Macroeconomia


Análise | Concessão de Crédito | Junho 24

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André Valério

Publicado 26/jul2 min de leitura

Crédito às empresas recupera em junho

As concessões de crédito avançaram 3% em junho frente maio com dado ajustado sazonalmente, somando R$592 bilhões. A alta se deu por conta do avanço de 5,3% no crédito à pessoa jurídica, enquanto à pessoa física houve recuo de 1%. Enquanto a concessão de crédito direcionado teve queda de 2,8% (-11,4% para pessoa física), o crédito livre cresceu 4% com avanço de 6,3% para a PJ e estabilidade para a PF. No acumulado em 12 meses as concessões totais avançam 9,3%, acelerando tanto entre PFs(11%) como PJs(7,3%).

O saldo de crédito avançou 1,2% em junho frente a maio com ajuste sazonal e 10% quando comparado a junho de 2023, mantendo tendência de aceleração dos últimos meses, tanto no crédito livre (7,8%) como no crédito direcionado (13%).

A concessão de crédito para as famílias caiu 1% no mês com ajuste sazonal, destaque para a acomodação nas concessões de consignado. Em 12 meses, a concessão acumula alta de 11%, com destaque para o crescimento do financiamento de veículos em 40%.

O saldo do cartão de crédito permanece estável em 2024, depois do forte crescimento de mais de 30% nos últimos dois anos, a modalidade também apresenta estagnação. A inadimplência no cartão também voltou a subir em junho para 7,7%, e explica, em parte, o maior conservadorismo do sistema financeiro com a modalidade.

Para as empresas, as concessões avançaram 5,3%, grande destaque linhas de capital de giro, como desconto de duplicatas, e crédito às exportações que avançaram 78% no mês com o ajuste sazonal.

Já o crédito direcionado teve queda de 2,9%, no dado ajustado sazonalmente. O recuo foi devidoà queda de 11,4% no crédito à pessoa física, enquanto as empresas tiveram alta de 7,3% nas concessões. Para as famílias, o microcrédito e o crédito imobiliário foram os únicos com variação positiva no mês. O microcrédito avançou 6% e saiu do campo negativo no acumulado em 12 meses, com alta de 5%. Já o crédito imobiliário avançou 3,4% de maio para junho, com ajuste sazonal, acumulando alta de 11,5% nos últimos 12 meses, ainda que com aumento da taxa de juros para 9,6%.

Inadimplência no crédito livre tem leve alta em junho para 4,6%. A piora ocorreu no crédito PJ que subiu para 3,3%, enquanto pelo lado das famílias, a taxa ficou estável em 5,5%, com destaque na piora na inadimplência com cheque especial, passando de 11,2% para 12,3%, além de terceira piora consecutiva no cartão de crédito, atingindo 7,7%. Entre as empresas, houve piora na margem puxada pelo aumento da inadimplência na aquisição de veículos para 2,4%. Com a melhora na renda das famílias, o endividamento recuou marginalmente, ainda que permanecendo em patamar historicamente elevado, e o comprometimento da renda recuou para o menor valor desde maio de 2022.

Taxas de juros caem 0,2 p.p. em junho. Na mesma linha da inadimplência, a melhora das taxas médias de juros foi puxada pelas famílias, com recuo para 32% a.a., enquanto as taxas das empresas aumentaram para 18,5% a.a. As taxas de juros livre às PFs melhoraram apenas com o crédito pessoal, e às PJS pioram devido às taxas com importação. Já as taxas com crédito direcionado aumentaram, reflexo da alta das taxas com crédito imobiliário às famílias e com o BNDES às empresas.

O cenário de crédito para empresas também tem sido beneficiado com a melhora nas emissões no mercado de capitais. Em junho o volume de emissões somou R$66 bilhões e acumula R$338 bilhões no primeiro semestre de 2024, 2 vezes superior ao mesmo período em 2023. As emissões de debêntures foram o destaque no semestre, somando R$207 bilhões em 289 novas ofertas. Além disso, destacamos um recorde de R$ 19,6 bilhões em emissões de debêntures incentivadas em junho, que vêm impulsionando o mercado de capitais, mais uma contribuição de crédito ao investimento em infraestrutura no país.

Observamos um recuperação do crédito às empresas em junho e estabilização para as famílias. O saldo de crédito tem alta de 10% em 12 meses uma aceleração em relação ao crescimento de 8% de 2023. A redução da Selic e o crescimento da atividade foi suficiente para uma recuperação mais robusta da demanda de crédito pelas empresas, mas entre as famílias o nível de endividamento e o patamar de inadimplência elevada ainda é impeditivo para uma recuperação mais acelerada, apesar da forte melhora no emprego e renda. A perspectiva da manutenção da Selic com viés de alta observado nas taxas de mercado podem indicar uma eventual desaceleração na concessão nos próximos meses, em um cenário de maior cautela.


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