Macroeconomia


Inter Strategy | Alocação estratégica

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Rafaela Vitória

Publicado 02/jun15 min de leitura

Alocação Estratégica e Tese de Investimento

Nível de incerteza ao redor do mundo se concentra em inflação. Após a crise em 2020 e políticas fiscais e monetárias expansionistas, o cenário global se deparou com pressões inflacionárias ímpares. Em conjunto, os choques causados pela guerra entre Rússia e Ucrânia e gargalos de oferta originados das restrições causadas pela pandemia ainda trazem incerteza sobre o cenário de inflação à frente. Com o juro dos papéis indexados à inflação no atual elevado patamar, e o risco de inflação persistente nos próximos meses, mantemos a alocação overweight em RF atrelada ao IPCA.

China

Desaceleração na economia chinesa é um novo risco no cenário

Efeitos do lockdown chinês ainda são incertos para o resto do mundo. A China manteve sua política Covid zero, com lockdowns em diversas cidades incluindo grandes centros como Xangai e Pequim. Os indicadores de abril e maio já apontam para uma forte retração e as estimativas de mercado para crescimento de PIB chinês caíram para entre 3,5% e 4%, mesmo após discursos das autoridades do país ressaltando a manutenção de estímulos monetários. Em abril, a produção industrial teve queda de 10% enquanto as vendas no varejo retrariam 7%. Dados do PMI de Maio também indicam a continuidade da forte retração tanto na indústria como no setor de serviços. Uma desaceleração da economia chinesa pode resultar em crescimento global mais fraco em 2022 e ainda não está claro como os estímulos poderão impulsionar a retomada. Por outro lado, pode ser um contraponto para novas altas de commodities, o que poderia contribuir para a desaceleração da inflação global.

Commodities

Dólar forte, bolsas em queda

usência de cessar-fogo leva Europa a propor novos embargos à importação de petróleo russo. Em conjunto, a EU busca alternativas para reduzir dependência da matriz energética Rússia. Em meio à chegada do verão e pico de viagens no hemisfério norte, as commodities energéticas continuaram a subir em maio, com destaque para o petróleo, com alta de 6%.

Commodities metálicas e agrícolas apresentam estabilidade no mês. A descorrelação foi resultado da redução da atividade na China, principalmente da indústria, que levou a menor importação de matérias primas no país, mas pode levar a novos gargalos nas cadeias produtivas, o que mantem o risco de inflação alta no curto prazo.

O patamar de preços das commodities continua historicamente elevado, com o CRB atingindo pico da série histórica após valorização de X% em maio. No Brasil, apesar de favorecer as exportações e novas valorizações cambiais, os preços elevados de do petróleo podem ainda gerar novas pressões inflacionárias, prolongando ainda mais o ciclo de aperto monetário.

Juros e Inflação

Dólar forte, bolsas em queda

Atividade nos EUA continua forte, e o CPI acumula 8,3% em 12 meses. Na reunião em maio, o FED acelerou o ritmo do aperto monetário e subiu os juros em 50 bps, antecipando o mesmo movimento para as próximas reuniões. Apesar de um pico de alta de juros no mês, o mercado teve uma acomodação e a expectativa para a taxa do Fed no final do ano está em 2,75%. Os riscos inflacionários ainda são significativos e o Fed deve manter o tom mais hawkish ao longo do ano. O S&P fechou maio estável e acumula queda de 15% no ano, ainda beirando o sinal de bear market, que é de uma queda de 20% do pico.

Após surpresa inflacionária em abril e maio, ECB deve antecipar fim do QE e aumento de juros.

Média dos 19 países europeus acumula inflação de 8,1% em 12 meses e na Alemanha, vimos avanço ainda mais relevante da inflação, preocupando o Banco Central Europeu. A alta de juros, prevista somente para dezembro, deve agora começar em julho.

A inflação elevada reduzindo o poder de compra do consumidor e a menor liquidez global devem continuar resultando em desaceleração da atividade global e crescimento menor em 2022 e 2023

Cenário Doméstico

No Brasil, novamente dados de atividade e inflação vieram acima da expectativa, mostrando resiliência frente a alta de juros

Maio foi marcado por novos indicadores de atividade positivos. Os indicadores, como os índices de confiança da FGV e PMI, mostraram a continuidade do crescimento mais acelerado da economia, resultado da retomada dos serviços e consequentemente da melhor do mercado de trabalho. A liberação do FGTS também deve ter impacto no varejo nesse trimestre.

Por outro lado, a atividade mais forte que o esperado em conjunto com avanço das commodities trouxe mais pressão inflacionaria com surpresas no IPCA-15. A inflação deve terminar o ano próximo de 9% e para 2023, a desaceleração deve ser mais lenta, com risco maior de inércia. O mercado passou a precificar taxa Selic terminal em 13,75%, com queda somente se iniciando em 2023. Apesar do aperto monetário ter sido significativo, a defasagem do impacto está mais elevada que o usual e pode significar que os juros permanecerão elevados por mais tempo.

Bolsa Brasil

Setor de commodities e financeiro revertem perda em abril e apresentam sinal de aceleração

Se em abril a queda do Ibovespa foi atrelada à forte correção que vimos para as empresas de commodities, com China, e o setor financeiro, com piora nos dados de inadimplência, em maio observamos o movimento oposto, com forte recuperação das companhias exportadoras, em especial os setores de Óleo&Gás, Siderurgia & Mineração e Papel & Celulose, bem como retomada do setor financeiro, com recuperação principalmente dos incumbentes no período.

Nos destaques de alta, o IMAT e o INFC subiram mais de 6% no período. Notícias de arrefecimento dos lockdowns na China contribuíram para retomada dos papéis de commodities, ao menos no curto prazo. Já no setor financeiro, o cenário de elevação de juros e possível retomada dos spreads contribui para recuperação dos papéis, negociados com descontos após desabarem em abril.

Enquanto na ponta negativa, tivemos o IMOB e ICON. O setor de Construção tem sido bastante impactado pelos elevados custos, conforme visto pela elevação do INCC, que no acumulado do ano já registra alta de 4,27%. Além disso, as despesas financeiras alavancadas pela escalada nos juros têm corroído os resultados financeiros das empresas, prejudicando margens. No setor de Varejo e Consumo, a inflação tem afetado em duas frentes, sendo a primeira na limitação do poder de compra do consumidor e na segunda nos elevados custos e despesas.

Setores

Agronegócios e financeiro avançam em relação a abril, enquanto setor de elétricas e aéreas registram queda

Fundos Multimercado

Multimercados têm leve queda em abril, perdendo nas apostas em bolsa Brasil e internacional

Performance dos multimercados continua positiva em maio, com melhora no Ibovespa, após queda mais acentuada em abril. No mês, o destaque ficou com os long short direcionais, com alocações mais mornas presentes em todas as classes. De forma geral, os fundos aumentaram a alocação em pré em detrimento de indexados, apostando no fechamento da inflação implícita.

Câmbio

Valorização do Real foi de 4,8% no mês

Volatilidade do dólar continuou forte em maio. Após desvalorização de 4,9% do real em abril, a moeda brasileira recuperou patamar de R$ 4,73 em maio. A abertura da curva com a percepção de que reação do BC será mais prolongada contribuiu para o aumento do diferencial de juros frente os EUA.

Próximos meses são de montanha-russa no câmbio. Além da aproximação das eleições,, o cenário externo ainda é incerto pela guerra entre Ucrânia e Rússia, influenciando preço de commodities energéticas e pela atividade chinesa, e caminho de alta de juros do FED e do ECB, ainda incertos frente as pressões inflacionárias por vir.

Fundos Imobiliários

Fundos Imobiliários tem leve alta no mês.

No mês, o IFIX apresentou uma alta de 0,26%, impactado positivamente pelo avanço de 1,5% dos fundos de papel e negativamente com a queda de 0,5% nos fundos de tijolo no mês, acumulando uma rentabilidade no ano de 1,12%. O destaque positivo do mês foi o fundo KNIP11, tendo grande parte da carteira em CRIs indexados a inflação. Apesar de cautela nos mercados globais e incertezas no doméstico, os fundos tiveram uma performance positiva.

Com cenário de alta nos juros e na inflação para 2022, é esperado que os fundos de papeis continuem entregando sólida remuneração, gerando um bom nível de dividendos apesar do pouco espaço no ganho de capital. Já os fundos de lajes coorporativa ainda estão sofrendo pressão do alto nível de vacância, deixando o segmento descontado em relação ao valor patrimonial, abrindo espaço para oportunidade de valorização. Sem problemas de vacância, o seguimento de galpões lógicos segue com a demanda aquecida. Esperamos que com a recuperação no segmento de serviços e varejos, os aluguéis devem subir, aumentando o repasse de dividendos para a classe dos fundos de tijolo.


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