refletindo em parte o afrouxamento monetário iniciado em agosto do ano passado.
O saldo de crédito avançou 0,7% em maio, frente a abril, e 11 % quando comparado a maio de 2023, mantendo tendência de aceleração dos últimos meses, com avanço de 0,9% entre as PFs e de 0,4 entre as PJs, essa última recuperando do recuo observado em abril, mas ainda abaixo do nível de março.
O crédito livre para as famílias avançou 1,5%, refletindo alta de 2,5% na concessão de cartão de crédito, enquanto as outras modalidades todas tiveram variação negativa. No acumulado em 12 meses destacamos as concessões de crédito para aquisição de veículos, que acelerou de 26,8% em abril para 29,5% em maio. Já o crédito pessoal recuou 2,4% no mês, refletindo queda de 7,4% no crédito consignado, indicando o cenário mais desafiador com a redução no teto das taxas de juros versus o aumento do custo de crédito devido à alta nas pré-fixadas de médio prazo. Ainda assim, em 12 meses, todas as métricas de crédito pessoal aceleraram, com o crédito pessoal total avançando 7,7%. Entre as empresas, destacamos a queda nas concessões de crédito para capital de giro, que recuou 19,3%, já com ajuste sazonal.
Concessão de crédito direcionado recuou 1,7% em maio, no dado ajustado sazonalmente. Entre as famílias, observou-se avanço de 2,3% no mês, refletindo, principalmente, a alta de 9,9% nas concessões de financiamentos imobiliários. Entre as firmas o avanço foi de 8,3% no mês, com os financiamentos imobiliários também se destacando com alta de 26,6%.
Inadimplência piora na margem e alcança 3,3%. Entre as PJs o aumento foi bem marginal, de 2,58% para 2,6%, enquanto entre as PFs o aumento foi de 3,66% para 3,72%. Entre as PFs destacamos o aumento na inadimplência do cartão de crédito pelo segundo mês consecutivo, refletindo alta de 2 p.p na inadimplência do crédito rotativo e de 0,6 p.p no parcelado. Já a inadimplência no cheque especial recuou 0,2 p.p no mês, 6º mês consecutivo de queda. Por outro lado, a inadimplência na aquisição de veículos ficou estável, interrompendo sequência de 5 meses de queda. Com isso, observa-se o endividamento das famílias estável em patamar elevado, enquanto o comprometimento da renda das famílias piorou na margem.
Taxas de juros caem em maio. Apesar da elevada incerteza nos mercados financeiros, que tem pressionado a curva de juros, as taxas médias recuaram no mercado de crédito em 0,1 ponto percentual no mês. As taxas de juros no crédito livre recuaram 0,3 p.p, enquanto no crédito direcionado houve alta de 0,2 p.p. A taxa de juros do crédito livre para as PFs recuou 0,5 p.p, alcançando 52,4%, enquanto entre as PJs o recuo foi de 0,4 p.p, alcançando 20,8%.
De modo geral, vemos a continuidade de uma dicotomia entre as famílias e as empresas. As concessões para as famílias continuam em ritmo de expansão, enquanto as empresas parecem sofrer mais com a piora da incerteza no ambiente doméstico. Ainda assim, vemos uma dinâmica de melhora no crédito como um todo, colhendo os frutos da redução de 3,25 p.p na Selic implementados desde agosto do ano passado, entretanto, para os próximos meses devemos observar empecilhos à continuidade da melhora do crédito. A decisão do Copom em pausar o ciclo de cortes, sem maiores indícios de quando poderão retomar o processo de queda dos juros, enquanto a pressão na curva de juros eventualmente será repassada ao crédito, implementando uma rodada adicional de aperto monetário.