Chuvas prolongadas. Ventos já nem tanto.
O segundo trimestre no Brasil é caracterizado pela estação do outono, na qual já podemos observar uma diminuição nas temperaturas, antes ainda da entrada período mais seco do ano, a partir do início do segundo semestre. De acordo com a Agência de Meteorologia e Oceanografia dos Estados Unidos (NOAA), o La Niña, fenômeno climático responsável pela crise hídrica do ano passado, anteriormente previsto para encerrar no início deste ano, pode acabar se estendendo até meados de 2023, porém de forma moderada.
Um dos efeitos resultantes dessa manutenção do La Niña é a prorrogação do início da estação chuvosa no Nordeste. O aumento das chuvas e as variações de pressão podem acabar prejudicando a incidência de ventos e, consequentemente, os volumes de geração eólica no país, tendo em vista a representatividade e concentração destes complexos na região. Entretanto, vemos o segmento de geração como um todo ainda passando por um momento positivo, dado o elevado volume dos reservatórios, por consequência de um bom período de chuvas na virada do ano. Diante disto, o GSF (Garantia Física do sistema ante ao que foi gerado no período) ficou em torno de 100% e o PLD médio, por volta de R$ 55,70, o que se desdobra em menores custos de geração.
O segmento de distribuição deve apresentar resultados mistos ao longo deste trimestre, principalmente em função de demanda. De acordo com dados divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o volume total de energia consumida ao longo do 2T22 apresentou uma singela expansão, em comparação com o de 2021, impactado negativamente (i) por uma performance abaixo do esperado no segmento residencial, em razão das baixas temperaturas do período, (ii) e do desempenho mediano na indústria, com o crescimento restringido pelas altas de juros e inflação. Apesar disso, (iii) o aumento da atividade varejista permitiu expansão do consumo no setor de comércio e serviços, mais que compensando a queda nos demais segmentos.
Já para o segmento de transmissão, as expectativas seguem positivas, mas não devem trazer impactos imediatos no resultado do trimestre. Com a recente realização do primeiro leilão de linhas de transmissão do ano, organizado pela ANEEL, serão injetados mais de R$ 15 bilhões em investimentos no setor. Contudo, lembramos que as companhias contam com um prazo médio entre 40 e 60 meses para entrega das obras e, assim, devemos observar esta evolução no médio e longo prazo apenas, exceto pelas empresas que energizaram linhas ao longo do trimestre.
Omega: desligaram o ventilador!
Em seu relatório de produção mensal, a Omega reportou recentemente que o volume produzido do segundo trimestre registrou um valor de 1.267 GWh, 19% inferior à quantidade produzida no mesmo período de 2021. Segundo a companhia, além do efeito sazonal de menor disponibilidade de ventos na primeira metade do ano, fatores adicionais operacionais e climáticos influenciaram na contração do período, como por exemplo o atraso da temporada chuvosa do Nordeste devido à manutenção do La Niña, conforme informações do Centro de Previsão do Clima, o que gerou uma redução ainda maior da incidência de ventos sobre a região. Além disso, a companhia aproveitou o trimestre para realizar a conexão do ativo Assuruá 4, o que levou à necessidade da interrupção completa do complexo Assuruá durante o mês de junho, também penalizando a operação.
Portanto, nosso modelo aponta um EBITDA de R$ 146 mm para o 2T22, representando uma variação de 4% a/a, mas uma queda de 18% t/t. Ao levar em conta as subsidiárias, o EBITDA ajustado foi de R$ 185 mm, -20% e 3% no t/t e a/a, respectivamente. Em termos de resultado líquido, esperamos um prejuízo de R$ 78 mm, pressionado tanto pela queda de produção, quanto pela piora do financeiro. É valido lembrar que nossas projeções não contemplam a comercializadora (o que explica o efeito na receita), bem como o braço de desenvolvimento.
Engie: cenário favorável.
A Engie é o maior player privado de geração do país, em termos de capacidade instalada, sendo a principal exposição a ativos de geração hídrica. Devido a isto, somado ainda com a melhora do quadro hídrico e, por consequência, dos reservatórios e volume gerado, esperamos que os resultados do 2T22 tenham boa evolução. A companhia atual- mente passa por um processo de transição energética, tendo comprado neste trimestre o projeto eólico, Serra do Assuruá, que irá trazer uma capacidade instalada adicional de 880 MW, o que certamente impactará positivamente os resultados. Além do mais, o segmento de transmissão já começa a ter números positivos, contribuindo para evolução do resultado consolidado. Todavia, em nossa modelagem não estamos contemplando o segmento de transporte de gás (TAG).
Assim, esperamos um EBITDA de R$ 1,6 bi no 2T22, crescimento de 6,9% no a/a, mas recuo de 12,8% no t/t, na base ajustada. Embora uma tímida melhora, acreditamos que a empresa deve seguir evoluindo. Em termos de resultado líquido, esperamos um lucro de R$ 630 mm, crescimento de 98% a/a.
AES Brasil: estratégia defensiva. Até demais.
Ano passado, no intuito de minimizar os riscos de abastecimento de energia resultantes da crise hídrica e do baixo volume dos reservatórios, a AES Brasil adotou uma tática defensiva: a companhia efetuou operações de compra de energia o suficiente para garantir a continuidade de suas operações ao longo deste ano, mitigando o risco hidrológico. O problema é que, com custos médios operacionais acima do normal, resultantes de um considerável volume de despacho térmico, a companhia acabou realizando estas transações a um preço corrente elevado, fator que deve penalizar os seus resultados ao longo deste ano.
Sendo assim, projetamos para a companhia uma receita operacional líquida de R$ 528 mm, 6% inferior à receita do 2T21. Já o EBITDA ajustado projetado ficou em torno de R$ 281 mm (+10% no a/a, e -7% no t/t) e o resultado líquido da companhia ficou em R$ 37 mm, (+38% no a/a, e -50% no t/t).
Alupar: expectativa de bons resultados.
Como aproximadamente 75% de sua receita é proveniente do segmento de transmissão, a Alupar acaba se protegendo destes momentos de menor demanda de energia consumida, além de minimizar eventuais riscos hidrológicos que assombram o setor. Neste sentido, a companhia deve performar de maneira positiva em uma comparação anual, tendo em vista que no último trimestre anunciou a energização de outras três linhas de transmissão. Além destes, a companhia segue ainda com outros três projetos em fase de construção.
Todavia, não podemos esquecer, claro, de seu braço operacional de geração. Com 673 MW de capacidade instalada, a Alupar apresenta aproximadamente 80% de sua Garantia Física em ativos hídricos, e 20% em ativos eólicos. Com a localização de seu complexo eólico no Nordeste, devido à menor disposição de ventos na região, em razão de fa- tores meteorológicos, é de se esperar que a performance reportada seja um pouco abaixo de resultados anteriores. Já na parte hídrica, esperamos ainda bons volume e resultados no 2T22.
Desta forma, o nosso modelo apresenta uma expectativa de receita operacional líquida para a Alupar em torno de R$ 708 mm, 22% superior ao seu valor registrado no 2T21, mas queda de 1% t/t. Além disso, para o trimestre foram projetados um EBITDA de R$ 598 mm, e um lucro líquido de R$ 100 mm, variações anuais de 25% para ambos.
Taesa: resultados em linha.
Concentrada somente no atividade de transmissão de energia, a Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. é uma das maiores companhias do segmento, detendo aproximadamente 12 mil km de linhas operacionais, além de apresentar outros 1.800 sob construção. Recentemente, a companhia se sagrou vencedora de um lote no primeiro leilão de transmissão do ano, organizado pela ANEEL. O empreendimento localizado em Santa Catarina irá demandar um CAPEX total de aproximadamente R$ 243 mm, e de acordo com a companhia, apresenta sinergias importantes para a sua operação já existente. Uma movimentação que deve amplificar o resultado do 2T22 é a energização do empreendimento Aimorés, em parceria com a ISA CTEEP, que teve início em maio, e apresenta uma RAP de R$ 87 mm, em conjunto com a energização parcial do empreendimento Sant’ana, ocorrida em abril.
Analisando então o seu ciclo de RAP, projetamos para o segundo trimestre de Taesa, uma receita operacional líquida de R$ 540 mm, seguida de um EBITDA de R$ 474 mm, +43% no a/a e + 4% no t/t, mantendo a sua margem EBITDA em linha com o primeiro trimestre, por volta de 80%. Já a nossa projeção de resultado ficou em R$ 124 mm, 9% superior ao resultado do 2T21, e 15% inferior à do 1T22.
ISA CTEEP: portfólio segue em expansão.
A ISA CTEEP recentemente arrematou dois lotes no leilão de transmissão realizado pela ANEEL – sendo um deles um dos maiores lotes de todo o leilão –, que juntos irão demandar, aproximadamente, R$ 3.8 bi em investimentos. Segundo a companhia, os recursos utilizados para realizar essas implementações serão obtidos com caixa próprio ou com instrumentos do mercado financeiro. Por outro lado, no decorrer deste trimestre, a companhia teve a energização de duas linhas, IE Aimorés, joint-venture da companhia com a Taesa, e o Projeto Três Lagoas, pertencente a IE Tibagi, que no ciclo 2021-2022 conta com uma RAP de R$ 6 mm. Ambos os projetos já foram inseridos em nosso modelo.
Posto isso, para o 2T22 de ISA CTEEP projetamos uma receita operacional líquida, para a controladora, no valor de R$ 724 mm, 9% inferior ao mesmo período de 2021, mas leve alta de 1% t/t. Também foi projetado um EBITDA de R$ 537 mm, -16% a/a e -1% t/t, junto com um resultado líquido de R$ 190 mm, -23% a/a e +69% t/t. A queda do resultado operacional, principalmente a/a, se deve ao fato do alongamento das parcelas do contrato 059. Já o lucro líquido tem influência de efeitos cambiais, não-caixa.
Equatorial: consumo de energia mais fraco no trimestre.
A Equatorial irá anunciar os seus resultados no dia 10/08 (quarta-feira). Em nossas projeções estão contempladas as suas cinco distribuidoras, além do segmento de transmissão, já em fase operacional. O que não contemplamos nas prévias ainda é a parte de Geração, saneamento e a distribuidora CEA. Todavia, entendemos que o segmento de distribuição pode ter uma performance abaixo do esperado, em razão das baixas temperaturas do período, e do desempenho industrial em linha com trimestres anteriores. No 1T22, o setor comercial, que foi um dos segmentos de melhor performance neste tri, representou 21% na distribuição total da Equatorial, podendo ser um bom driver de resultado para o período.
Assim, para o 2T22, esperamos um EBITDA ajustado em torno de R$ 1,6 bi, +21% a/a, e -14% no t/t. Já a nossa projeção de lucro líquido para a Equatorial ficou em torno de R$ 418 mm, 40% abaixo do 2T21. Do lado operacional, como dito anteriormente, os volumes de energia devem ser mistos, com algum destaque negativo para o Sul e do lado financeiro, as despesas devem aumentar, devido à inflação e taxa de juros atuais.
Energias do Brasil: distribuindo bons resultados.
As distribuidoras da Energias do Brasil estão localizadas em importantes centros econômicos para o Brasil, sendo os estados de Espírito Santo e de São Paulo, fazendo com que sejam mantidos certos patamares de consumo, mesmo em um momento de arrefecimento nacional, devido aos seus consideráveis níveis de atividade. Desta forma, a companhia apresentou em seu release operacional, variações anuais positivas de 2,2% e 4,3% nos volumes totais de suas distribuidoras EDP São Paulo e EDP Espírito Santo, respectivamente, totalizando um volume distribuído de 6,6 milhões de MWh. Esse incremento no volume é resultado principalmente do bom desempenho do setor de consumo e serviços, que de maneira consolidada, representa aproximadamente 16% do portfólio de clientes da distribuidora.
Em geração, a companhia reportou uma venda consolidada de 3.455 GWh,6,3% inferior ao mesmo período de 2021. Segundo a própria EDP, essa queda está relacionada com a redução de contratos bilaterais estabelecidos no período, em conjunto com o efeito sazonal dos contratos de venda. A companhia reportou que lidou, ao longo do trimestre, com um GSF de 95%, e um PLD de R$ 55,70. Dessa forma, o volume de energia comercializada totalizou 3.979 GWh, 22% acima do 2T21, refletindo a evolução de preço de curto prazo no mercado spot, dada a melhora do cenário hidrológico.
Sendo assim, projetamos um EBITDA de R$ 1,086 bi, crescimento de 76% a/a e 2% t/t, comparado ao mesmo indicador ajustado. Todavia, a pressão nos resultados ficará por conta das despesas financeiras, que devem pesar mais uma vez, sendo que esperamos um lucro líquido de R$ 398 mm, alta de 77% a/a, mas queda de 24% t/t.
Cemig: trimestre deve vir neutro.
A Cemig também é uma companhia que atua em toda a cadeia do setor elétrico, desde geração até distribuição, com este último como seu carro chefe. Isto posto, vemos um trimestre com margens mais apertadas na distribuição, em função de seu volume de energia mais fraco. Juntos, os setores industrial e residencial representam aproximadamente 73% do volume total de energia distribuído pela Cemig D, e ambos os setores mantiveram um consumo de energia praticamente neutro ao longo do trimestre, quando olhamos para o consolidado do país.
O segmento de geração deve manter boas margens operacionais, dada a situação hídrica favorável no período, o que reduz os seus custos médios. Já na sua subsidiária Gasmig, em virtude do baixo volume de despacho térmico no trimestre, devemos observar uma redução também no volume distribuído de gás natural e em seus resultados. Desta forma, esperamos um EBITDA de R$ 1,4 bi, crescimento de 7% a/a, mas queda de 26% t/t. Quanto ao lucro líquido, esperamos algo próximo de R$ 856 mm, alta de 5% a/a.