Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 06/mai8 min de leitura

Bear Market está aí?

A aversão ao risco se intensificou na semana, dando início a um maio conturbado, com o urso rondando os mercados. Seguindo o exterior, o Ibovespa fechou em queda de 2,54% na semana, praticamente zerando os ganhos do ano. A probabilidade de um hard landing na China e cenário de guerra sem previsão de encerrar, somado a questionamentos sobre a eficácia do ritmo de aperto monetário do FED contribuíram para que os ativos tivessem nova semana de perdas em nível global. Dentre os índices, apenas o IMAT fechou em campo positivo, subindo 0,43% na semana.

Além das perdas nas bolsas, chama a atenção as perdas na renda fixa. As taxas de juros dos títulos americanos tiveram nova alta essa semana, e o título de 10 anos saltou para 3,1%, nível pré pandemia. Esse movimento já resultou em uma perda de cerca de 10% nos portfólios de renda fixa nos EUA desde o início do ano, algo inédito nesse mercado. A elevação das taxas de mercado segue a expectativa de alta de juros pelo Fed. Essa semana, o banco central americano confirmou uma alta de 50 bps na taxa básica, mas que permanece em nível ainda bastante baixo, em 1%, e o mercado continua especulando se o ritmo de alta poderá ser de 75 bps a partir da próxima reunião. Além disso, até onde o Fed irá subir os juros permanece incerto. Enquanto o mercado precifica uma taxa no final do ano entre 2,5% e 3%, caso a inflação permaneça mais alta e mais persistente, poderemos ver taxas subindo para patamar restritivo, acima de 3%. Os dados do mercado de trabalho dessa sexta feira confirmaram que a economia americana continua aquecida, com a criação de quase 500 mil novas vagas em abril, mas com um crescimento de 5,5% dos salários, em linha com a expectativa e abaixo do patamar da inflação, que está em 8,5%.

Aqui no Brasil, a turbulência também foi sentida com a forte alta do dólar na semana, que voltou para R$5,08, e mais um stress nas curvas de juros. O Copom subiu a Selic para 12,75% e confirmou a expectativa da maioria do mercado deixando a porta aberta para mais uma alta na reunião de junho. Revisamos nossa expectativa de Selic de fim de ciclo para 13,25% nesse cenário. Os juros longos das NTN-Bs voltaram para próximo de 5,8% a.a. e as taxas pré também tiveram alta, precificando a Selic acima de 12% por toda a curva. Na próxima semana teremos a divulgação do IPCA de abril, e ainda esperamos uma variação elevada, de 1,1%, mas que pode ser o pico da inflação, que deve acumular 12% em 12 meses. O IGP-DI de maio divulgado hoje já trouxe um bom alívio, em 0,4%, mostrando uma desaceleração de produtos industriais e agrícolas. Uma outra boa notícia na semana foi o resultado da balança comercial de maio, com saldo de US$8,2 bilhões e recorde na corrente de comércio. E também pelo lado fiscal, o BC divulgou os dados atrasados de fevereiro que mostraram um superávit primário acumulado em 1,4% em 12 meses, apesar das incertezas do ano de eleição e ainda medidas sendo anunciadas, o fiscal segue em linha.

O bear market que se instalou na renda fixa e nas bolsas deixou um mercado de fora, por hora: as commodities. Apesar da aversão a risco, e da expectativa que os juros possam causar uma recessão à frente, os preços das commodities continuam subindo, principalmente o petróleo. Na semana, o petróleo teve alta de 6% e, juntamente com a alta do dólar de 2%, voltamos a ter defasagem nos preços da gasolina e do diesel em relação a paridade internacional, o que deve gerar mais uma fonte de preocupação para os mercados locais.

Com o mercado volátil e muita incerteza ainda no cenário, recomendamos aos nossos investidores cautela nesse momento. Manter a reserva de liquidez e o portfólio diversificado com foco no horizonte de longo prazo é a melhor proteção. Não tente acertar pontos de entrada ou de saída, pois as variações estão bem atípicas. 

Empresas e Setores

Especiarias do Oriente. Notícia da Bloomberg informou que a JBS (JBSS3) adquiriu duas plantas na Arábia Saudita visando a expansão de sua produção de alimentos para o continente asiático. | Inadimplência joga contra. O Bradesco reportou resultado positivo para o 1T22, mas levemente abaixo da nossa projeção. O lucro líquido do banco foi de R$ 6,8 bi (+3,1% t/t e -2,4% R/E). (Comentário BBDC4) | Resultados deturpam visões para o ano. A BRF trouxe resultados abaixo do esperado por nós no 1T22, a empresa apresentou receita líquida de R$ 12.041 mm (-12,3% t/t e 13,7% a/a) enquanto o EBITDA foi de R$ 152 mm (-84,1% R/E, -91,4% t/t e -88,2% a/a). (Comentário BRFS3) | Preços mais altos compensam queda de volumes de vendas para a CSN Mineração (CMIN3), o resultado do 1T22 da empresa trouxe números acima do que projetamos, entretanto a produção da mineradora no trimestre foi -6,5% t/t e -16,4% a/a. (Comentário CMIN3) | Mineração forte impulsionou o EBITDA da CSN que em seu resultado do 1T22 divulgou receita líquida 13,6% maior t/t e -1,2% menor no a/a. (Comentário CSNA3) | Solidez em meio à tempestade. Nos resultados do 1T22, a Direcional (DIRR3) apresentou um VGV total de R$ 557 mm (+23% a/a e -12% t/t) enquanto seu EBITDA totalizou R$ 96 mm (+24%R/E e +25% a/a). (Comentário DIRR3) | O jogo começou a virar? A Engie Brasil (EGIE3) reportou o resultado do 1T22 registrando R$ 3,1 bi de receita (-5,8% a/a) e o EBITDA expandiu 8,8% a/a totalizando R$ 1,9 bi. (Comentário EGIE3) | Bons resultados apresentados pela Energias do Brasil (ENBR3) no 1T22, a companhia gerou R$ 3,7 bi em receita (+7,6% a/a e -2% Inter Research) já o seu EBITDA ajustado foi 31,9% acima do que o mesmo período do ano passado. (Comentário ENBR3) | Resiliência, resiliência. Apesar das incertezas internacionais e sazonalidade, a Gerdau (GGBR4) reportou bons resultados no 1T22, com receita e resultados dentro do projetado. Além disso, o EBITDA da companhia foi impactado positivamente por custos e despesas menores que o projetado. (Comentário GGBR4) | Em linha com as expectativas, a Iguatemi (IGTI11) demonstrou forte nível de vendas e melhora operacional no 1T22. A companhia apresentou bom volume de vendas na ordem dos R$ 3.341 mm (+7% R/E e +77% a/a). (Comentário IGTI11) | Receita em linha, mas EBITDA surpreende no resultado da Klabin (KLBN3) que reportou no 1T22 receita líquida de R$ 4.422 mm (vs. R$ 4.434 mm Inter Research) e EBITDA de R$ 1.726 mm (+12,7% Inter Research e +35,5% a/a). (Comentário KLBN3) | Novos empreendimentos penalizam margens da Ômega Energia (MEGA3) no 1T22, a empresa apresentou uma redução de 2% a/a de seu EBITDA Ajustado, porém com deterioração de 8 p.p. em sua margem. (Comentário MEGA3) | Bons resultados operacionais apresentados pela Movida (MOVI3) para o 1T22, sustentando rentabilidade recorde. A companhia encerrou o trimestre com receita líquida consolidada de R$1,966 bi (+13% t/t e +144% a/a) e EBITDA consolidado de R$863 mm (+11% t/t e +184% a/a). (Comentário MOVI3) | Pressão dos custos se acentuam sobre os resultados da Marfrig (MRFG3) conforme apresentado no resultado do 1T22, o EBITDA da empresa foi de R$ 2,7 bi (-0,7% R/E, -33% t/t e +69% a/a) (Comentário MRFG3) | Metamorfose ambulante. O GPA (PCAR3) apresentou resultados mistos no 1T22, com receita líquida consolidada de R$ 10,1 bi (+2,3% a/a e -8,5% R/E) e Margem EBITDA de 8,2% (-1,1 p.p. a/a) (Comentário e Revisão de Preços PCAR3) | Lucro recorde. A Petrobras (PETR4) apresentou resultados fortes no 1T22 potencializados pela alta do preço do petróleo no mercado internacional, o lucro líquido da companhia foi de R$ 44,56 bi (38x 1T21, que totalizou R$ 1,16 bi). | Reversão de prejuízo da PetroRio (PRIO3) que reportou no 1T22 lucro líquido de US$ 228 mm, frente os US$ 7,2 do 1T21. O EBITDA da empresa foi de R$ 225 mm (+203% a/a) | Receita forte ofuscada por defasagem inflacionária. A Raia Drogasil apresentou resultados mistos no 1T22, a receita da companhia foi de R$ 6.563 mm (+16,8% a/a) e EBITDA de R$ 628 mm (+1,1% a/a). (Comentário RADL3) | Resiliente, mesmo com desaceleração. A Irani reportou resultados em linha com nossas projeções, o EBITDA reportado foi de R$ 136,6 mil (+3,5% R/E) e a receita consolidada somou R$ 407,9 mil (-1,5% t/t e +14.5% a/a). (Comentário RANI3) | Eficiência Operacional é destaque nas 3 divisões da Localiza (RENT3) que entregou resultados do 1T22 acima das nossas expectativas. A Receita consolidada da empresa foi de R$ 2,712 bi (+3% t/t e -3% a/a), a melhora operacional contribuiu com o aumento do EBITDA em +22% t/t e +41% a/a, somando R$ 1,139 bi. (Comentário RENT3) | Preços maiores ofuscados por volumes menores. A Suzano (SUZB3) trouxe resultado no 1T22 dentro do esperado pelo Inter Research, mas surpreendeu positivamente na linha do EBITDA, que somou R$ 5.121 mm, 5,2% maior do que projetado. (Comentário SUZB3) | Margens estáveis, obrigações fiscais corroem lucro líquido. A Totvs apresentou resultados mistos no 1T22, com manutenção do aumento da receita líquida, mas com queda da contribuição de duas das suas três dimensões. O EBITDA ajustado da companhia foi de R$ 223,3 mm (+2,7% t/t e +4,6% R/E). (Comentário TOTS3)| Resultado líquido impactado por reperfilamento financeiro. A ISA CTEEP (TRPL4) apresentou redução da sua receita operacional no 1T22 frente o ano anterior, o EBITDA da companhia totalizou R$ 532 mm, -14% a/a. Seu lucro líquido foi de R$ 113 mm, -62% a/a. (Comentário TRPL4

IPOs & Afins

Nesta quarta (04/05), a Yara Internacional anunciou que avalia uma potencial oferta pública inicial de ações (IPO) da Yara Clean Ammonia (YCA) na bolsa de Oslo. A unidade de negócio se concentra hoje em amônia limpa e planeja utilizar o dinheiro captado para acelerar seu crescimento e expandir na cadeia de valor. A Yara pretende continuar sendo a sócia majoritária após a captação. 

Fusões e Aquisições

Em semana fraca para o mercado de M&A, o principal comunicado foi dado pela Jales Machado (JALL3), que deu um grande passo na expansão de suas operações, com a compra da Usina Santa Vitória Açúcar e Álcool e do Cogen ERB, por R$ 704,9 milhões. Segundo a companhia, a aquisição ampliara a sua capacidade de processamento de cana-de-açúcar, além de possuir vantagens geográficas, com grande disponibilidade de água para irrigação e conter espaço amplo para expansão das suas terras. Na operação, também está incluso o investimento na usina e absorção das dívidas bancárias de longo prazo da Cogen. | Por outro lado, ainda na quarta-feira (4), a TIM (TIMS3) anunciou durante o TIM Day que fará uma colaboração com a FS Security para criação de uma nova empresa, chamada EXA Tecnologia, com o objetivo de expandir o seu portfólio de serviços e ingressar na setor de segurança. 

Fundos Imobiliários

Com volatilidade, o IFIX fechou a semana com variação de -1,14%. Seguem os principais fatos relevantes da semana: 

RBHY11: Foi comunicado pelo fundo o encerramento distribuição pública com esforços restritos de colocação das cotas da 3ª emissão, onde foram subscritas e integralizadas o total de 311.861 novas cotas, equivalente a R$ 31,2 mm considerando o preço de subscrição de R$ 99,87. | XPSF11: Foi aprovado em AGO o desdobramento de cotas do fundo, utilizando por base a posição de fechamento em 05 de maio de 2022, de forma que, depois do desdobramento, cada uma das 4.330.214 cotas existentes passará a ser representada por 10 novas cotas, totalizando 43.302.140 cotas. As cotas advindas do desdobramento passaram a ser negociadas a partir de hoje. | RECT11: O fundo celebrou um contrato com o Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita e Tributação dos Estados e do Distrito Federal, para a locação de uma sala no Centro Empresarial Parque da Cidade em Brasília/DF, na Quadra 09, SC/SUL, Lote C, pelo prazo de 60 meses. O Contrato terá vigência a partir de 25 de maio de 2022, com área alugada correspondente a 360,15m². Após essa locação, a taxa de vacância do portfólio será de 15,44%. | MGLG11: O administrador aprovou a realização da 3ª emissão de cotas do fundo, que serão realizadas via oferta pública com esforços restritos de colocação nos termos da Instrução CVM nº 476. O montante total da Oferta Restrita será de até R$ 32 mm, correspondente a até 640.000 novas cotas a serem emitidas pelo preço unitário de R$ 50,00. | XPIN11: O fundo comunicou a liquidação de sua primeira emissão de CRI, com montante de R$ 50,4 mm levantados, com remuneração equivalente a IPCA + 7,5% a.a., que será utilizado pelo fundo para aquisição de terreno para construção de um galpão logístico em Extrema-MG. | RZAK11: Foi aprovado a segunda emissão de cotas a 2ª emissão de cotas do fundo no montante inicial de R$ 150 mm, correspondentes a 1.592.019 cotas, as quais serão objeto de oferta pública de distribuição, com esforços restritos de colocação nos termos da Instrução da CVM nº 476. | ARCT11: O outro fundo da gestora Riza também fará emissão de cotas – com esforços restritos de colocação conforme Instrução CVM nº 476 – para levantamento de até R$ 150 mm, no âmbito de sua 6ª emissão.

Agenda da Semana

A próxima semana trará a divulgação de diversos indicadores importantes para a conjuntura doméstica. Em primeiro lugar, a ata do COPOM permitirá conhecer em mais detalhes a perspectiva do Banco Central para a continuidade do ciclo de alta dos juros na próxima reunião, após a elevação da Selic para 12,75%. Além disso, será divulgado o IPCA referente ao mês de abril. Projetamos um indicador de 1,1%, com o acumulado em 12 meses ultrapassando a marca de 12%, em função da elevação dos combustíveis, alimentos e medicamentos. Essa leitura deve mostrar o pico do IPCA em 12 meses, convergindo para o intervalo entre 7,0% e 8,0% até o final do ano. Por último, conheceremos também o desempenho da atividade no setor de serviços e no varejo para março, com expectativa para algum crescimento marginal. Nos Estados Unidos, o núcleo da inflação ao consumidor deve desacelerar para 6,0% em 12 meses, refletindo alguma normalização dos preços de bens industriais. A intensidade da inflação de serviços, por sua vez, pode ter maior impacto na tomada de decisão do FED para as próximas reuniões. Por último, será definida a taxa de política monetária na China, com expectativa de redução marginal para 2,8%, de forma a compensar pela desaceleração observada nos indicadores de atividade mais recentes do país asiático. 

Top da Semana

Após reportar um robusto resultado a Petrobras (PETR3 PETR4), fechou a semana com a maior alta do Ibovespa, no total de 8,8%. Seguindo a sequência de boas entregas, a Alpargatas (ALPA4) apresentou a segundo maior alta da semana, de 8,7%. Diante da forte alta no dólar, as exportadoras, Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3) e SLC Agrícola (SLCE3) também tiveram um bom desempenho. Após o anúncio de recompra de ações a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) subiu 2,2%. No setor de varejo, as companhias Lojas Renner (LREN3) e Pão de Açúcar (PCAR3) terminaram a semana no campo positivo e também figuraram entre as maiores altas, que foi completada por Santander (SANB11). Mesmo após a apresentação de um resultado acima das expectativas, Marfrig (MRFG3) acumulou uma queda de 14,7% e liderou as maiores quedas, seguida de perto por Ecorodovias (ECOR3), que apresentou aumento de alavancagem na divulgação de resultados e caiu 14,6%. Impactadas negativamente com a alta dos juros, as techs Totvs (TOTS3), Locaweb (LWSA3) e Inter (BIDI11) terminaram a semana novamente no vermelho. Fechando as maiores baixas, estiveram as companhias Petz (PETZ3), Natura (NTCO3), Magazine Luiza (MGLU3), B3 (B3SA3) e BRF (BRFS3)

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