Macroeconomia


O Mercado na Semana Ed. 24.22

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Rafaela Vitória

Publicado 17/jun10 min de leitura

Juros sobem e a gasolina também

Em clima de aversão ao risco global, Ibovespa encerra a semana a 99.825 pontos caindo -5,36% e ficando abaixo dos simbólicos 100 mil pontos. A decisão do Fed de aumentar a taxa de juros em 0,75 p.p. na quarta-feira demorou para pesar sobre os mercados, que até subiram no mesmo dia, mas em seguida, enquanto o Brasil parava para o feriado de Corpus Christi, os mercados globais desabavam, o que trouxe a maior queda semanal do S&P 500 (-5,8%) desde março de 2020. A guerra travada entre os bancos centrais globais contra a inflação, insistentemente elevada, vai trazendo mais volatilidade aos mercados, que incorporam nos preços uma maior probabilidade de recessão. Por aqui, mesmo com o exterior corrigindo e recuperando-se de parte das perdas na sexta-feira, o Ibovespa acabou se ajustando à forte desvalorização global ocorrida no feriado e ainda refletiu o tombo de cerca de 8% da Petrobras, que desagradou líderes do executivo e legislativo aumentando o preço dos combustíveis ao passo que a Câmara aprovava a PLP18, que visa reduzir o ICMS nos combustíveis e outros itens para tentar tirar pressão da inflação. Para complementar a volatilidade, a queda do minério de ferro com dados econômicos fracos na China trouxe volatilidade também para as companhias de siderurgia e mineração, com as ações da Vale caindo cerca de 8%. Desta forma, os indicadores setoriais apresentaram forte queda na semana, com o IMAT caindo -13,33% refletindo a queda nas commodities e pressão nas Petrobras, seguido pelo segmento de varejo com o ICON caindo -11,57%, mais sensível à pressão inflacionária e ao ambiente de juros elevados. Os setores, industrial (INDX), financeiro (IFNC) e imobiliário (IMOB) também mostraram ajuste à aversão ao risco caindo respectivamente, -11,49%, -10,01% e -9,53%. Em menor ajuste, o índice de Utilities (UTIL) caiu apenas -3,17% na semana.

Apesar do feriado, a semana foi bastante movimentada nos mercados. Lá fora tivemos a surpresa da alta dos juros em 75 bps pelo Fed, que se mostra mais preocupado com a inflação do que com a queda dos mercados. A mudança na postura do Fed trouxe bastante volatilidade e na renda fixa vimos um ajuste significativo. Os juros futuros já precificam o Fed Funds Rate, que hoje está em 1,75%, chegando entre 3,5% e 4% até o final do ano. Os títulos de 2 anos, que chegaram a bater 3,4% a.a. às vésperas do Fomc, fecharam a semana em 3,2%. O receio que a alta mais acelerada dos juros possa resultar em recessão continua dominando o mercado, e o S&P 500 teve nova queda de 6% na semana e acumula perda de 23% no ano, já em território de bear market. O Fed não sinalizou com clareza os próximos passos, que pode ser uma nova alta entre 50 e 75bps, mas suas novas projeções sofreram significativa revisão, com menor crescimento do PIB e maior taxa de juros em 2023. Na Europa também vimos reações das autoridades monetárias, como uma alta inesperada de 50 bps na taxa na Suíça, a primeira em 15 anos, e uma reunião emergencial do ECB para reavaliar o cenário, com uma preocupação especifica sobre as diferenças nas taxas de juros dos títulos dos países que compõe a zona do euro. As commodities também tiveram queda na semana, o que pode ser uma boa notícia pois tende a aliviar a inflação daqui pra frente. O petróleo teve forte queda nessa sexta de 6% e voltou para o patamar de $110/barril.

Aqui no Brasil, o Copom subiu a Selic novamente, dessa vez em 0,50 p.p. para 13,25%, em linha com o esperado, mas deixou a porta aberta para mais uma alta em agosto, que acreditamos deve ficar em 0,25 p.p. Estamos bem próximo do fim do ciclo, mas o cenário ainda traz muita incerteza, tanto pelas notícias de fora como pelas domésticas. Na semana, tivemos a aprovação do PLP18, que limita o ICMS nas tarifas de energia, água e telecom e também nos combustíveis, além de uma redução a 0 do PIS e Cofins no Diesel e gás até o final do ano. A proposta segue para sanção presidencial e o impacto pode ser próximo de 1,5. p.p. no IPCA esse ano. Mas com a alta do petróleo acumulada nas últimas semanas, a Petrobras anunciou hoje um novo reajuste da gasolina em 5% e do diesel em 14%, o que provocou novas discussões no governo sobre mudanças na gestão da empresa e sua política de preços. Mais incertezas no cenário doméstico contribuíram para a queda da bolsa e subida do dólar, que voltou para o patamar de R$5,15.

Empresas e Setores

Diminuição do volume financeiro. A B3 (B3SA3) reportou uma diminuição de 8,5% no volume financeiro médio diário no mês de maio frente 2021, totalizando R$ 30 bi. A soma é 5,5% maior que o reportado no mês anterior de abril. | Conversão de Lojas. O Carrefour Brasil (CRFB3) anunciou o investimento de R$ 2,1 bi para conversão de 124 lojas da marca BIG, a previsão de conclusão é para o final de 2023. | Debêntures. A Movida (MOVI3) divulgou a sua 8ª emissão de debêntures simples em duas séries, totalizando R$ 1 bi. | Protocolo de intenções. A Petrobras (PETR4) assinou um protocolo de intenções no setor de gás natural com o governo de Sergipe, o protocolo prevê duas plataformas que irão compor o Plano Estratégico 2022-2026 da empresa. | Primeiro eletroposto. A Raízen (RAIZ4) inaugurou o primeiro posto com recarga de veículos elétricos, o projeto da empresa é construir uma rede de 35 eletropostos até março de 2023. | Produção mensal da PetroReconcavo (RECV3) atingiu a soma de 20,2 mil barris de óleo equivalente por dia (boed) no mês de maio, +2% m/m, já a produção de petróleo foi de 12,1 mil barris por dia, -3% m/m. | Novos investimentos em tecnologia. A Suzano (SUZB3) anunciou o investimento de US$ 70 mi para a criação da Suzano Ventures, Corporate Venture Capital que investirá em startups especializadas em tecnologia celulósica, segundo o comunicado da empresa.

IPOs & Afins

Nessa semana, a PetroRecôncavo (RECV3) captou R$1,034 bilhões por meio de um follow-on. São 44 milhões de ações com preço fixado em R$23,50. O capital deverá ser usado no plano de expansão da companhia, em especial na aquisição do Polo Bahia Terra que hoje aguarda a resolução de uma liminar na justiça. | Ainda, a Eneva (ENEV3) lançou uma oferta primária com colocação restrita de 300 milhões de ações ordinárias. O follow-on pode gerar um aumento de capital na ordem de R$4 bilhões na companhia. Capital esse que deverá ser utilizado para quitar parte da aquisição da Celsepar e Cebarra. | Por fim, em continuidade aos fatos da última semana, o conselho de administração da CVC (CVCB3) aprovou uma oferta primária de até R$477 milhões em ações da companhia. O objetivo é reforço do capital de giro para o desenvolvimento de sua estratégia de crescimento. São 45,6 milhões de ações ordinárias com esforços restritos de colocação, podendo haver lote adicional de mais 11,625 milhões.

Fusões e Aquisições

Na segunda-feira (13), a Localiza (RENT3) e Unidas (LCAM3) cumpriram mais uma fase do acordo com o Cade para fusão, com a venda de uma frota de 49 mil veículos para gestora Brookfield, dona da locadora Ouro Verde, por R$ 3,57 bilhões. A operação segue em linha com a condição exigida pelo Cade, com o intuito de diminuir a dimensão das companhias, evitando a sua concentração no mercado. | Além disso, a Linx, pertencente a Stone (STOC31), comunicou a compra da Plugg.to, companhia paulistana que integra varejistas aos marketplaces, com o objetivo de expandir suas operações no setor. | Por fim, na terça-feira (14) a Braskem (BRKM3), por meio de sua controlada indireta BI, também anunciou a venda de 50% do capital social da Terminal Química Puerto México (TQPM) para Advario. Segundo a companhia, o acordo fortalecerá as suas operações no país e na indústria petroquímica, tendo em vista a expertise da Advario no segmento.

Fundos Imobiliários

Em outra semana negativa, o IFIX teve variação de -0,40%. Seguem os principais fatos relevantes da semana:

BCRI11: O fundo informou que cotistas detentores de 6,885% das cotas do Fundo, solicitaram a convocação de uma AGE para deliberar sobre a substituição do atual gestor do fundo pela Suno Gestora De Recursos LTDA, procedimento que deve ser acatado pela administradora em até 30 dias corridos. | TEPP11: Foi comunicado pelo fundo a celebração de um compromisso para venda dos conjuntos 51, 52, 53, 54, 61, 62, 63, 64, 71, 72, 73, 74, 81, 82, 83 e 84, correspondentes aos 5º, 6º, 7º e 8º andares do Edifício Timbaúba, situado no bairro Bela Vista, São Paulo/SP. O acordo foi celebrado pelo preço total de R$ 30,7 mm, o equivalente a R$13.075,85/m² frente aos R$11.313,06/m² referentes ao preço de aquisição realizado em dez/2020. Com isso, a operação descrita resultará em um ganho de capital de R$0,47 por cota. O fundo também comunicou a celebração de um contrato com a Club Coworking para a locação dos conjuntos nºs 101, 102, 103, 104, 105 e 106 do Edifício Passarelli, correspondentes a 1.018,42 m² de área BOMA. O contrato se inicia em 15.06.2022 e tem vigência de 60 meses. Dessa forma, estima-se que a locação descrita impactará positivamente o fundo em R$ 0,02/cota no resultado. Além disso, sua taxa de vacância física passará de 10,86% para 8,16%. | RECT11: Foi celebrado pelo fundo um contrato com a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A para a locação de quatro salas no Centro Empresarial Parque da Cidade em Brasília/DF, pelo prazo de 60 meses. O contrato terá vigência imediata, com área alugada correspondente a 1.404,52 m².

Top da Semana

Dando início a comercialização de planos de saúde da Seguros Unimed, a Qualicorp (QUAL3), subiu 14,8%, seguida pela Eletrobras (ELET6 e ELET3), que apresentou um retorno positivo de 6,8% e 5,6% na semana de sua privatização. Também no setor de energia, Energisa (ENGI11) e Engie (EGIE3), subiram 5,1% e 2,6% respectivamente. Do outro lado, as varejistas Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) continuam sofrendo com a inflação, caindo 20,8% e 17,9% na semana. A Méliuz (CASH3) apresentou a segunda maior queda, com retorno negativo de 18,3%.

Agenda da Semana

A agenda da próxima semana trará importantes indicadores para a conjuntura econômica doméstica. Em primeiro lugar, será divulgada a ata do COPOM, que deverá fundamentar a decisão da autoridade monetária de elevar a Selic para 13,25% e sinalizar um aumento adicional de igual ou menor magnitude na próxima reunião. Conheceremos também o IPCA-15 de junho, para o qual projetamos alta de 0,69%, um pouco acima da mediana do mercado. Completam a agenda doméstica o dado de arrecadação tributária e a criação de empregos formais relativos a maio. Nos Estados Unidos, será divulgada a revisão da expectativa de inflação dos consumidores no longo prazo, indicador amplamente acompanhado pelo FED e cuja nova leitura pode ter impacto significativo na condução da política monetária e nos movimentos prospectivos da curva de juros.

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