Macroeconomia


Análise | Concessão de Crédito | Abril 24

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André Valério

Publicado 27/mai2 min de leitura

Crédito recua em abril

Em abril as concessões de crédito recuaram 2,5% na comparação com março, com o dado ajustado sazonalmente. Tal piora era, de certa maneira, esperada, devido ao aumento da incerteza observado nos mercados financeiros ao longo do mês. No Brasil, a taxa de juros de 10 anos, que possui alta relevância nas decisões de concessão de crédito, aumentou 0,8 ponto percentual entre os dias 28 de março e 30 de abril, com aumento generalizado nas taxas de juros ao longo da curva de juros, como se pode ver no gráfico abaixo. Ainda assim, a concessão de crédito continua a acelerar no acumulado em 12 meses, alcançando alta de 7,8%, ante alta de 5,6% em março. Entretanto, convém lembrar que há o efeito de base aqui, uma vez que o início do ano passado foi marcado pelo episódio das Lojas Americanas, com a concessão de crédito tendo caído 1,6% no primeiro trimestre do ano passado.

O saldo de crédito avançou 0,2% em abril, frente a março, e 8,9% no acumulado dos últimos 12 meses, ambas as métricas desacelerando frente a março, com o resultado sendo influenciado pelo recuo de 0,8% no saldo às pessoas jurídicas.

Concessões de crédito somam R$562,3 bilhões em abril, apresentando recuo frente a março. No dado dessazonalizado, as concessões recuaram 2,5%, refletindo o recuo de 2,4% na concessão de crédito livre, enquanto crédito direcionado ficou estável no mês. Houve recuo de 2,1% entre as PFs e 0,5% entre as PJs. Entre as PFs, o recuo foi disseminado, tanto entre crédito livre quanto direcionado. O primeiro recuou 1,2% enquanto o segundo 4,15%. Entre as PJs observou-se recuo de 2% no crédito livre e avanço de 6,9% no crédito direcionado, na comparação mensal com ajuste sazonal. Ainda assim, no acumulado em 12 meses observa-se aceleração tanto no crédito livre quanto no direcionado para as PFs e PJs.

Concessão de crédito livre recua 2,4% em abril. O crédito livre para as famílias recuou 1,2%, refletindo menor crescimento do cartão de crédito que avançou apenas 0,4% no mês, com ajuste sazonal. Entre as linhas de crédito pessoal destacamos a queda mensal de 3,2% nas concessões de crédito consignado, com ajuste sazonal, indicando o cenário mais desafiador com a redução no teto das taxas de juros versus o aumento do custo de crédito devido à alta nas pré-fixadas de médio prazo. Entre as empresas destacamos a queda em desconto de duplicatas e recebíveis, que recuou 21,7% no mês, mas que foi devido à sazonalidade dessa modalidade em março. Ajustando pela sazonalidade, observou-se crescimento de 1,35%.

Concessão de crédito direcionado fica estável em abril. Entre as famílias, observou-se recuo de 4,15% no mês, com ajuste sazonal, fruto da queda de 2,1% no crédito rural, já com ajuste sazonal. Por outro lado, a concessão de crédito imobiliário avançou 6,87% no mês. Entre as firmas houve redução de 4,63% no crédito via BNDES e de 26% no crédito rural, ambas na comparação mensal com ajuste sazonal.

Inadimplência piora na margem, mas fica no patamar de 3,2% pelo quinto mês consecutivo. Observou-se piora marginal tanto entre as famílias quanto entre as firmas, mas sem maiores sinais de preocupação. Destacamos o aumento de 0,2 ponto percentual na inadimplência do cartão de crédito, a primeira alta em 11 meses. Por outro lado, a inadimplência do cheque especial recuou 0,4 ponto percentual, quinto recuou consecutivo, enquanto a inadimplência na aquisição de veículos recuou na margem, mantendo a tendência de queda que já se observa por cinco meses consecutivos.

Taxas de juros caem em abril. Apesar da maior incerteza nos mercados financeiros, que levou a um estresse na curva, as taxas de juros médias recuaram no mercado de crédito em 0,2 ponto percentual no mês. As taxas de juros no crédito livre recuaram 0,1 p.p, enquanto no crédito direcionado o recuo foi de 0,4 p.p. A taxa de juros do crédito livre para as PFs recuou 0,4 p.p, enquanto entre as PJs houve aumento de 0,4 p.p.

De modo geral, vemos o mercado de crédito encontrando alguns percalços. A queda nas concessões no mês indica que o recente episódio de incerteza e consequente impacto na condução da política monetária pode ser um fator a impedir a retomada mais robusta do mercado de crédito, que continua melhorando quando analisamos o acumulado dos últimos 12 meses. Entretanto, parte dessa melhora vem da base fraca que logo dissipará, e com a perspectiva de uma política monetária mais contracionista do que o esperado incialmente devemos observar um segundo semestre menos favorável para a concessão de crédito.


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