Macroeconomia


Análise | Concessão de Crédito - Jan/22

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Mário Corrêa

Publicado 02/mar

Concessão de crédito cresce 11,9% em janeiro, ajustada pela sazonalidade e pela inflação

Concessões totais somaram R$ 399,9 bilhões no mês. Na série sem ajuste, houve retração de 19,0% ante dezembro, mais moderada do que a observada em janeiro de 2021, de 26,3%. Com dados ajustados, o volume real de empréstimos aumentou em 3,1% para as famílias e 10,5% para as empresas. Considerando apenas recursos livres, no entanto, o resultado foi mais moderado, incluindo uma retração nominal de 0,4% nas concessões às pessoas jurídicas. O saldo de crédito no sistema financeiro somou 53,3% do PIB em janeiro, caindo 0,5 p.p. em relação ao mês anterior, em função da redução do crédito para pessoa jurídica em relação ao crescimento da atividade.

Saldo de crédito no sistema financeiro desacelera para firmas, especialmente na indústria

Após forte alta em 2020, o volume de empréstimos às firmas começou a desacelerar no último ano. Ainda que generalizado, esse movimento afetou de forma mais significativa a indústria, que acumula retração real de 5,5% nos últimos 12 meses. Essa queda é observada, primeiramente, entre as atividades ligadas à commodities, como petróleo e gás e mineração, mas também tem afetado outros setores relevantes, como a construção civil e as indústrias de bens de capital e automobilística. Embora o segmento extrativo deva seguir se beneficiando de fluxo de caixa elevado, a indústria de transformação deverá enfrentar maiores restrições ao crescimento adiante, contribuindo negativamente para o desempenho do PIB no ano.

Emissões no mercado de capitais também recuaram na comparação interanual. Primeiramente, as emissões de ações foram praticamente nulas em janeiro, ante cerca de R$ 5,8 bilhões no mesmo mês do ano anterior. A captação por fundos imobiliários teve queda de ordem similar no período. Por outro lado, as emissões de renda fixa tiveram alta de 56,2%, especialmente em debêntures e títulos do agronegócio.

Crédito consignado às famílias tem forte queda em janeiro

Modalidade mostrou oitava queda consecutiva e retraiu expressivos 31,4% no mês, na série com ajuste sazonal. Em primeiro lugar, esse recuo é explicado pelo retorno da margem para aposentados e pensionistas para 35%, após a vigência da medida provisória que ampliava esse indicador para 40% no último ano. Além disso, essa linha de crédito teve aumento de custo expressivo nos últimos meses, passando de 18,7% em meados de 2021 para 23% na leitura atual. Essa queda, portanto, pode ter impacto significativo na demanda das famílias nesse ano.

Por outro lado, outras modalidades apresentaram crescimento real na margem. É o caso das linhas de cartão de crédito e do financiamento de veículos, que cresceram 2,6% e 1,2% em janeiro, respectivamente. Em particular, a elevação dos empréstimos para aquisição de veículos deve ter caráter pontual, voltando a recuar nos próximos meses, em função dos juros em alta, do elevado comprometimento corrente da renda das famílias e dos preços anormalmente altos de automóveis.

O crédito imobiliário também avançou no mês. A modalidade reverteu a tendência de quatro meses em queda e mostrou crescimento de 6,1% em janeiro. Vale citar que isso ocorreu apesar do aumento contínuo das taxas de juros do segmento, que já alcançam 9,4%.

Taxas de juros seguem mostrando tendência de alta

No crédito livre às pessoas físicas, houve aumento de 1,3 p.p. nas taxas médias. Esse movimento está associado a uma elevação de 0,6 p.p. no custo de captação e de 0,7 p.p. nos spreads, e foi bastante generalizado entre as modalidades, com destaque para o crédito consignado. Já nas concessões livres às pessoas jurídicas, os juros aumentaram em 1,6 p.p., sendo 0,5 p.p. provenientes do custo de captação e 1,1 p.p. do spread de crédito. Algumas linhas relevantes para as firmas tiveram crescimento acima da média, como o desconto de duplicatas, que avançou em 2,0 p.p. no mês.

Inadimplência no crédito livre avançou para 2,5%

Em especial, o indicador para pessoas físicas se elevou para 4,6%, a maior leitura desde setembro de 2020. O indicador já se aproxima do nível de janeiro de 2019, quando registrou 4,8%. Até o momento, a linha mais afetada pela inadimplência é o cartão de crédito rotativo, que teve alta de 5,7 p.p. nos últimos 12 meses e já alcança o patamar de 36,2%, acima do nível de normalidade de 35,7%.

O movimento de elevação da inadimplência na pessoa física deve continuar. Além do comprometimento de renda das famílias em patamar historicamente alto, o percentual da carteira com atraso entre 15 e 90 dias também teve alta. No rotativo, esse indicador já mostra leitura de 19,73%, a maior da série histórica e bem acima do dado de 14,12% de janeiro de 2019. Ademais, o atraso no financiamento de veículos já registra 7,18%, acima do nível de normalidade. Dessa forma, os indicadores sugerem alguma pressão sobre o balanço das famílias nos próximos meses, o que deverá impactar a evolução da demanda, da atividade econômica e da inflação.


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