Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades
Nesse 1T22, a Hapvida apresentou seu primeiro resultado consolidado desde a fusão com a Notredame Intermédica (pelo lado do GNDI entraram apenas os meses de fevereiro e março). A companhia foi negativamente afetada pelo aumento expressivo de atendimentos no início do ano, devido ao surto Ômicron e H3N2 (somente em janeiro foram realizadas mais de 109 mil teleconsultas), apesar da baixa conversão de atendimentos em internações (que são mais custosas para as operadoras). A empresa combinada encerrou o trimestre com 8,8 milhões de clientes de saúde e 6,5 milhões de clientes odonto, enquanto a rede própria possui 85 hospitais, 77 unidades de pronto atendimento, 318 clínicas e 269 unidades de diagnóstico, totalizando 749 pontos de atendimento próprios e se consolidando como um verdadeiro titã do setor de saúde. A Hapvida (ex-GNDI) encerrou o trimestre com 2.891 leitos operacionais (-985 a/a e -137 t/t). Já a companhia consolidada terminou o 1T22 com 7.230 leitos operacionais. No trimestre, em conjunto, foram adicionados 111 mil beneficiários líquidos de saúde e reduzidos 37 mil beneficiários de odonto. Além disso, no final de março, o Hapvida e o GNDI lançaram a “Solução Nacional”, fruto da combinação das duas companhias, onde os potenciais clientes passaram a ter acesso a uma ampla solução personalizada de produtos nacionais em todo o Brasil. Estamos atualizando nossas estimativas, considerando todas as mudanças estruturais após a fusão com o GNDI e as perspectivas e riscos do cenário macroeconômico brasileiro, portanto nossa recomendação e preço-alvo estão em revisão.
A receita líquida consolidada foi de R$ 2.599 mm (+108,4% a/a), refletindo os R$ 2.289 mm provenientes da fusão. Para Hapvida ex-GNDI, a receita líquida ficou em R$ 2.485 mm (+9,7% a/a) influenciada principalmente por: (i) aumento orgânico de 72 mil vidas na base de beneficiários de saúde (com queda de 4,2% no ticket médio, devido ao reajuste negativo de 8,19% dos planos individuais, vigente de maio/21 à abril/22) e 110 mil vidas de beneficiários de odonto (com queda de 12,7% no ticket médio); (ii) receita proveniente de empresas adquiridas: R$ 118,5 mm da Promed e R$ 74,9 mm da Premium Saúde; e (iii) crescimento de 25,7% a/a das receitas de prestação de serviços para terceiros.
A sinistralidade caixa registrada no trimestre foi de 72,9%. A sinistralidade de Hapvida ex-GNDI ficou em 67,0% (+5,9 p.p. a/a), refletindo: (i) aumento do volume de atendimentos e consultas de 37,3% a/a; (ii) maiores gastos com pessoais e mat/med; (iii) maior nível de sinistralidade das empresas adquiridas (Promed e Premium), que não estavam presentes no 1T21 e; (iv) reajuste negativo dos planos individuais. Em nossa visão, o pior já ficou para trás em termos de sinistralidade. No entanto, o retorno aos níveis históricos (~60%) fica inviável considerando a fusão com o GNDI e integração das adquiridas menos eficientes. Por outro lado, com a conjuntura mais favorável (Ômicron sinalizando o desfecho do Covid) somada à rapidez e eficiência nas integrações de empresas adquiridas, esperamos redução dos patamares atuais já nos próximos resultados.
O EBITDA consolidado foi de R$ 284 mm (-39,1% a/a) com margem de 5,9% (vs. 20,1% no 1T21). O prejuízo líquido reportado no trimestre foi de R$ 182 mm vs. lucro de R$ 152 mm no 1T21), com margem líquida de -3,8% (-10,3 p.p. a/a). O impacto foi causado majoritariamente, além das integrações das aquisições e fusão com o GNDI, pelo aumento expressivo das despesas financeiras de R$ 461 mm (+623,2% a/a), culminando em resultado financeiro líquido negativo de R$ 172 mm (+474,8% a/a).
Ao final do trimestre, a companhia consolidada apresentou dívida bruta total de R$ 10.798 mm e dívida líquida ajustada de R$ 6.189 mm. A relação dívida líquida ajustada/EBITDA LTM foi de 2,8x (vs. -0,7x no 1T21). O salto significativo frente aos últimos trimestres ocorreu em função do pagamento da parcela caixa para os acionistas do GNDI de R$ 3,2 bi, dividendo extraordinário do GNDI de R$ 1,0 bi, além da consolidação da dívida do GNDI.
O fluxo de caixa livre ex-aquisições de 2021 foi positivo em R$ 402 mm, impactado pela variação positiva do capital de giro e pagamento de menor IR/CSLL em virtude do ágio e amortização do valor justo proveniente da fusão. Houve um consumo de caixa de R$ 3.107 mm no 1T22, principalmente devido a parcela caixa para os acionistas do GNDI. Por fim, em abril foi anunciada a 3ª emissão de debentures da companhia, no valor de R$ 2,0 bi, com o intuito de ser destinado para pré-pagamento de dívidas e fortalecimento do caixa.