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Inter Strategy | Mai.22

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Rafaela Vitória

Publicado 02/mai10 min de leitura

Alocação Estratégica e Tese de Investimento

Abril foi mais um mês marcado por forte volatilidade puxada pela elevação dos juros nos EUA, resultando em queda das bolsas globais e forte alta do dólar. A nova aceleração da inflação nos EUA, com o mercado de trabalho aquecido, fez o Fed subir o tom da preocupação e investidores passaram a precificar mais subidas de juros lá.

Nossa principal recomendação de investimento continua sendo uma carteira diversificada. Apesar das quedas nas bolsas e a alta do dólar, a incerteza quanto aos próximos passos do Fed ainda é significativa e mercados tendem a continuar voláteis e sem tendência.

Aqui no Brasil, reforçamos nossa recomendação em títulos indexados ao IPCA, não só pelo risco da inflação mais persistente, mas considerando o atual prêmio nas taxas de juros reais. A NTN-B de 10 anos com remuneração real de 5,6% é uma taxa referência bastante atrativa nesse momento, mesmo considerando os atuais riscos no cenário global.

A partir de abril, consolidamos nossa recomendação em 3 perfis, seguindo o nível de tolerância de risco para cada um.

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Mercados Globais

A inflação continua subindo e acumulou até março mais de 8% em 12 meses. E, mesmo excluindo os preços de alimentos e energia, o núcleo da inflação americana está em 6,4%, bem acima da meta do Fed de 2%. Com o mercado de trabalho bastante aquecido e a taxa de desemprego em 3,6%, as pressões inflacionárias deverão continuar. No último trimestre, a elevação média dos salários chegou a 1,4%, a maior alta em mais de 40 anos, sinalizando que inflação pode ser mais persistente que o previsto.

Nesse cenário, o mercado passou a precificar elevação de juros em um ritmo mais acelerado, 50 bps a partir da reunião de maio, e o Fed Fund Rate deve chega em 2,75% até o final do ano. A curva de juros também teve alta e a taxa de 10 anos voltou para 3%, maior patamar desde 2018, enquanto a taxa de juros real passou para o território positivo, em 0,1%. Essa elevação dos juros resultou em uma queda média do valor de mercado dos títulos de renda fixa em USD próxima de 4% em abril acumulando perdas de 10% no ano, a maior variação negativa acumulada pela classe de ativo em 40 anos.

Com a expectativa de aceleração maior dos juros nos EUA, o dólar teve forte valorização em abril e acumula alta de 8% no ano. Em relação ao EUR, o dólar voltou para o patamar de 1,05 a menor cotação desde 2016. O dólar em alta no mundo tem elevado a preocupação dos demais países com relação aos custos de energia, uma vez que o petróleo é cotado em USD e a valorização pode compor a alta da inflação.

A expectativa de alta dos juros também impactou as bolsas. O S&P caiu 9% em abril, pior mês desde março de 2020. A inflação em alta e juros maiores deve impactar os resultados das empresas nos próximos meses, além de encarecer o custo de capital. No passado, a queda mais forte das bolsas sinalizava para o Fed um aperto das condições monetárias, o que implicava em expectativa de menores juros na sequência. No entanto, o cenário atual de inflação elevada não permite perspectivas de mudança na trajetória de juros no curto prazo.

Commodities e Emergentes

Apesar da maior aversão a risco nos mercados globais, as commodities seguiram em alta e o CRB subiu 4% em abril, acumulando +32% no ano. A guerra na Ucrânia ainda traz incertezas com relação à oferta de petróleo e mantém a cotação do barril acima de $100. Commodities agrícolas, principalmente o trigo, também seguem em alta, e a redução da oferta de fertilizantes da Rússia é uma preocupação para a produção das próximas safras.

Nos países emergentes, enquanto a alta de commodities pode favorecer setores da economia, a inflação continua acelerando e o movimento de alta de juros deve continuar. As moedas emergentes seguiram a tendência global e tiveram queda em relação ao dólar, mesmo com a alta das commodities. Em relação às demais moedas emergentes, o real segue mais descontado.

Cenário Doméstico

Após a forte alta em março, a inflação persistiu em abril, mas os indicadores ficaram ligeiramente abaixo das expectativas. O IGPM fechou o mês em 1,4% e o IPCA deve ficar próximo de 1%. A alta dos combustíveis e alimentos ainda são os principais impactos, mas a preocupação maior ainda é com a contaminação para outros preços de bens e serviços. As expectativas de inflação tiveram nova revisão, e o mercado já espera inflação acima de 7% em 2022 e próxima de 4% em 2023.

O Copom deve elevar os juros novamente em 1 ponto percentual em maio, para 12,75% e possivelmente pode indicar um ajuste adicional em junho, considerando as expectativas mais deterioradas para 2023.

Nesse cenário, mantemos nossa recomendação de alocação adicional em títulos atrelados a inflação, que ainda possuem elevada taxa de juros reais e oferecem proteção para a inflação mais alta no curto e médio prazo.

Bolsa Brasil

O Ibovespa sofreu com a forte correção observada nos preços das commodities ao longo do mês, que fez com que o CRB tivesse retração de mais de 5% no período, e levou os papéis de grandes exportadoras a quedas de mais de 10%, como foi o caso da Vale. Assim, o índice doméstico teve recuo de 9% no mês, enquanto pares externos sofreram também, com Nasdaq fechando sua pior queda semanal desde a crise em 2008. As maiores quedas dos subíndices ficaram por conta do ICON, que retraiu mais de 13%, seguido por IFIN e IMAT, com respectivos recuos de 11% e 10%.

Como esperávamos, os papéis do setor financeiro tiveram queda no período, com os resultados do primeiro trimestre de 2022 para os principais bancos já mostrando sinais de desaceleração na concessão de crédito e inadimplência avançando. Ao mesmo tempo, dados de inflação ainda elevados pesam no setor de Varejo e Consumo que vem sofrendo com as limitações de poder de compra da população, com exceção do varejo não-discricionário e o voltado para o segmento alta renda, que acabam sendo mais resilientes. Na ponta positiva, damos destaque às administradoras de Shoppings que, no geral, tiveram desempenho forte no mês, refletindo os dados robustos das prévias do 1T22. Ainda, as empresas de commodities agrícolas seguem beneficiadas pela alta nos mercados internacionais e as incertezas quando à oferta futura em razão dos conflitos entre Rússia e Ucrânia.

Multimercados

Após melhor performance do em março, fundos de multimercado sofreram perdas em abril. Nesse sentido, destaca-se a queda da bolsa americana e brasileira, que afetaram significativamente os fundos comprados nesses ativos. A alta do dólar no mês foi indiferente para a maior parte das categorias dos fundos que estão levemente comprados ou neutros nesse ativo. Fundos vendidos em renda fixa foram beneficiados pela abertura da curva nominal e real de juros.

Câmbio

Mesmo com continuação do ciclo de política monetária contracionista na maioria dos emergentes, a alta do dólar foi inevitável. O real, após mostrar valorização de 7,5% frente ao dólar em março, se depreciou em 4,9% em abril. O caráter sistemático de apreciação do dólar reforçou que as mudanças que levaram a valorização da moeda americana partiram principalmente da postura mais hawsish do FED.

Apesar do elevado superávit em conta corrente, com termos de troca mais favorável, e o diferencial de juros relevante, a incerteza sobre o processo de consolidação fiscal após as eleições no Brasil que deve manter a volatilidade alta.

Fundos Imobiliários

Pela primeira vez em terreno positivo no ano – com alta de 0,3% em 2022 – o IFIX apresentou novo ganho no mês de abril, desta vez de 1,2%, beneficiada pela sólida recuperação dos fundos de tijolo, que avançou 1,6% no mês, em conjunto com a alta de 0,2% dos fundos de papel. Apesar do estresse global vivido quanto à alta do juros para combate da inflação – que aparenta prosseguir por um período mais prolongado que o inicialmente esperado –, no mercado doméstico, o discurso do Bacen quanto aos rumos do ciclo monetário contracionista permanece inalterado. Sem mudanças de perspectiva da trajetória da Selic, os fundos imobiliários tiveram performance positiva no mês de abril.

Além do bom desempenho do segmento de shoppings, o setor de escritórios vivenciou pela primeira vez queda na taxa de vacância desde o início da pandemia, o que trouxe ânimo para retomada. Além disso, os fundos de galpão logístico seguem com baixa vacância e demanda resiliente. Com alta exposição ao segmento de tijolo, os FoFs tiveram forte desempenho no mês, com destaque para alta do fundo RBRF11. Apesar da conjuntura econômica desafiadora, os fundos de tijolo permanecem com alto desconto frente o valor patrimonial, o que se configura como oportunidade de apreciação do capital. Enquanto isso, os fundos de papel continuam com forte remuneração da carteira em virtude do cenário de juros elevado e alta da inflação. Com recuperação mais robusta do setor de serviços e varejo, esperamos que a defasagem dos contratos de aluguel em relação à inflação seja mitigada, o que contribuirá para diminuição do atual hiato existente entre o preço de tela e valor patrimonial dos fundos de tijolo.

Rentabilidade das Classes

 


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