Trimestre com perspectiva levemente positiva
O ano de 2020 foi repleto de desafios para o setor de saúde. As medidas de distanciamento social e o receio das pessoas de frequentarem instituições de saúde levou o volume de internações, atendimentos e exames para os menores níveis da história. Já em 2021, as empresas do setor de saúde performaram razoavelmente bem, com o 1S21 positivo e 2S21 relativamente estável. Nota-se que o fluxo de pessoas em hospitais, laboratórios, clínicas e farmácias veio crescendo desde o segundo semestre de 2020, fruto da retomada dos procedimentos eletivos e demanda reprimida de exames que foram adiados devido à pandemia. Isso fez com que os níveis de receita tenham atingido patamares elevados, entretanto, os custos e despesas também tiveram um aumento relevante em todos os segmentos, impactados pelo aumento do preço dos insumos em toda a cadeia. Esperamos que essa tendência de faturamentos altos acompanhados de gastos também altos se estenda para todo 2022.
Diferente dos últimos trimestres, o 2T22 será um trimestre com pouca movimentação relacionada à M&A. Seria um trimestre “plain vanilla”, se no último dia do 2T22 o Grupo Fleury (FLRY3) não tivesse anunciado fusão com o Hermes Pardini (PARD3). Ainda em relação aos M&As, acreditamos que a maior parte das sinergias extraídas das inúmeras integrações das aquisições dos últimos anos devam ocorrer entre o final do ano de 2022 e início de 2023, o que pode trazer um alívio para as margens das companhias.
O desempenho operacional do setor de saúde deve ser levemente positivo no trimestre, resultado da sazonalidade positiva para os provedores somada aos menores impactos relacionados ao Covid-19. Acreditamos que os top-lines devem vir fortes, refletindo crescimento de ticket das controladoras (tickets consolidados devem ser impactados pelas integrações de aquisições), e bottom-lines sentindo a maior pressão das despesas financeiras. Neste contexto, esperamos que o segmento de farmácias e o de farmacêuticas sejam o destaque do tri, com o faturamento sendo favorecido pelo reajuste de medicamentos de 10,9% aprovado pela CMED, que entrou em vigor a partir de abril.
Por fim, apesar de todas as aquisições anunciadas nos últimos dois anos, acreditamos que o mercado ainda seja muito fragmentado (principalmente o segmento hospitalar), e entendemos que a crise tenha colocado as grandes empresas em posição favorável para ganhos de market-share através de consolidação inorgânica.
LABORATÓRIOS
Os Laboratórios de medicina diagnóstica foram fortemente impactados no início da pandemia, onde as pessoas adiaram os exames de rotina e não urgentes. A partir do 2S20, houve uma retomada gradual dos exames de análise clínica ex-Covid, que somados ao alto número de testes realizados, resultaram em receitas recordes em todo o setor. No 1T22, devido ao surto de Covid-19 (variante Ômicron) e Influenza (H3N2) concentrado em janeiro e fevereiro, os laboratórios experimentaram uma aceleração nas vendas de testes de Covid-19, mas sem grandes mudanças estruturais. Esperamos que o 2T22 seja um trimestre de normalização operacional, mas com resultados financeiros afetando margens.
Fleury no 1T22
Esperamos um resultado neutro para Fleury no 2T22. Os números devem vir parecidos com aqueles do 2T21 (ex-gastos com o ataque cibernético daquele trimestre). As margens devem vir em linha no a/a e levemente menores no t/t, devido a uma maior pressão inflacionária nos custos e despesas e do aumento do custo da dívida nas despesas financeiras. A incorporação dos resultados do laboratório Marcelo Magalhães deve contribuir positivamente para manutenção de margens, amenizando os impactos da inflação e resultado financeiro.
Em resumo, esperamos uma receita líquida de R$ 1.083 mm, com crescimento de 16% frente ao 2T21 e estável frente ao último tri. Acreditamos que os custos devam atingir R$ 795 mm (+18,0% a/a | +3,9% t/t), implicando em uma margem bruta de 26,6% (vs. 27,7% no 2T21 e 29,8% no 1T22) e margem EBITDA de 25,7% (vs. 23,6% no 2T21 e 30,0% no 1T22), que significa um EBITDA de R$ 278 mm (+27% a/a e -15% t/t).
FARMÁCIAS
Por possuírem uma parte relevante de suas lojas localizadas em shoppings, em 2020 (e boa parte de 2021) Raia Drogasil e Panvel foram afetadas por fluxos nas lojas físicas abaixo dos patamares pré-pandemia. Isso fez com que ambas tenham voltado o foco estratégico para os canais digitais, melhorando seus aplicativos e aperfeiçoando a logística e o tempo de entrega. Esperamos que o 2T22 seja um trimestre positivo para o segmento, com crescimento forte do top-line.
Em nossa visão, os altos níveis de inflação, que pressionam custos e despesas, serão atenuados pelo fato de as companhias estarem ligadas ao consumo não discricionário, que apresenta menor elasticidade às altas de preços, facilitando o repasse ao consumidor final. Além disso, as companhias serão favorecidas pelo reajuste de medicamentos de 10,9%, que entrou em vigor em abril de 2022 e vale até março de 2023. Neste cenário é possível que haja um trade down, onde o consumidor acaba por substituir os remédios de marca por Genéricos, mas entendemos que tanto Panvel quanto Raia Drogasil estejam bem preparadas para este movimento, pela vasta quantidade de SKU’s ofertados.
Panvel
Esperamos que a Panvel apresente bons resultados no 2T22. A expectativa é que haja um aumento de vendas, mais que compensando uma pressão nos custos e na despesa financeira, levando à estabilidade da margem bruta e leve aumento da margem operacional.
Nossa expectativa é que a empresa reporte R$ 974 mm de receita líquida (+25,4% a/a e +8,0% t/t) e custos na ordem de R$ 677 mm (+26,2% a/a e +8,1% t/t), levando a uma margem bruta de 30,5%. Com isso, esperamos um EBITDA de R$ 50 mm, crescimento de 15,2% t/t e 17,0% a/a, com margem de 5,1% (+0,3 p.p. vs. 2T21 e +0,8 p.p. ante o 1T22).
Raia Drogasil
Esperamos resultados positivos para Raia Drogasil no 2T22, principalmente pelo aumento de vendas. Apesar disso, o aumento do faturamento deve ser ofuscado por um aumento das despesas, que pode segurar a expansão da margem EBITDA da companhia. Outro ponto de atenção é o resultado financeiro, que em nossas projeções deve alcançar -R$ 156 mm, crescimento de 90,3% frente ao 2T21.
Devemos ver uma receita bruta de R$ 7.670 mm, crescimento de 22,8% quando comparada ao mesmo trimestre do ano anterior, e um aumento de 9,9% frente ao 1T22. No que tange aos custos, esperamos um total de R$ 5.082 mm (+24,8% a/a e +9,7% t/t), sustentando uma margem bruta de 29,6% (-1,0 p.p. a/a e + 0,2 p.p. t/t). Ademais, acreditamos que as despesas totais alcancem R$ 1.745 mm, levando a um EBITDA de R$ 693 mm (-7,2% a/a e + 10,3% t/t), com margem de 9,6%, estável frente ao último trimestre, mas 3,1 p.p. abaixo do 2T21.
FARMACÊUTICAS
As Farmacêuticas não sentiram muito o impacto da pandemia. Por se tratar de uma atividade industrial, e ainda, ligada a produção de remédios, o segmento não enfrentou restrições de oferta (produção) e tão pouco do lado da demanda (por parte das farmácias - que exceto aquelas localizadas em shoppings, continuaram abertas durante todo o período pandêmico) de seus produtos. Entendemos que essa independência em relação à fatores exógenos deva se estender para os próximos trimestres.
Hypera
Os resultados do 2T22 da Hypera devem vir positivos. Esperamos que a receita se mantenha em patamar elevado, sendo favorecida pelo reajuste de medicamentos de 10,9%, e que as margens se mantenham em um nível entre aquelas do 2T21 e do 1T22. A margem bruta deve sofrer uma pressão frente ao 2T21, mas seguir sendo beneficiada pela boa performance das marcas adquiridas. Já para o resultado financeiro líquido, esperamos um impacto negativo devido as maiores taxas de juros.
A receita líquida esperada é de R$ 1.809 mm (+20,0% a/a e +21,1 t/t), seguida por um aumento de 17,5% nos custos t/t, o que leva a uma margem bruta de 64,0% (-1,5 p.p. vs. 2T21 e +1,1 p.p. vs. 1T22). Acreditamos que a empresa registre um EBITDA Ajustado (ex-Operações Descontinuadas) forte de R$ 627 mm (+6% a/a e +24% t/t), mesmo com o impactado sazonal das despesas com marketing, que são usualmente maiores no 2o e 3o tri quando comparadas ao 1o e 4o. Com isso, a margem EBITDA ajustada deve alcançar 34,7%, o que representa um recuo de 4,6 p.p. ante o 2T21 e um incremento de 0,8 p.p. frente ao 1T22.
HOSPITAIS
As Redes Hospitalares sofreram muito no início da pandemia, com a suspensão dos procedimentos eletivos (procedimentos onde as margens são maiores). A partir do final de 2020, o fim das restrições aos atendimentos trouxe de volta o fluxo de pacientes em hospitais, mesmo com o agravamento da pandemia. Este movimento conjunto entre pessoas em busca de atendimentos diversos e aumento do número de infectados por Covid-19 resultou em altos níveis de internações, próximos a capacidade máxima de leitos. Desde então, com o avanço da vacinação e arrefecimento da pandemia, os hospitais experimentaram uma redução nos níveis de internação. Já o primeiro tri de 2022 foi caracterizado por um aumento pontual das taxas de ocupação, devido ao surto de Ômicron e Influenza.
Em relação ao 2T22, o segmento de Hospitais deve apresentar taxas de ocupação operacional mais altas, devido ao impacto sazonal positivo do 2o e 3o trimestre. O nível de ticket médio deve se manter estável, sendo puxado pra baixo pelas integrações das aquisições recentes (que operam com tickets menores).
Mater Dei
A Rede Mater Dei deve reportar resultados levemente positivos no 2T22. As consolidações dos resultados dos hospitais adquiridos que ocorreram nos últimos trimestres e o greenfield de Salvador irão contribuir para o aumento de receita a/a. Além disso, será consolidado o resultado do EMEC, contribuindo também para o crescimento t/t. Se por um lado as integrações contribuem positivamente para o aumento de receita, por outro elas pesam bastante nas margens da companhia. Acreditamos que na medida que as integrações são concluídas, em conjunto com a maturação da operação de Salvador, os ganhos de sinergia tendem a amenizar a pressão nas margens, principalmente a partir de 2023.
A expectativa é que a receita líquida chegue a R$ 433 mm (+61,2% a/a e +26,5% t/t). Os custos devem aumentar para R$ 264 mm (+76,3% a/a e +18,6% t/t), levando a margem bruta para 39,0% (-5,2 p.p. vs. 2T21 e +4,0 p.p. vs. 1T22). Esperamos um EBITDA de R$ 113 mm (+22% a/a e +40% t/t), com margem de 26,2% (vs. 34,6% no 2T21 e 23,7% no 1T22).
Rede D’Or
Esperamos resultados melhores para Rede D’Or no 2T22 quando comparados àqueles do 1T22. Do lado da receita, a sazonalidade deve ajudar a elevar a taxa de ocupação para 79% (vs. 83,0% no 2T21 e 78,1% no 1T22), mas o ticket deve permanecer estável tendo em vista as integrações das aquisições recentes. Esperamos uma melhora da dinâmica de tickets a partir do 2S22, em função das renegociações com as operadoras. Em relação às margens, devemos ver uma melhora frente ao 1T22, fruto das iniciativas de corte de gastos da companhia, especialmente em mat/med e G&A.
Projetamos uma receita líquida de R$ 5.791 mm (+11,0% a/a e -7,8% t/t). Os custos devem alcançar R$ 4.402 mm (+12,3% a/a e +2,9% t/t) levando a margem bruta para 24,0% (-0,9 p.p. vs. 2T21 e +3,6 p.p. vs. 1T22). As despesas devem sofrer ligeira retração a/a, implicando em um EBITDA de R$ 1.539 mm (+23,7% a/a e +34,9% t/t), com margem de 26,6% (vs. 23,9% no 2T21 e 21,2% no 1T22).
OPERADORAS
As operadoras, ao contrário dos hospitais, se beneficiaram muito no início da pandemia. Com a suspensão de procedimentos eletivos e políticas de isolamento social, os clientes apesar de não cancelarem os seus planos, deixaram de frequentar os estabelecimentos de saúde. Isso fez com que as operadoras continuassem com um faturamento sólido, e reduziu drasticamente os níveis de sinistralidade. Por outro lado, o fim das restrições aos atendimentos, aliado à um elevado nível de internações de Covid-19, culminaram em um alto fluxo de pacientes em entidades de saúde e, consequentemente, em um aumento significativo da sinistralidade, que alcançou patamares recordes em todo o segmento.
Esperamos que o 2T22 seja mais um trimestre desafiador em termos de sinistralidade (apesar de levemente abaixo do 1T22) e crescimento orgânico. Nossa expectativa para os próximos trimestres é de crescimento, mas desaceleração do ritmo de adições orgânicas de beneficiários, parcialmente compensada pelo reajuste em torno de 15% para os planos individuais. Para as empresas com maior movimentação de M&A em 2021, esperamos pressões em margens e tickets, que serão amenizadas com o desfecho dos processos de integração.
Odontoprev
Acreditamos que a Odontoprev reporte resultados ligeiramente positivos no 2T22. Ao contrário das operadoras de planos de saúde, a empresa passou muito bem pela pandemia, não apenas pelo controle da sinistralidade, mas também pela redução de despesas e CAC (Custo de Aquisição de Clientes). Destacamos a importância dos canais bancários para a companhia. Esses canais entendem o risco de crédito dos clientes menores e têm capacidade de aumentar a distribuição de vendas e ao mesmo tempo reduzir o risco de crédito da companhia.
Vale lembrar que a Odontoprev foi afetada positivamente por uma reversão de despesa de R$ 40,6 mm no 1T22, que pode comprometer a comparação t/t. Projetamos uma receita líquida de R$ 482 mm (+5,9% a/a e +6,4% t/t) seguida de custos da ordem de R$ 197 mm, que contribuem para uma Sinistralidade (CSP ex-PEONA) de 39,9% (vs. 39,9% no 2T21 e 32,2% no 1T22) e margem bruta de 59,1%. O EBITDA esperado é de R$ 140 mm, com margem de 29,1% (+0,9 p.p. vs. 2T21 e -18,8 p.p. vs. 1T22).