Alocação Estratégica e Tese de Investimento
O semestre termina com bastante volatilidade e risco de recessão no radar dos investidores. A inflação permanece alta e os Bancos Centrais do mundo tomam medidas mais fortes para contê-la, o que elevou a incerteza nos mercados. No Brasil, a maior aversão a risco resultou em novas altas dos juros e mantemos nossa alocação overweight em papeis indexados a inflação. Para o investidor com mais apetite a risco e horizonte mais longo, nos títulos mais longos. Em bolsa internacional, reduzimos a alocação, considerando o cenário de maior incerteza sobre o tamanho do aperto monetário e as revisões de lucros que devem vir no próximo semestre.
Cenário externo - EUA
Fed acelera aperto, risco de recessão aumenta e bolsas caem
A bolsa americana tem o pior semestre em décadas. O S&P500 teve queda de 21% no semestre, 8% somente em junho. As bolsas refletem o maior risco de recessão, com a probabilidade de juros mais altos e impacto da queda de atividade nos lucros futuros das empresas. A volatilidade também subiu e o Vix voltou a bater 30. Outros ativos de risco também tiveram queda forte no semestre, como crédito high yield, títulos de países emergentes e criptomoedas.
Risco de recessão. O risco de recessão aumentou nas últimas semanas e alguns sinais de desaceleração da economia americana já começam a aparecer, como o aumento de estoques nas empresas e a redução nas solicitações de financiamento imobiliário, que devem desaquecer também o setor de real estate.
Fed sobe os juros em 75 bps. A inflação nos EUA, que chegou a quase 9% em 12 meses até maio, ascendeu o alerta e o Fed aumentou o ritmo de alta da taxa dos juros, deixando em aberto a próxima elevação em agosto, que pode voltar a ser 50 com os recentes sinais de queda da atividade. Mas em seus comunicados, é notável a mudança de postura da autoridade monetária americana que agora tem como foco controlar a inflação, mesmo que o impacto seja negativo para a atividade. Ou seja, sem Fed put nesse momento, esperamos um ciclo mais longo de juros altos e uma convergência lenta da inflação de volta para a meta de 2%.
Commodities
Alívio na cotações de commodities, mas ainda incerteza sobre o crescimento chinês.
Commodities tem queda de 12% do pico em junho, mas ainda acumulam quase 20% de alta no ano. O risco de recessão também atingiu o mercado de commodities que mostrou uma desaceleração do pico alcançado em meados de junho. O petróleo fechou o semestre cotado em $110/barril, queda de 5% no mês, mas ainda acumula uma alta de 38% no ano.
Commodities agrícolas também tiveram acomodação. Após o impacto de alta devido à guerra na Ucrânia, as cotações das commodities agrícolas também acomodaram nas ultimas semanas, o que deve indicar alívio na inflação ao consumidor a frente. As cotações ainda estão em patamar elevado e devem favorecer os países exportadores, como o Brasil, que deve ter resultado recorde na balança comercial em 2022.
Cenário Doméstico
No Brasil, economia melhora, bolsa cai e risco fiscal volta ao radar
Ao contrário desempenho da bolsa, o semestre na economia foi de forte crescimento. O mercado de trabalho foi um dos destaques com recuperação mais acelerada e ultrapassando o patamar pre pandemia. A Pnad mostrou taxa de desemprego de 9,8%, a menor desde 2015, com um numero recorde de pessoas ocupadas em 97,5 milhões. Os dados de confiança da FGV também contrariaram as expectativas e voltaram a subir em junho, em todos os setores pesquisados, indústria, varejo, serviços e construção. Ainda esperamos uma desaceleração no 2o semestre, mas será mais lenta e partindo de uma base mais forte.
IGPM indica queda da inflação ao produtor. A inflação pode já ter iniciado sua reversão com uma desaceleração das variações dos preços das matérias primas, observada no IGPM. A redução do ICMS, que já começa a valer em alguns estados a partir de julho, também pode contribuir para um IPCA menor no segundo semestre. Nós revisamos nossa projeção de inflação para o ano de 8,9% para 7,7% mas seguimos atentos aos sinais de inércia que ainda são a principal preocupação nesse momento.
Risco fiscal e juros mais altos. Os juros continuaram a subir, tanto a curva pré como a curva de juros reais. As taxas longas chegaram a 6%, patamar visto em 2015. O risco de recessão e juros maiores lá fora e a proposta de nova Pec alterando o orçamento em curso elevaram novamente a percepção de risco fiscal, mesmo com o resultado positivo entregues até maio. O BC deve subir os juros novamente em agosto, e nossa aposta é de 0,25 p.p., mas consideramos o risco de vir 0,50 p.p. dependendo da evolução dos dados. O cenário indica premio de risco elevado, mas seguimos com cautela, focando nossa alocação neutra em renda fixa pós e overweigth em renda fixa indexada a inflação.
Bolsa Brasil
Bear market e sinais de recessão nos Estados Unidos
Com um cenário externo marcado pelo bear market e maior risco de recessão nos Estados Unidos, o que fez com que os índices nos EUA tivessem seus piores desempenhos das últimas décadas, aqui no Brasil o comportamento não passou imune. O Ibovespa cedeu mais de 10% no mês, devolvendo os ganhos do ano, com destaque para os setores de Varejo que recuam mais de 20%, prejudicados pela maior pressão de inflação e juros. Nem mesmo o bom momento das commodities e os dados macro melhores que o esperado foram suficientes para segurar os preços dos ativos.
O Ibovespa caiu 11%, o SMLL (Small Caps) 15% e o ICON (Consumo) 13,7%. No caso das Small Caps, os papéis de commodities agrícolas que vinham performando acima do Ibovespa tiveram correção no mês, seguindo o arrefecimento das cotações no mercado internacional. Já para o Consumo, a continuidade da pressão inflacionária segue como principal força negativa para as companhias. Por outro lado, na ponta defensiva, o UTIL (Utilities) e o IEEX (Eletricas) apresentaram desempenho acima do IBOV (-3,8% e -4,8%, respectivamente).
Em julho, tem início a temporada de resultados do 2T22 e, apesar de esperarmos receitas ainda estáveis na base trimestral e recuo na base anual, vamos ver pressão contínua de custos e inflação comprimindo margens das companhias. O momento segue de grande cautela, especialmente em virtude da bateria de balanços a serem divulgados e prováveis revisões de projeções que podem afetar os preços-alvos das companhias.
Câmbio
Apesar de cair 11% no mês, o real tem valorização cumulada de 6% no semestre
O cambio segue bastante volátil, impactado pelo fluxo, pela alta dos juros lá fora e maior aversão a risco também no cenário doméstico. Em ano de eleição, a única coisa previsível sobre o dólar era a sua volatilidade, e essa não desapontou até o momento. O mês de junho foi marcado por maior aversão a risco, que impactou as moedas emergentes de maneira geral. Apesar os juros mais altos no Brasil, o real devolveu parte dos ganhos acumulado no ano. Para o segundo semestre, a volatilidade deve continuar enquanto as eleições seguem polarizadas e novas medidas que impactam o risco fiscal ainda poderm ser aprovadas pelo governo. No entanto, ressaltamos que os fundamentos ainda favorecem a moeda brasileira, com commodities em alta, balança comercial forte e juros elevados.
Fundos Imobiliários
Junho de correção.
O IFIX teve variação de -1% no último mês, ocorrido em virtude da correção de -2% observada nos fundos de tijolo, porém atenuada parcialmente pela alta de 0,5% dos fundos de papel.
Diante do aumento marginal de prêmio na curva de juros, os fundos de papel seguiram com desempenho positivo diante da indexação dos recebíveis à inflação e yield elevado, enquanto os fundos de tijolo seguem com elevado desconto frente o valor patrimonial.
Diante das expectativas de um cenário de juros e inflação elevados mais prolongado, é esperado que os fundos de papel continuem a apresentar um desempenho resiliente por meio da distribuição robusta de proventos e estabilidade no valor da cota.
Mesmo com a melhora gradual observada nos dados operacionais do segmento, como a evolução nos aluguéis e queda na vacância, os fundos de tijolo devem demonstrar uma recuperação mais robusta à medida que o fim do ciclo monetário contracionista se aproxime.
Com isso, o segmentos de shoppings, galpões e escritórios permanecem como oportunidade para ganho de capital visando o longo prazo.
Fundos Multimercado
Multimercados têm semestre positivo, apesar da volatilidade
Os multimercados terminaram o primeiro semestre de 2022 positivos em todos os meses até o momento. Os destaques deste mês continuam com as alocações em títulos pré-fixados, investimentos longos atrelados à inflação e novas posições em bolsa brasileira. Alguns gestores já se posicionam para capturar os movimentos de queda do dólar e alta dos juros americanos.