Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 29/abr10 min de leitura

Sell in May chegou um mês mais cedo

Em mais uma semana marcada pela aversão ao risco no cenário internacional, o Ibovespa fecha em queda acumulada de 2,88%, totalizando impressionante recuo de 10% no mês, tendo o pior desempenho desde março de 2020, quando do auge da pandemia. Dados macroeconômicos na China abaixo do esperado levaram papéis de exportadoras, em especial no setor de Siderurgia e Mineração, a fortes quedas. O setor financeiro, importante representante no índice local, também teve desempenho aquém, na esteira da expectativa de maior impacto da inadimplência observados nos resultados do primeiro trimestre do ano. Assim, o ICON que já vem sofrendo com as pressões de inflação e juros elevados e retraiu 14,2, o IFNC teve a segunda maior queda da semana, recuando 11,9%, seguido pelo IMAT, em -11,4%.

A última semana do mês confirmou a tendência de maior aversão a risco nos mercados, observada ao longo de todo o mês de abril com queda nas bolsas, elevação dos juros e fortalecimento do dólar. Nos EUA, foi divulgado o PCE, medida de inflação preferida pelo FED, confirmando um elevado patamar de variação de preços, tanto pela taxa cheia, 6,6% a.a., como pelo núcleo, 5,2% a.a. O custo médio do salário também teve forte alta no último trimestre, 1,4%, o que indica uma inflação de serviços maior e reforça as expectativas de mercado de aumento de juros pelo FED em 50 bps na reunião na próxima semana, e ainda com chances de uma elevação do ritmo para 75 bps nas próximas reuniões. O S&P500 teve queda forte de 3% na semana e acumulou perda de 9% em abril, pior mês desde 2020. Os juros americanos de longo prazo também tiveram alta e a taxa de 10 anos terminou o mês em 2,94%. A expectativa de juros maiores continua favorecendo o dólar em relação à cesta de moedas, com valorização de 5% no mês e o índice DXY ultrapassou a marca de 100 pontos. Em relação ao Euro, a cotação de 1,05 é a menor desde 2016.

Aqui no Brasil, a agenda de dados econômicos da semana foi carregada e na sua maioria vimos números de atividade mais positivos, indicando que devemos ver um crescimento da economia maior que o esperado, apesar da elevação dos juros e do cenário externo mais desafiador. Os dados do mercado de trabalho de março foram o destaque, com o número positivo de 136 mil vagas pelo Caged e uma taxa de desemprego em queda para 11,1%, pela Pnad, melhor que o esperado. Nas contas externas de fevereiro, divulgadas com atraso devido à greve do BC, o destaque foi o investimento direto no país, que somou US$11 bilhões, o maior volume mensal desde 2017. E os dados de crédito, também de fevereiro ainda mostraram uma expansão das concessões, mas em um ritmo menor e com taxas em alta, refletindo um ambiente mais conservador e com maior custo de crédito. O resultado fiscal do governo central de março também foi melhor que o esperado com déficit de R$6,4 bi no mês, mas fechando o trimestre com superávit de R$50 bi, número bastante robusto se comparado com a meta do ano que é um déficit de R$66 bi. Por fim, a inflação também ficou um pouco menor que o esperado, mas números ainda salgados, tanto pelo IPCA-15, que ficou em 1,73%, como pelo IGPM em 1,4%. Nos dois casos, os reajustes de combustíveis foram o principal impacto negativo. Já nos dados de alimentos, que ainda tiveram forte alta pelo IPCA, começamos a ver uma desaceleração nos preços agrícolas, pelo IGPM, o que pode indicar que chegamos ao pico da inflação. Mas os preços das commodities ainda dão sinais mistos. Apesar da maior aversão a risco, com juros maiores no cenário externo, a guerra no seu segundo mês e a China lutando contra a Covid ainda impacta as cotações de commodities, que tiveram nova alta de 4,4% no mês, medido pelo índice CRB. Por um lado, o mercado de commodities ainda aquecido deve continuar gerando benefícios para a economia brasileira, com a balança comercial forte, arrecadação em alta e também gerando efeitos indiretos fortalecendo a demanda interna e o mercado de trabalho. Por outro lado, podemos ver uma inflação ainda alta por mais tempo e o Copom, que deve subir os juros em 1 ponto percentual na próxima semana, pode confirmar a expectativa do mercado e anunciar a necessidade de mais um ajuste residual em junho. 

Empresas e Setores

Prévia operacional da Equatorial Energia (EQTL3) registrou aumento de 3,5% no total de energia transmitida no 1T22, totalizando 8,6 MWh. | Net Zero. A JBS (JBSS3) anunciou a criação da No Carbon, empresa de locação de veículos elétricos. A empresa espera somar caminhões elétricos à frota existente, o projeto está alinhado com seu projeto de se tornar Net Zero até 2040. | 1,15 milhões de clientes. A OI (OIBR3) anunciou a venda de sua operação de TV por assinatura para a Sky, a operação segue sequências de vendas da companhia diante da sua situação de recuperação judicial. | Leve aumento produtivo foi anunciado pela Petrobras (PETR4), a companhia comunicou a produção média de 2,46 mm boe/d (+ 0,5% a/a) ao longo do 1T22. | Reduzindo de prejuízos. A Embraer (EMBR3) comunicou prejuízo líquido na soma de R$ 428 mm para o 1T22, número 18% menor no comparativo a/a. A Margem EBITDA da empresa regrediu para 1,5% (-0,8 p.p. a/a) totalizando R$ 45,4 mm. | Lucro decolando para a GOL (GOLL4) que no resultado do 1T22 registrou R$ 2,6 bi em lucro líquido (vs. prejuízo de R$ 2,5 bi do 1T21). O EBITDA da aérea somou R$ 542,2 mm (vs. -R$ 72 mm no 1T21). | Lucro crescente da Hypera (HYPE3). A empresa divulgou resultados positivos no 1T22, O EBITDA da companhia foi de R$ 505,7 mm, já seu resultado foi de lucro líquido na ordem dos R$ 346,9 mm (+13,7% a/a). | Normalidade gerando resultados para a Multiplan (MULT3), que apresentou no 1T22 um lucro líquido 2,7x maior que no ano anterior. A companhia reportou lucro de R$ 171,5 mm e um EBITDA de R$ 305,2 mm (+124% a/a). | Se mostrando resiliente, mesmo com desaceleração, a Irani (RANI3) anunciou seus resultados em linha com nossas projeções, o EBITDA reportado foi de R$ 136,5 mm (+3,5% Inter Research). A receita totalizou R$ 407,9 mm (-1,5% t/t e +14,5% a/a). (Comentário RANI3) | Deterioração no crédito pressionou os resultados do Santander (SANB11), a empresa reportou lucro líquido de R$ 4 bi (-1,1% Inter Research e +3,2% t/t), o ROAE do banco foi de 20,7% (+0,2 p.p Inter Research e +1,0 p.p. t/t). (Comentário SANB11) | EBITDA em linha, mas 2022 traz desafios. A Vale (VALE3) trouxe resultados em linha com o que projetamos, O EBITDA da empresa totalizou US$ 6.374 mm (vs. US$ 6.458 mm Inter Research) o lucro líquido da gigante foi de US$ 4.456 mm (-11,7% t/t e -19,7% a/a). Além disso, empresa anunciou um novo programa de ações visando comprar 500 milhões de ações no prazo de 18 meses, 10% das ações em circulação. (Comentário VALE3) | Impactado positivamente por créditos tributários, a Weg (WEGE3) anunciou seus resultados para o 1T22, com lucro líquido de R$ 943,9 mm e EBITDA na ordem do R$ 1,232 bi (+23,5% e +21,3% a/a, respectivamente). 

IPOs & Afins

Hoje, sexta-feita (29), a Embraer divulgou a atualização das preparações para a combinação de negócios com a Zanite. A Eve, subsidiária de aeronaves elétricas da Embraer, deve se fundir com a SPAC Zanite Acquisition por meio de um PIPE (Private Investment in Public Equity). Se aprovada pelos acionistas da Zanite na assembleia de 6 de maio e considerando que outras condições habituais de fechamento sejam cumpridas, a Zanite mudará seu nome para Eve Holding, Inc. (“Eve Holding”) e as ações serão listadas na Bolsa de Valores de Nova York (“NYSE”) sob os símbolos “EVEX”. Em dezembro a Embraer já havia divulgado que esperava captar U$500 milhões com a abertura de capital por meio de combinação de negócios. 

Fusões e Aquisições

Na quinta-feira (28), a PetroRio (PRIO3) anunciou a compra do total da participação da Petrobras (PETR4) no Campo de Albacora Leste, por US$ 2,2 bilhões. Com a aquisição a companhia irá dobrar a sua produção, além de permitir sinergias entre demais operações de sua base, para Petrobras, a venda segue com a sua estratégia de melhorar a alocação de capital e gestão de portfólio. | Por outro lado, a Suzano (SUZB3) comunicou a compra de oito ativos florestais do Fundo de Investimento Florestal (FIP) e Arapar, por US$ 667 milhões. Segundo a companhia, a transação está em linha com a sua estratégia de ser “best in classe” no que tange os custos totais de celulose, além de conter uma base florestal para o longo prazo. | Ademais, a Wiz (WIZS3) anunciou a criação de uma joint venture com o Grupo Omni, chamada NewCo, com o objetivo de desenvolver uma plataforma de comercialização de produtos de seguridade através dos canais de distribuição do grupo. | Por fim, por meio do formulário de referência entregue para CVM na quinta-feira (28), o Itaú (ITUB4) informou o mercado sobre a compra de uma fatia de 11,36% da XP por R$ 7,9 bilhões, com o propósito de encerrar questões contratuais passadas entre ambas as companhias. 

Fundos Imobiliários

Com comportamento estável, o IFIX fechou a semana com variação de 0,09%. Seguem os principais fatos relevantes da semana: SHPH11: Em razão da continuidade dos graves acontecimentos geopolíticos globais e momento de incerteza nas decisões de investimento e desinvestimento, o coproprietário do “Condomínio Comercial Shopping Higienópolis” deve postergar novamente a colocação à venda das participações do empreendimento. Em razão disto, o período de exercício do direito de preferência referente à emissão, o qual foi iniciado no dia 21 de fevereiro de 2022, não será encerrado em 03 de maio de 2022, mas sim, no dia 10 de junho de 2022. | HGRU11: Em contrapartida à outorga da escritura, o fundo recebeu o valor de R$ 5.600.000,00, equivalente a R$ 4.404,49/m². O imóvel foi adquirido no dia 6/11/2020, com o investimento total, considerando custos de aquisição, custos de transação e benfeitorias, de R$ 4.083.249,65, equivalente a R$ 3.211,54/m². Com isso, a operação gerou um lucro em regime de caixa de R$ 1.516.750,35, equivalente a aproximadamente R$ 0,08/cota. O Preço de venda do Imóvel é 37% superior ao valor investido, 38% superior ao valor de laudo do Imóvel em 2021 e 38% superior ao valor do laudo de aquisição. A taxa interna de retorno anualizada da operação foi de aproximadamente 29,2%. A partir dessa data, o comprador fará jus ao aluguel mensal de R$ 28.332,87, equivalente a aproximadamente R$ 0,002 por cota. 

Agenda da Semana

No âmbito da atividade econômica, a agenda da próxima semana trará o resultado do PIB mensal de fevereiro, que deve crescer aproximadamente 0,4%, além da produção industrial de março, que mostrará estabilidade ante o mês anterior. A divulgação dos números fiscais do setor público deve seguir apontando para um quadro mais controlado, com déficit primário baixo e dívida líquida próxima de 57% do PIB. Por sua vez, a balança comercial deve ter forte superávit de US$ 9,0 bilhões, dados os preços de commodities elevados e a redução do quantum de importação, em linha com a indústria mais fraca. Por último, será divulgado o IGP-DI de abril, que deve mostrar uma forte desaceleração em função da redução do preço das commodities em reais. Externamente, o dado mais importante será o relatório de emprego nos Estados Unidos, que deve apontar para nova redução do desemprego para 3,5% e manutenção do sobreaquecimento da economia americana. 

Top da Semana

Diante do movimento de rotação de carteiras e recuperação do setor, as petrolíferas Petro Rio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) se destacaram como as maiores altas do Ibovespa na semana, com altas respectivas de 9,1% e 6,4%. Outro setor de destaque foi o de shoppings, em meio aos fortes resultados divulgados e noticiário agitado de M&A, fazendo com que Multiplan (MULT3) e Iguatemi (IGTI11) marcassem presença entre as maiores altas, que ainda foi completado por Minerva (BEEF3), Vale (VALE3), Dexco (DXO3), CPFL Energia (CPFE3), Embraer (EMBR3) e Telefônica (VIVT3). Entre as maiores quedas, novo destaque negativo para as techs, como Locaweb (LWSA3), Positivo (POSI3) e Inter (BIDI11), que foram acompanhadas novamente pelo setor varejista, também afetadas pelo cenário de inflação e juros elevados, com as presenças de Americanas (AMER3), Natura (NTCO3), Grupo Soma (SOMA3) e Magalu (MGLU3). Demais companhias que compuseram a lista da semana foram Rumo (RAIL3), Rede D’Or (RDOR3) e Hapvida (HAPV3), esta com a maior queda da semana, de 13,4%.

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