Macroeconomia


O Mercado na Semana

jeFtv1X8_400x400

Rafaela Vitória

Publicado 24/mar

Juros altos por muito tempo?

A semana foi marcada por decisões de juros dos bancos centrais que, em geral, mantiveram o tom mais hawkish ressaltando ainda a maior preocupação com a inflação. Nos EUA, o Fed subiu os juros em 25 bps, mesmo em meio à crise bancária e projetou taxa de 5,1% até o final do ano. O mercado seguiu ignorando essas projeções e aumentou a aposta de cortes no segundo semestre. Com juros menores no radar, o S&P500 teve alta de 1,4% na semana e até o petróleo teve leve recuperação. Já o Ibovespa seguiu descolando, com queda de 3,1% na semana voltando para a abaixo de 100 mil pontos, na mínima desde julho do ano passado. Nos destaques setoriais, o índice de consumo (ICON) foi o que apresentou a maior queda com retorno de -5,0%. Na ponta positiva, os índices de materiais básicos (IMAT) e indústria financeira (IFNC) apresentaram retornos de +0,8% e +1,3%, respectivamente.

A alta de juros em 25 bps nos EUA e a projeção do Fed de mais uma alta em maio e manutenção da taxa em 5,1% até o final do ano não assustou o mercado de juros americano, que seguiu precificando cortes de até 100 bps já no segundo semestre. A expressão “don’t fight the Fed” parece não ter valor no atual cenário onde predomina o receito de uma recessão. Mas a incerteza segue alta e a volatilidade, tanto nos mercados de renda variável como renda fixa, está elevada. A taxa de juros de 2 anos, que chegou na máxima de 5,08% em 8 de março, fechou a semana em 3,8%. As commodities também tiveram leve alta na semana, mas o petróleo permanece no patamar de $70/barril, mesmo com a recuperação da China, sinal de que a demanda global esperada ainda deve ser mais fraca esse ano. Na Europa, o mercado passou a semana digerindo a consolidação do Credit Suisse pelo UBS na Suíça, mas a preocupação com outros bancos continua, com destaque para o DB, cujo CDS que chegou na máxima em 5 anos, em 196 pontos, e levanta o receio de novos bancos na Europa podem precisar de reforço de liquidez.

Por aqui, a manutenção da Selic em 13,75% pelo Copom era amplamente esperada, mas o tom mais duro do comunicado desapontou, não abrindo espaço para cortes de juros no futuro mais próximo. O Banco Central destacou no comunicado a preocupação com a inflação corrente ainda elevada e as expectativas que seguem desancoradas. O governo voltou a criticar o Banco Central pelos juros altos, mas o dado de inflação do IPCA-15 de março, divulgado nessa sexta, trouxe alívio com uma leitura qualitativa melhor. A inflação dá sinais de voltar à tendência de queda, depois da alta em fevereiro, com boa redução nas medidas de núcleos e serviços. A alta de 0,69% foi concentrada no reajuste da gasolina, devido ao PIS/Cofins, e nas tarifas elétricas, com a decisão do STF de voltar a cobrança do ICMS sobre os custos de transmissão. Semana que vem teremos a ata do Copom, bem como o RTI, que trarão mais informações sobre como o Banco Central avalia o cenário prospectivo e pode- se consolidar no mercado a expectativa de que cortes de juros no segundo semestre, ainda que condicionado ao cenário de maior aperto de crédito e desaceleração da atividade, e apresentação do novo arcabouço fiscal. Apesar do tom mais duro do Copom, a curva de juros fechou a semana em queda, com expectativa de Selic em 12% em dezembro, abaixo do Focus que mantem a taxa esperada em 12,75%. A apresentação do arcabouço fiscal deve ficar para abril, mas os dados de arrecadação de fevereiro foram positivos, com alta real de 1,2% nas receitas no bimestre. O tesouro também revisou a previsão orçamentária para o ano com expectativa de déficit de R$120 bilhões, bem abaixo do aprovado pela LOA em R$233 bilhões. Em falas à imprensa, o ministro da Fazenda espera zerar o déficit em 2024, o que indica que o arcabouço pode conter medidas de controle do crescimento de gastos, bem como de aumento de receita.

Empresas e Setores

Resultado fraco e com desafios pela frente. A Itaúsa (ITSA4) reportou um resultado fraco no trimestre com lucro líquido e ROE impactados principalmente pelos negócios de varejo com menores volumes e as companhias de infraestrutura com maiores despesas financeiras devido aos juros elevados, confira o relatório completo. | Nebulosidade generalizada nas operações. A JBS (JBSS3) apresentou um resultado fraco no 4T22. A compressão das margens, com operações de carne bovina nos EUA e PCC indicando forte contração, assim como segmentos do Brasil surpreendendo negativamente, confira o relatório completo. | Abriu-se um poço de oportunidade? Mais uma vez, o trimestre foi de bons resultados para a PetroReconcavo (RECV3) com a estabilização do custo de extração, continuidade de seus projetos e evolução da produção de petróleo e gás, que tiveram aumento expressivo quando comparado ao mesmo trimestre no ano de 2021, confira o relatório completo. | Aumento das vendas e melhora das margens. A Panvel (PNVL3) apresentou resultados fortes no 4T22, impulsionados por novas aberturas no trimestre e boa performance de vendas em mesmas lojas. Com isso, houve um aumento no market-share na região Sul e a empresa se consolidou como líder regional, confira o relatório completo. | Resultados positivos e acima das expectativas. A Copasa (CSMG3) apresentou resultados positivos com crescimento relevante dos volumes faturados de água e esgoto e aumento de unidades consumidoras, tudo isso com os custos e despesas se mantendo relativamente constantes, confira o relatório completo. | Resultado impactado por ajustes não recorrentes. A Aliansce e brMalls (ALSO3) teve seus resultados impactados pela fusão das duas companhias, porém apresentou robusta entrega operacional com evolução de vendas em mesmas lojas e destaque positivo no repasse de aluguéis além das sinergias elevadas, confira o relatório completo. | 4T22 é cano furado. A Sabesp divulgou resultados negativos no trimestre, com aumento modesto em seu volume faturado e compressão de margens devido ao crescimento de custos administráveis e pior resultado financeiro, confira o relatório completo.

IPOs & Afins

Não houve movimentações relevantes nessa semana.

Fusões e Aquisições

Banco BTG (BPAC11) compra FIS Privatbank, instituição financeira de Luxemburgo, por € 21,3 mm. A transação segue em linha com a estratégia do banco de ampliar as suas operações de asset management e private banking no continente europeu. | Controlada da Eletrobras (ELET6) formalizou a compra remanescente da Mesa. A companhia, por meio de sua controlada Furnas, anunciou a aquisição da participação restante da Madeira Energia (MESA), detido pela Cemig GT, AGPar e Novonor, que corresponde a 22,9% da companhia, no valor de R$ 168 mm. Como a MESA é a única acionista da SAESA, companhia que opera a hidrelétrica de Santo Antônio na capital de Rondônia, a transação é oportunística para Eletrobras, que deterá 95,2% da MESA/SAESA. | Com compra do Credit Suisse (C1SU34) por US$ 3,5 bi em ações pelo UBS (UBSG34), bancos se fundem. Após temor frente ao cenário financeiro global, com falência do SVB, seguido do Signature Bank e colapso do Credit Suisse, o Banco Nacional da Suíça intermediou na conjuntura, impulsionando a compra do banco pelo UBS, em busca de manter a estabilidade financeira do país.

Fundos Imobiliários

Em nova semana de correção, IFIX oscilou -0,30%. Seguem os principais fatos ocorridos no período: XPPR11: O fundo entrou em acordo para alienação de ativos do seu portfólio que correspondem, em conjunto, um valor de R$ 200,7 mm, a ser pago de forma parcelada. | RBLG11: O fundo recebeu da Comercial Zaragoza Importação e Exportação Ltda, locatária do Galpão Hortolândia II, o aviso de devolução do imóvel e rescisão antecipada da locação. | RELG11: O fundo celebrou contrato com a Mauser do Brasil Embalagens Industriais S.A., para locação dos galpões 07 e 08, integrantes do imóvel localizado em Queimados-RJ.

Agenda da Semana

Na semana que vem teremos várias divulgações relevantes para monitorarmos o desempenho da economia brasileira. Segunda será divulgado relatório de contas externas pelo Bacen referente ao mês de março. Terça, o Copom divulgará a ata referente a sua última reunião dessa quarta, fundamentando melhor sua decisão de manter a taxa de juros em 13,75% Na quarta, será divulgado o relatório de crédito pelo Bacen. Quinta, a FGV divulgará o IGP-M, um importante indicador de preços, principalmente para avaliar o comportamento da inflação ao produtor, que tende a antecipar a inflação do consumidor. Ainda na quinta, o Bacen divulgará o relatório trimestral da inflação, por meio do qual conheceremos as expectativas dessa autoridade monetária para os principais indicadores macroeconômicos, e, após realizar revisões de ordem metodológica, o IBGE finalmente divulgará o resultado da produção industrial de janeiro. Por fim, na sexta, além do resultado fiscal consolidado pelos estados e municípios divulgado pelo Bacen, saberemos o resultado da PNAD referente ao trimestre móvel findo em fevereiro. A expectativa é de que a taxa de desemprego suba de 8,4% para 8,7%, refletindo a desaceleração da atividade. No contexto internacional, o principal evento será a divulgação do PCE na sexta. Vale destacar que esse é o índice de preço preferido do Fed e, portanto, qualquer surpresa poderá ter um impacto significativo nas expectativas do mercado.

Top da Semana

Em uma semana ruim para os mercados a maior alta ficou para Cielo (CIEL3), BB Seguridade (BBSE3) e WEG (WEGE3) que subiram 3,5%, 2,2% e 1,7% consecutivamente. Na outra ponta, Locaweb (LWSA3) caiu 24,9% com cautela sobre balanço junto com a queda de 17% de Cogna (COGN3) e 14,5% Magalu (MGLU3).


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail