Macroeconomia


Análise | Atividade | Jan.25

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André Valério

Publicado 14/mar2 min de leitura

Atividade mantém tendência de queda em janeiro

Observa-se a continuidade da tendência de desaceleração da economia brasileira. Considerando todos os setores pesquisados pelo IBGE, já são três meses consecutivos sem crescimento em nenhum dos setores, refletindo a piora das condições financeiras, além de menor ímpeto de consumo por parte dos consumidores, consistente com uma visão de desaceleração gradual da economia, que deve pautar a dinâmica do PIB no 1º trimestre. Ainda assim, o PIB do 1º trimestre deve ser positivo, puxado pelo desempenho do agronegócio, enquanto o lado do consumo perde força, mantendo tendência já observada no 4º trimestre, quando o consumo das famílias recuou 1%.

Indústria fica estável em janeiro

É o quarto mês consecutivo em que não há crescimento da produção. Em relação a janeiro de 2024 a indústria apresentou uma alta de 1,4% oitava taxa positiva consecutiva nessa comparação, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses a variação foi de 2,9%, mantendo tendência de desaceleração, que também é notada na média móvel trimestral, que alcançou -0,3% no trimestre móvel encerrado em janeiro.

Apesar da variação nula, houve avanço em 18 das 25 atividades pesquisadas, com destaque para as altas de 6,9% na produção de máquinas e equipamentos e de 3% na produção de veículos. Entretanto, o resultado foi compensado pelo recuo de 2,4% na produção das indústrias extrativas, refletindo a menor extração de petróleo por parte da Petrobrás em janeiro de 2025 e queda na extração de gás natural. Com isso, observou-se também recuo de 1,1% na produção de combustível.

Entre as grandes categorias econômicas, tivemos alta de 3 das 4 categorias, com destaque para a produção de bens de capital, que avançou 4,5%, interrompendo sequência de 2 meses consecutivos de variação negativa. Com o resultado, o grupo de bens de capitais apresentou alta de 9,6% no acumulado dos últimos 12 meses, décimo avanço consecutivo nessa comparação, um bom sinal em termos de ampliação da capacidade produtiva.

O resultado de janeiro reafirma a tendência de desaceleração do setor. Com a continuidade do aperto monetário, com o Copom devendo aumentar a Selic em mais 100 pontos base na próxima semana, antecipamos a continuidade dessa tendência, com o ritmo da atividade apresentando maior acomodação ao longo do ano, com a produção industrial encerrando 2025 com crescimento de 1,5%, ante crescimento de 3,1% observado em 2024.

Serviços recuam 0,2% em janeiro

O resultado veio abaixo da expectativa, que era de estabilidade no mês, mas, ainda assim, o setor se encontra 15,9% acima do nível pré-pandemia, e acumula um crescimento de 2,9% nos últimos 12 meses, recuando pela primeira vez em 7 meses nessa métrica.

O resultado negativo foi acompanhado de queda em três das cinco atividades pesquisadas, com destaque para Serviços prestados às famílias, que recuou 2,4%. Também chama a atenção o recuo de 1,8% em Transportes, puxado pela forte queda de mais de 13% no transporte aéreo. Além dessas atividades, também se observou recuo de 0,5% em serviços profissionais. Na ponta positiva, destaque para os Serviços de informação e comunicação, com alta de 2,3% no mês. O dado de janeiro reforça a visão de acomodação no ritmo de atividade da economia brasileira.

Nota-se uma piora tanto nos serviços mais ligados à demanda, quanto nos serviços mais ligados à oferta, refletindo o menor consumo, evidenciado pelo fraco desempenho de transporte aéreo e alimentação e acomodação com as atividades turísticas recuando 6,4% no mês. Além disso, nota-se que a piora das condições financeiras está impactando as atividades do setor, com os serviços profissionais recuando pelo terceiro mês consecutivo, acumulando perdas de 3,6% no período. Por outro lado, convém notar que o dado de dezembro sofreu forte revisão, saindo de um recuo de 0,5% para estabilidade. Ainda assim, já são três meses em que o volume de serviços não apresenta variação positiva. Portanto, até o momento, os dados sugerem a continuidade do processo de acomodação no ritmo de crescimento da economia, já evidenciado pelo PIB do 4º trimestre de 2024, em linha com nossa projeção de um crescimento mais ameno em 2025, de 1,55%.

Varejo recua -0,1% em janeiro

Na comparação com janeiro de 2024, o volume cresceu 3,1%, vigésima taxa positiva nesta comparação. Entretanto, a tendência de desaceleração observada nos últimos meses persiste. O setor acumula alta de 4,7% nos últimos 12 meses, mantendo estabilidade nessa métrica pelo terceiro mês consecutivo. Além disso, a média móvel trimestral foi negativa, em 0,2%.

O resultado foi fruto do recuo de 4 categorias, das 8 pesquisadas, mas dessas 4 que recuaram, duas tem elevado peso no resultado. O volume de vendas nos supermercados recuou pelo terceiro mês consecutivo, com variação de -0,4% em janeiro, e as vendas de produtos farmacêuticos também recuaram pelo terceiro mês consecutivo, 3,4% em janeiro. Além desses dois grupos, observou-se recuo nas vendas do vestuário e de móveis e eletrodomésticos. No campo positivo, o destaque foi o grupo de equipamentos e materiais para escritório, que avançou 5,3%, recuperando parte das perdas de 5,9% observado em janeiro.

O varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, apresentou forte crescimento, de 2,3% no mês, bem acima do esperado, puxado pelo bom desempenho nas vendas de veículos e material de construção, que avançaram 4,8% e 3% no mês, respectivamente. Entretanto, o movimento não repõe as perdas observadas nos últimos 2 meses, quando acumularam perdas de 9,97% e 5,15%, respectivamente.

Os dados de janeiro sugerem a continuidade do processo de acomodação do crescimento da economia brasileira. Observou-se queda em setores resilientes, como supermercados e farmácias, mas também em setores mais sensíveis à demanda discricionária como móveis, eletrodomésticos e vestuário. Os poucos setores que tiveram alta expressiva foram mais uma recuperação de uma forte queda observada nos meses anteriores do que uma mudança de tendência. Já são três meses consecutivos em que as vendas no varejo apresentam variação negativa, ainda assim, o setor se encontra apenas 0,6% abaixo do pico da série histórica, o que sugere que o setor fez pico e a direção da tendência é clara.


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