Macroeconomia


Análise | Concessão de Crédito | Fev22

Daniel_Arruda

Daniel Arruda

Publicado 28/abr3 min de leitura

Concessões de crédito somam R$ 398,3 bilhões em fevereiro

O estoque de operações no sistema financeiro aumentou em 0,8% no mês e 16,6% em 12 meses. Apesar dos novos empréstimos ainda manterem patamar historicamente elevado, os segmentos mostram caráter heterogêneo. Nas linhas para pessoa física, as concessões reais com ajuste sazonal avançaram 2,4% em fevereiro; já na pessoa jurídica, houve queda de 2,3%. Espera-se que a desaceleração da atividade nesse ano e o aumento dos juros leve a uma desaceleração do crescimento do saldo do crédito, especialmente na comparação ao observado no biênio 2020- 2021.

Principais linhas de crédito livre às famílias cresceram em fevereiro

Em primeiro lugar, o cartão de crédito manteve a tendência de alta dos últimos meses, avançando 3,5% ante janeiro. Esse movimento, embora favoreça o desempenho da atividade, agrava o risco de inadimplência no mercado tendo em vista o elevado custo dessa linha e o patamar atual de endividamento das famílias.

Outras linhas, no entanto, reverteram a tendência recente. O crédito consignado teve elevação de 4,9% em termos reais, em fevereiro, após forte tendência de queda no ano anterior. Essa alta deve ser mantida nas próximas divulgações, tende em vista o retorno da margem para 40% e a inclusão dos beneficiários do BPC e do Auxílio Brasil no acesso à essa modalidade de empréstimo. Por fim, o cheque especial teve queda de 7,6% no mês, enquanto o financiamento de veículos avançou pelo terceiro mês consecutivo, apesar dos juros mais altos e da massa salarial comprometida pela inflação.

No direcionado, o financiamento imobiliário teve queda real de 3,0% ante o mês anterior. Apesar da tendência de normalização dos últimos meses, essa linha segue em patamar bastante superior à média histórica. Mesmo com o avanço da taxa Selic, os juros do financiamento imobiliário tiveram queda para 8,1% em fevereiro. A Caixa anunciou nova redução das taxas na modalidade poupança, o que também contribuirá para conter a desaceleração da demanda imobiliária.

Crédito às firmas segue forte, apesar da retração no mês

O desconto de duplicatas e recebíveis, que teve forte alta nos últimos dois anos, recuou 2,3% em fevereiro. Em linha com esse movimento, a antecipação de faturas mostrou estabilidade em termos reais, enquanto o capital de giro longo retraiu em 6,0%, mas também segue em patamar historicamente elevado.

No âmbito do mercado de capitais, dados da Anbima apontam para a maior captação de debêntures em um trimestre desde 2012. De janeiro a março, houve emissão equivalente a R$ 55,9 bilhões, crescendo 80% na comparação interanual. A análise da destinação, por sua vez, aponta para maior uso dos recursos para capital de giro e aquisição de participação acionária, em detrimento do investimento em infraestrutura, na comparação com a média histórica.

O crédito direcionado também deve avançar no segundo semestre. Conforme anunciado pelo governo, o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (PEAC) e o Fundo Garantidor da Habitação Popular (FGHab) devem ter impacto total de cerca de R$ 23 bilhões em novos recursos, com maior destinação à micro, pequenas e médias empresas. Além disso, o Pronampe também foi aprovado pelo Senado e segue para sanção presidencial, com expectativa de aprovação de R$ 50 bilhões em operações. Apesar de positivo para a atividade, os subsídios de crédito, em conjunto, podem resultar em uma menor potência da política monetária e resultar em novas altas da Selic, nesse momento de inflação ainda alta.

Spread de crédito e inadimplência têm avanço marginal na pessoa física

Na média, o spread médio às famílias aumentou para 36,9% em fevereiro. Na análise por linhas, o aumento dos juros em 12 meses é mais significativo no consignado e no financiamento de veículos. Apesar disso, na média, o spread do sistema financeiro ainda é inferior ao observado no pré-pandemia.

Já a inadimplência às famílias avançou 4,7% em fevereiro, ao passo que retraiu na margem para as firmas. Esse indicador já alcança o mesmo patamar vigente em fevereiro de 2019, e ainda deve mostrar tendência de alta, tendo em vista a continuidade do ciclo de alta da Selic e o elevado comprometimento de renda das famílias.

Crescimento do crédito deve desacelerar em 2022

De acordo com o Banco Central, o saldo de crédito deve avançar 8,9% em 2022, em termos nominais. Por um lado, a projeção de crescimento do crédito livre às famílias de 13% pode ser frustrada pelo comprometimento de renda já bastante elevado. Por outro, os números fornecidos não consideravam as medidas aprovadas recentemente, de forma que demandam uma revisão positiva da projeção do crédito direcionado. Por fim, o crescimento esperado se compara a uma média de 15,9% nos dois anos anteriores, e pode ser considerado contracionista, dado o crescimento esperado para o PIB nominal nesse ano, dificultando um crescimento real significativo da atividade.


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