O que é o mercado futuro?
Inicialmente desenvolvido com o propósito de proteção contra oscilações das commodities, o mercado futuro começou a ser reconhecido em 1730 no Japão, por meio da Dojima Rice Exchange. Após o pontapé inicial com a comercialização de arroz, as suas funcionalidades atravessaram o oceano para serem desenvolvidas na Inglaterra, seguido dos Estados Unidos com a famosa Chicago Board of Trade (CBOT), onde a partir de então foi disseminado para o restante do globo.
Atualmente, o mercado futuro é um ambiente no qual efetuam-se a compra e venda de ativos com a liquidação em uma data futura, sendo uma evolução do mercado a termo. Essas operações são efetuadas através de um contrato futuro com um derivativo, ou seja, é necessário estar atrelado ao preço de algum produto desses segmentos: commodities, índices, juros e moedas. É importante pontuar que nessas negociações o investidor não compra e vende o produto em si, mas irá receber o direito sobre as oscilações dos preços desses ativos no mercado dependendo da posição acordada.
Desse modo, ao firmar um contrato, o indivíduo se compromete a comprar ou vender um determinado ativo por um preço futuro preestabelecido na operação. Diferentemente de outros mercados de derivativos, os desembolsos são ajustados diariamente, de maneira que é possível balancear as perdas ou retornos da negociação.
No Brasil, todas essas negociações são efetuadas pela B3, - após a consolidação da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) com a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e, posteriormente, a Cetip (Balcão) ao longo de 2017 -, o que traz a necessidade de padronização e homogeneidade para os produtos ofertados. Uma vantagem do contrato futuro em comparação aos outros derivativos não padronizados é alta liquidez, de modo que a regularização das operações atrai mais investidores, o que traz uma maior dinâmica no mercado futuro, dado que possui contrapartes para as negociações.
Mas, qual é a funcionalidade do mercado futuro?
Por mais que incialmente criado com o objetivo de proteger o agente contra as oscilações dos preços, as utilidades do mercado futuro expandiram ao longo da história, no qual dentre as suas principais funções têm-se: hedge, arbitragem e especulação.
- Hedge
Quando o contrato futuro é utilizado com o objetivo primário de proteger o investidor contra oscilações do preço de um ativo subjacente no futuro, mitigando os seus impactos, a operação é chamada de hedge. Nesse tipo de negociação o agente adquire um contrato em uma posição de compra ou venda a um preço estabelecido, quantidade determinada e com vencimento em uma data futura.
Para concretizar essa ideia, imagine um empresário rural que busca proteger a sua próxima safra de soja contra as oscilações do mercado. O agricultor verifica o valor atual e decide efetuar um contrato de venda para soja a R$ 70 por saca, fixando o preço de hoje, com vencimento para quatro meses após data de operação, quando a colheita da cultura se concluirá. Desse modo, no final da negociação o preço da soja no mercado cai para R$ 65, contudo, como a operação de hedge foi efetuada, o empresário conseguiu se proteger, dado que o preço do contrato foi superior ao valor comercializado no mercado.
Outro exemplo, podemos observar no caso das empresas exportadoras que são sensíveis à variação do dólar. Nesse caso, para proteger o seu balanço contra as oscilações, é possível realizar a compra de contratos futuros a um preço predeterminado do câmbio.
- Arbitragem
Já em casos em que o investidor utiliza os contratos futuros para ganhos com as diferenças de preços de um mesmo ativo, a operação é chamada de arbitragem. Ou seja, é um movimento similar ao dos indivíduos que compram um produto mais barato no exterior e revendem com valor superior no mercado interno, em busca de obter lucro com a operação.
Para o mercado futuro, individualmente, esse tipo de negociação costuma ter baixa rentabilidade, de maneira que para acumular um lucro superior é necessário obter operações volumosas e frequentes, o que geralmente acontece por meio de alavancagem.
- Especulação
Comumente conhecido pelos day traders, as operações que visam exclusivamente lucro e ocorrem normalmente no mesmo dia, são conhecidas como especulações. Nesse caso, o investidor ganha com pequenos diferenciais entre o valor de compra e venda do contrato.
Vantagens e Desvantagens
Dentre as vantagens do contrato futuro temos:
- Alavancagem. Como no mercado futuro os retornos advêm das oscilações de preço, ou seja, não paga o valor do ativo em si, é possível obter uma forte alavancagem em suas operações.
- Diversificação. Como o mercado futuro está atrelado a algum derivativo, o investidor consegue aplicar diretamente no preço de um produto que possui alta relevância, como as commodities e moedas.
- Flexibilidade e Facilidade. Nas negociações futuras os contratos são bidirecionais, o que traz a possibilidade de obter ganhos tanto na queda como na alta do ativo, criando uma maior flexibilidade para retornos do investidor. Além disso, as operações se assemelham com o mercado de ações e são comercializadas na bolsa, o que cria uma facilidade para utilizar esse instrumento.
- Liquidez. O mercado futuro movimenta um grande volume de capital, o que facilita a entrada e saída do mercado, além da liquidação de um contrato antes do vencimento.
Já dentre as principais desvantagens, podemos pontuar:
- Risco de mercado. Em caso de prejuízos em cenários adversos, o investidor terá que assumir o valor. Em vista disso, é necessário ingressar nesse mercado com uma estratégia, assim como com uma boa base de conhecimento sobre esse ambiente.
- Alavancagem. Por mais que seja uma grande vantagem do mercado futuro, a alavancagem também se torna um risco na mesma proporção do retorno para quem opera nesse ambiente, dado que se a projeção base para o investimento estiver errada, é possível que o investidor obtenha perdas expressivas.
- Margem Garantia. É possível que as corretoras alterem a margem garantia de operações de contrato futuro, o que pode levar o investidor a reduzir a sua exposição ou a cobertura desse montante modificado.
Mercado futuro e commodities
As operações com contratos futuros são essenciais para o dia a dia das companhias do setor de commodities, principalmente paras exportadoras e grandes agricultoras, dado que usufruem de operações de hedge em busca de maior proteção contra o volátil preço de insumos e de seus próprios produtos.
Tendo em vista essa peculiaridade do setor, de modo geral, os preços futuros das commodities são afetados pelo atual, no qual vemos uma convergência entre o valor do contrato e o praticado no mercado físico conforme a data limite vai se aproximando, de maneira que a variação do atual interfere no especulado. Além disso, é um medidor relevante para analisar como o mercado está precificando uma commodity no curto prazo, de modo que é possível observar a interferência de adversidades climáticas, projeções de safras e demais eventos nesse preço futuro, não sendo um ativo tão especulativo como ocorre com um índice. O contrário também é verídico: temos visto cada vez mais os preços futuros interferindo nos preços à vista dos ativos, como no caso do recém-criado mercado futuro de celulose.
No entanto, por mais que popularmente utilizado para hedge, os contratos futuros também podem ser usados para lucratividade, principalmente no caso do swing trade, no qual os investidores que conseguem antecipar as viradas de ciclos das commodities aproveitam mais os seus retornos. Um ponto interessante é que alguns produtos como boi gordo e milho possuem elevada liquidez no mercado brasileiro, o que facilita as operações nesse ambiente.
Características
- Ajuste Diário
No mercado futuro, o preço de negociação pode variar conforme a oferta, demanda e expectativas dos investidores pelo ativo ou contrato. Desse modo, visando evitar situações de prejuízo após oscilações do preço e riscos de inadimplência, a B3 aderiu um mecanismo de ajuste diário, no qual, a cada dia, as perdas e ganhos do contrato são apuradas, considerando o preço de fechamento diariamente como referência para esse cálculo.
- Margem de Garantia
Para negociações no mercado futuro, a B3 exige que o investidor disponha de uma garantia para corretora, ou seja uma margem de segurança, como um depósito caução, visando proteção contra inadimplência dos investidores.
Essa margem equivale a um percentual da negociação, a qual também pode ser reembolsada através de outros ativos, como ações, alguns tipos de títulos e outros. Além disso, para operações day trade, a corretora que define o valor da margem, já para negócios de mais dias a B3 que estabelece o percentual.
- Minicontrato
Em busca de ampliar o acesso ao mercado futuro, foram criados os minicontratos, com lote mínimo menor, para facilitar a negociação do investidor, sendo um fator atrativo para o ingresso de pessoas físicas ao mercado.
Como investir?
Perfil de investidor. É importante realçar que operar no mercado futuro é considerado um investimento de alto risco, dado que possui um grau significativo de volatilidade. Em vista disso, esse tipo de operação se encaixa somente para perfis arrojados.
As negociações no mercado futuro estão disponíveis para qualquer investidor, funcionando similarmente a compra de uma ação, no qual cada contrato possui um código de negociação que se encontra em um Home Broker. Um diferencial importante é a posição que o investidor irá escolher, podendo ser de compra e venda. Desse modo, como o mercado futuro é negociado na bolsa, é necessário que o investidor possua uma conta em alguma corretora para dar procedência na operação.
Códigos do mercado futuro
Tipos de contratos e suas características
Abaixo explicamos brevemente as características dos contratos mais negociados na bolsa. Para todos os contratos a formulação do código condiz a:
Código do contrato + Código do mês de vencimento + Ano
- Boi Gordo
O futuro do boi gordo (BGI) é um dos mais negociados no Brasil, sendo comumente utilizado para operações de hedge, dada a importância do país na exportação de proteína bovina.
No que tange as características da negociação, é exigido no mínimo um lote, que equivale a 330 arrobas (4.950 kg), unidade de referência para gado. Além disso, a margem garantia para operações alavancadas é de 4%, com vencimento todo final do mês, mas outubro costuma ter mais liquidez.
- Café
No caso do café (ICF), o seu valor é cotado em dólar, o que traz a necessidade de analisar a variação do câmbio para sua estratégia. Desse modo, o contrato mínimo é 100 sacas, o que equivale a 6 toneladas, e possui uma margem de 10%. O seu vencimento é no sexto dia útil do mês, sendo restrito a alguns meses, dentre eles: março, maio, julho, setembro e dezembro.
- Milho
Para negociações de milho (CCM) é necessário comprar no mínimo 450 sacas (27 t), com margem de 7% e vencimento sempre no décimo dia útil do mês, mas apenas nos seguintes meses: janeiro, março, maio, julho, agosto, setembro e novembro.
- Soja
Igualmente ao café, os contratos de soja (SFI) são negociados em dólar, a um lote mínimo de 450 sacas, assim como um vencimento no último dia útil do mês, restrito apenas para os seguintes meses: março, maio, junho, julho, agosto, setembro e novembro.
- Moedas (Dólar)
Para contratos de câmbio do dólar (DOL), o lote mínimo é de cinco contratos de US$ 50 mil cada, o que equivale a um total de US$ 250 mil, assim como uma margem garantia de 13% e vencimento no primeiro dia útil de cada mês. Além disso, é importante mencionar que os contratos cheios são destinados apenas para investidores qualificados ou grandes companhias.
Por outro lado, para pessoas físicas existe o mini dólar (WDO), no qual é possível negociar apenas um contrato de US$ 10 mil, bem como uma margem e vencimento iguais ao cheio.
- Índice
No caso dos índices, existem negociações com minicontratos, no qual cada ponto equivale a R$ 0,20 e 16% de garantia. Já para os contratos cheios, cada ponto vale R$ 1 e possui a mesma margem do mini.