Análise


Interbook 2023

jeFtv1X8_400x400

Rafaela Vitória

Publicado 19/dez

Caro investidor,

2023 começa com um cenário de muita incerteza, tanto no mercado internacional como no mercado doméstico. É um ambiente desafiador com a elevação dos juros globais e expectativa de desaceleração do crescimento. A inflação mais alta em 2022 resultou em um aperto monetário maior que o esperado, o que pode resultar em um soft landing ou até uma recessão. A China, que sempre destoava em momentos de crise global, parece seguir os pares dessa vez, também mostrando sinais de desaceleração.

Aqui no Brasil, a incerteza sobre o futuro do orçamento e desequilíbrio das contas públicas também devem resultar em maiores taxas de juros ao longo de 2023, gerando ainda incerteza sobre a trajetória de queda da inflação e impactando o crescimento do PIB.

Onde investir em um cenário tão indefinido?

Entre um desfecho mais positivo ou o mercado ainda pressionado por mais tempo, a melhor opção para o investidor é diversificar sua carteira. Recomendamos a distribuição dos investimentos, não somente entre a renda fixa e a renda variável, mas também entre o Brasil e o exterior. Considerando o atual patamar de juros, 2023 será um ano favorável para a renda fixa, com destaque para títulos indexados no Brasil, com elevados prêmios e a proteção do risco de inflação. Em renda variável, o stock picking será ainda mais importante e preferimos os setores defensivos com especial atenção para Utilities, Seguradoras, e commodities, como agrícolas e energéticas. Por fim, lembramos a todos os investidores de manter suas reservas de liquidez e evitar o market timing, tentar acertar o momento de entrar e sair em um cenário de maior volatilidade pode significar perda de retorno para o portfolio.

No Inter Book edição 2023 trazemos para vocês nosso panorama de investimentos, com resumo do cenário tanto local como internacional, alocação estratégica e a seleção Inter, com as favoritas em cada setor de cobertura, bem como indústrias e mercados que devem ser destaque no exterior.

Boa leitura e bons investimentos!

Rafaela Vitória, Economista-chefe

Gabriela Joubert, Analista-chefe

Incerteza fiscal pode impactar o crescimento em 2023

Apesar de 2022 terminar com crescimento do PIB melhor que o esperado, taxa desemprego no menor patamar desde 2014, inflação em queda e superavit primário, o cenário macro para 2023 é de bastante cautela.

O governo de transição trouxe um aumento considerável na incerteza econômica com as discussões sobre a PEC que pode aumentar gastos em mais de R$200 bilhões, sem oferecer contrapartidas, o que pode voltar a pressionar a inflação e deteriorar a trajetória da dívida. O Copom deixou claro que está vigilante em relação aos desenvolvimentos e que não irá se furtar de seu mandato de trazer a inflação à meta. Com isso, o mercado fica em compasso de espera, com as taxas de juros futuros estressadas e uma expectativa de Selic elevada por mais tempo do que o anteriormente esperado.

O principal impacto dos juros mais elevados será no crescimento da atividade. Já se observa desaceleração nos últimos meses, fruto das condições financeiras mais restritivas, além do cenário global também mais enfraquecido.

Nos últimos dois anos tivemos o setor externo atuando como um importante motor de crescimento, porém, para 2023 o cenário deve ser diferente. A economia americana dá sinais de desaceleração e o Fedindica que levará a taxa de juros para acima de 5,0%, aumentando a probabilidade de recessão.

Para o Brasil, no nosso cenário base, estimamos uma inflação ainda acima da meta em 2023, próxima de 5,1%, e Selic mais alta por mais tempo, oferecendo o contraponto à politica fiscal expansionista com redução apenas no segundo semestre, dos atuais 13,75% para 12%. O crescimento do PIB, que deve ficar em 3% em 2022, tende a desacelerar para 0,5% no próximo ano. Voltaremos a ter déficit fiscal acima de 1% e a dívida bruta deve subir de 74% para 79% do PIB. Em um cenário alternativo, um desfecho positivo sobre o futuro arcabouço fiscal pode resultar em uma melhora nas expectativas de inflação e permitir o início da redução dos juros mais cedo.

O Ibovespa sobe em 2023? | Preço-alvo do Ibovespa em 118.000 pontos para o próximo ano

Risco fiscal e juros mais elevados limitam ganhos para 2023. O cenário político econômico conturbado precificando o desequilíbrio nas contas públicas e o aumento do risco fiscal levaram à revisão das projeções de afrouxamento da política monetária por parte do Bacen em 2023, pressionando os ativos locais no curto prazo e, consequentemente, as expectativas para os ganhos para o próximo ano.

O prêmio de risco, que caminhava para níveis mais baixos, volta a subir e, juntamente com custos de captação mais elevados alavancam as taxas de desconto para precificação dos modelos de avaliação, levando à cortes de projeções para o próximo ano. Para 2023, vemos um cenário mais restritivo quando comparado com nossas projeções anteriores, e ainda impactado por um cenário externo recessivo, o que pode limitar a contribuição das commodities na economia.

O ano de 2022 foi um ano de reajuste de expectativas. Enquanto o lucro das empresas, mesmo que robusto, foi sendo reajustado, o Ibovespa foi precificando incertezas globais e domésticas com inflação elevada no exterior, recessão global e cenário fiscal incerto no Brasil para o ano que vem.

Desta forma, com nossas expectativas de lucratividade das companhias para 2023 atualizadas, o índice continua sustentado pelo desconto frente ao potencial de lucratividade das empresas para o ano que vem, onde encontramos um múltiplo justo sendo negociado a 7,2x podendo retornar à média de 8x, gerando um upside de 12% a 118.000 pontos para 2023. Corroboramos também com a perspectiva de earnings yielddas companhias (Lucro/Preço) para 2023, que mostra uma taxa média de 11,4%, corroborando nosso target.

Onde estão as oportunidades?

Os setores que melhor desempenharam nos últimos dois anos na bolsa, vide a relação risco e retorno, permearam em ações defensivas, caso das Utilities– com os segmentos de saneamento e elétricas – e commodities – com os setores de óleo & gás e siderurgia e mineração – beneficiados pela recuperação da atividade e da demanda após a pandemia.

Por outro lado, após a explosão da inflação pelo mundo e o movimento de alta de juros e aperto monetário global, setores mais sensíveis às políticas monetárias restritivas apresentaram movimento contrário, desempenhando abaixo da média dos índices, casos como varejo, construção civil, shoppings e outros. Até mesmo a indústria financeira, exceto seguradoras, que se beneficiariam de um movimento de juros elevados, estão cautelosos devido à deterioração da qualidade do crédito.

Para o ano que vem, nossas expectativas seguem em torno de setores mais defensivos e que devem ser menos afetados pelo ambiente de aperto monetário, como Utilities, Seguradoras e Papel e Celulose. Em menor grau, apostamos também no segmento de Siderurgia, tendo em vista os drivers ainda positivos para a demanda, em especial nos segmentos de Agronegócios e Máquinas e Equipamentos.

Alocação Setorial | Setores defensivos ditam os favoritos para 2023.

No lado das oportunidades, inflação desacelera, mas deve seguir em patamar ainda elevado, o que deve continuar beneficiando companhias com receitas atreladas aos índices como IPCA e IGP-M, como é o caso de algumas Elétricas. Os juros elevados podem contribuir para o spread bancário e impulsionar receitas financeiras dos bancos e das seguradoras, mas a inadimplência e menor apetite por crédito podem limitar os avanços nos resultados. Por outro lado, no ramo de seguros, podemos ver normalização das operações e da sinistralidade contribuindo positivamente para os resultados, junto com receitas financeiras maiores.

No segmento de Varejo, o setor alimentício deve se sobrepor aos demais, com renovação dos benefícios sociais.

Dentre as commodities, apostamos na continuidade do bom momento do setor agrícola, bastante resiliente, mesmo em momentos de desaceleração global, e o setor de Papel e Celulose, ainda favorecido pelos choques de oferta no continente europeu.

Continuamos com cautela nos segmentos de (i) Varejo e Consumo, em razão dos juros elevados, (ii) bancos com cenário de crédito pressionado pela inadimplência, (iii) mineração, com a recessão global e covid na China afetando a demanda, além de (iv) Construção, que deve desacelerar com crédito mais restritivo e (v) saúde, que ainda enfrenta uma alta frequência de procedimentos eletivos e desafios em reajustes e competitivos.

Inter Seleção | Resumo

  • Bancos | Itaú (ITUB4)
  • Construção | Direcional (DIRR3)
  • Elétricas | Energias do Brasil (ENBR3)
  • Frigoríficos | Minerva (BEEF3)
  • Óleo & Gás | 3R (RRRP3)
  • Papel & Celulose | Klabin (KLBN11)
  • Saúde | Hypera(HYPE3)
  • Seguradoras | Porto Seguro (PSSA3)
  • Shoppings | Iguatemi (IGTI11)
  • Siderurgia & Mineração | Gerdau (GGBR4)
  • Transporte & Logística | Simpar(SIMH3)
  • Varejo & Consumo | Assaí (ASAI3)

Receba nossas análises por e-mail