Macroeconomia


Inter Strategy | Abr22

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Mário Corrêa

Publicado 04/abr20 min de leitura

Alocação Estratégica Recomendada

O mês de março começou com vários anúncios de investimentos do tipo “Selic subiu, é hora de investir em renda fixa”. Mas o resultado no mês, que poucos anteciparam, foi uma forte alta das bolsas, queda do dólar, e queda das taxas de juros reais.

A melhor recomendação de investimento que podemos oferecer para nossos clientes é: mantenha uma carteira diversificada. Sempre. Acertar o momento de entrar na bolsa na baixa, ou sair na alta é uma tarefa muito difícil. O market timing, como chamamos, é comprovadamente ineficiente. Sim, alguns gestores profissionais conseguem obter ganhos em movimentos de curto ou médio prazo, combinando alocações em diversas classes e fazendo hedge, mas exatamente porque são gestores profissionais. E para obter esse ganho, também recomendamos uma alocação nos fundos multimercados, com comprovado histórico de retorno acima do CDI.

O asset allocation, ou a estratégia de alocação de investimento por classes de ativos é o melhor determinante do retorno do seu portfolio. No acumulado de 24 meses, destacamos os retornos estimados das nossas carteiras recomendadas entre 13,9% para o perfil conservador e 15,8% para o arrojado, comparado com 8,6% do CDI acumulado no período. Carteiras que podem ter um baixo custo, fácil manutenção e acompanhamento pelo investidor.

Ucrânia, Rússia e Commodities

Sanções à Rússia geram alta nas commodities, preocupando bancos centrais ao redor do mundo

A guerra na Ucrânia completou um mês e o principal impacto ainda é a alta das commodities no mercado global, apesar de um certo alívio observado nas últimas semanas, com o avanço das negociações para tentar colocar fim no conflito.

O CRB, índice global de commodities, subiu 10% em março e acumula alta de 27% em 2022. Entre as commodities agrícolas, milho, trigo e soja tiveram altas não só pelo impacto direto na produção da Ucrânia, mas pela expectativa de escassez de fertilizantes exportados pela Rússia. A alta dos alimentos preocupa no médio e longo prazo, mas no curto prazo, o mercado segue de olho no preço do petróleo, que fechou o mês cotado a $107/barril. Apesar de bem abaixo do pico de $127 alcançado ao longo do março, acumula alta de 38% no ano, e deve adicionar pressão inflacionária em diversos países.

Mercados Globais

A alta de juros nos EUA foi o destaque no mercado global.

A alta das commodities elevou as expectativas de inflação global e um dos principais temas discutidos no mercado em março foi a subida dos juros, principalmente nos EUA.

O Fed elevou a taxa básica pela primeira vez desde 2018, em 0,25 p.p., e o mercado já precifica a taxa chegando em 2,5% até o fim do ano. Com a inflação acumulada em quase 8% em 12 meses e expectativa de acelerar ainda mais devido ao aumento dos preços da gasolina e alimentos, não descartamos altas no ritmo de 0,50 p.p., nas próximas reuniões. A taxa dos títulos de 2 anos subiu para 2,4%, próxima da taxa de 10 anos, o que pode indicar risco de recessão a frente. Com o resultado do avanço do juro americano em relação a outros países desenvolvidos, o índice DXY apresentou alta de 1,7% em março.

Com inflação e juros em alta, a expectativa de crescimento do PIB global também deve ser reduzida em 2022. Na Europa, as revisões foram de +4% para +3%. O Banco Central Europeu anunciou o fim do programa de compra de ativos (QE) no segundo trimestre, com redução de U$10 bilhões/mês, e sinalizou que o aumento de juros será condicionado aos dados econômicos.

Emergentes

Alta das commodities e política monetária contracionista favoreceram moedas emergentes.

As moedas de países emergentes tiveram desempenho favorável em março. Na América Latina, o melhor desempenho destaca o fato de serem exportadores de de commodities e terem restritas relações comerciais diretas com a Rússia, além de estarem mais avançados no ciclo de aperto monetário, já com significativo diferencial de juros. Destaque negativo entre emergentes foi o México, importador líquido de commodities e mais dependente da economia americana. Apesar da melhora no balanço de pagamentos, a alta das commodities deve trazer mais inflação. Brasil, Chile, Argentina e Colômbia decidiram por aumentos nos juros em março, o que coloca em risco um crescimento mais expressivo das economias emergentes entre 2022 e 2023.

Na China, impacto da guerra se mostrou irrelevante, enquanto as políticas expansionistas trouxeram aumento na expectativa de PIB para 2022, alcançando 5,4%. Cortes de impostos, pacotes de infraestrutura e expansão de novos empréstimos foram alguns dos incentivos à economia. Mesmo assim, o índice de ações chinesas permaneceu 15% abaixo do último pico, após alta de 3% no mês, ressaltando ainda o risco do avanço da Covid no país, lockdown em importantes centros de produção e ainda incertezas do setor imobiliário chinês.

Cenário Doméstico

No Brasil, dados de atividade e inflação vieram acima da expectativa, mostrando certa resiliência frente a alta de juros

Março começou com resultado do PIB do 4T21 melhor do que o esperado, +0,5% na comparação trimestral e 4,6% no ano frente a 2020. Após mês de janeiro mais fraco, afetado pela onda de Omicron, indicadores relativos a fevereiro mostraram recuperação da atividade e resiliência do emprego mesmo após as subsequentes altas de juros. Destaque para o setor de serviços, que deve ter caminho menos tortuoso pela frente enquanto construção e indústria, principalmente bens duráveis, devem enfrentar maiores desafios nos próximos meses.

IPCA-15 de março ficou novamente acima expectativa e esperamos uma forte alta do índice no mês, em 1,35%, resultado dos reajustes de combustíveis e alta dos alimentos. Apesar da nova surpresa inflacionária, o BC vem reforçando a mensagem de que pretende encerrar o ciclo de alta na próxima reunião em maio, com a Selic chegando em 12,75%. Apesar dos sustos e surpresas ao longo de março, o fluxo financeiro surpreendeu positivamente, levando a queda no dólar e fechamento das curvas de juros, o que beneficiou principalmente os investimentos em renda fixa atrelada à inflação.

Nesse cenário, mantemos nossa recomendação de alocação adicional em títulos atrelados a inflação, que ainda possuem elevada taxa de juros reais e oferecem proteção para a inflação mais alta no curto e médio prazo.

80%

Bolsa Brasil

Contrariando as expectativas negativas e cenário de juros mais altos, o Ibovespa tem forte alta em março de 6% e acumula 15% de ganho em 2022

O índice local mostrou um forte desempenho no mês de março, influenciado pela alta nos preços das commodities e pela taxa de juros beneficiando as instituições financeiras. O Petróleo Brent, que atingiu US$ 127/barril, corrigiu para US$ 107, enquanto o Minério de Ferro negociado em Cingapura reportou a marca de US$ 160 dólares ao final de março. Ainda assim, os papéis da Petrobras caíram 1,88% no mês, repercutindo potenciais interferências do governo na política de preços da companhia. Por outro lado, os papéis da Vale subiram 7,47% no mesmo período, mesmo com as maiores incertezas quanto à economia chinesa. As siderúrgicas não ficaram para trás, com destaque para a Gerdau que subiu 21,66% no período. Com a inflação assustando e o Banco Central trazendo nova elevação à taxa Selic, as ações do setor financeiro também ajudaram o índice a performar bem no mês, com ações do Santander em destaque de 17,16%, seguidas pelo Bradesco com 9,14% e Itaú 7,89%. Outros setores também se beneficiaram, como o Varejo, com expectativas de que o ciclo de contínua alta nos juros esteja próximo a se encerrar. Ações do setor de turismo como a CVC avançaram 32,83% no mês. Com os riscos geopolíticos afetando o mercado Russo, importante berço de investimentos em países emergentes, o Brasil deve continuar sendo um atrativo para investidores estrangeiros e abril pode continuar trazendo um bom fluxo para o Ibovespa.

Fundos Multimercado

Multimercados apresentam março positivo com “kit Brasil” em alta.

Multimercados em março apresentam a melhor performance no ano. De forma geral, as posições neutras em dólar corroboraram para o avanço. Além disso, destacaram-se os fundos comprados em títulos de renda fixa de forma geral, auxiliados pelo fechamento das curvas de juros, e aqueles com posições em Ibovespa, índice que apresentou alta de 6% no mês. Dentre as classes, o destaque ficou com fundos macro, que em média subiram 4,7% no mês.

Câmbio

Real é destaque global em março e acumula valorização de 15% no ano

Em março, a política monetária contracionista da maioria dos emergentes chamou atenção dos investidores estrangeiros, trazendo maior fluxo financeiro. Em conjunto, a valorização das commodities se mostrou vantajosa para todos os países da América Latina com exceção do México, que não é exportador líquido de commodities desde 2014. Sendo assim, o movimento de valorização das moedas foi sistemático. Ganharam destaque Colômbia e Brasil, ambos com altas mais relevantes na taxa básica de juros. Entre os países desenvolvidos, Euro e Libra mostraram depreciação frente ao dólar, prejudicados pelas perspectivas mais hawkish do FED enquanto o Banco Central Europeu permanece mais cauteloso com a atividade fraca e somente pretende subir juros no final do ano.

O dólar fechou março em R$4,74, a menor cotação desde março de 2020. A valorização da moeda, apesar de considerável, ainda não a leva para patamar de paridade de longo prazo, mostrando, portanto, espaço para novas valorizações. Os fundamentos como melhores termos de troca da balança comercial, juros em alta e risco fiscal controlado devem favorecer o fluxo de investimento estrangeiro.

Fundos Imobiliários

Após o rali de dezembro, fundos imobiliários permanecem em consolidação

O IFIX apresentou reação em março, com alta 1,1% no mês, beneficiado novamente pelo bom desempenho dos fundos de papel. Entre os fundos de tijolo, teve como destaque positivo o FII de shoppings HGBS11. Em relação ao mês anterior, o cenário macroeconômico tem uma definição mais clara quanto aos rumos do ciclo de contração monetária, que deve se encerrar com a Selic aos 12,75% a.a., apesar da persistência de alta inflacionária ser ainda um fator de risco para o setor no curto prazo. Ponderado a conjuntura econômica desafiadora, o alto desconto registrado nos FIIs em 2021 ainda é um fator de oportunidade em 2022, tanto em termos de apreciação de capital quanto em dividendos.

Apesar da taxa de vacância ainda elevada nas lajes corporativas, os fundos que atuam no segmento permanecem bastante descontados frente ao valor patrimonial, o que representa oportunidade de valorização. Enquanto isso, os fundos de galpões logísticos seguem com baixa vacância e demanda resiliente. Com recuperação mais robusta do setor de serviços e varejo, espera-se que a defasagem dos contratos de aluguel em relação à inflação seja reduzida, o que impulsionará o volume de distribuição em proventos. Já os fundos de papeis, apesar do baixo potencial de ganho de capital, permanecem com remuneração sólida da carteira de recebíveis indexada à inflação, o que deverá manter uma robusta geração de dividendos ao longo de 2022.


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