Análise


Atividade | Setembro 2023

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André Valério

Publicado 14/nov

Resultados mistos em setembro

Em setembro, a produção industrial e o varejo tiveram performance positiva, entretanto, o panorama geral indica desaceleração. O resultado positivo da indústria foi apenas marginal, avançando 0,1% no mês. Por outro lado, o setor de serviços registrou o segundo mês consecutivo de variação negativa, com o resultado de agosto sendo revisto para baixo, indicando uma queda mais intensa do que a que se pensava anteriormente. O destaque positivo foram as vendas no varejo, que vieram mais fortes que o esperado. Entretanto, esse resultado se deve ao forte desempenho de supermercados, que representa mais de 50% do índice. De fato, a maior parte das atividades de varejo pesquisadas tiveram desempenho negativo, o que indica que o fôlego do setor está bem curto. Portanto, os dados de setembro acendem o sinal de alerta e aumentam a probabilidade de um desempenho negativo no PIB do 3º trimestre de 2023. Ainda assim, o resultado para o ano deve ser positivo e por volta de 3%.

Produção industrial avançou 0,1% em setembro

Resultado foi melhor que o esperado, que era um recuo de 0,1%. Na comparação com setembro de 2022, a produção avançou 0,6%. Com esse resultado, o acumulado no ano chega a -0,2% e o acumulado nos últimos 12 meses é de 0,0%. O setor sofre com a baixa demanda interna e externa, além da política monetária em patamar altamente contracionista.

Apesar do resultado positivo da indústria geral, o avanço foi tímido entre as atividades. Apenas 5 dos 25 ramos pesquisados apresentaram variação positiva, com o destaque sendo as indústrias extrativas, que avançaram 5,6% no mês, devolvendo as perdas observadas entre julho e agosto. Na ponta negativa, destacam-se a queda nos produtos farmacêuticos (-16,7%), máquinas e equipamentos (-7,6%) e veículos (-4,1%). Entre as grandes categorias econômicas apenas o grupo de bens intermediários apresentou variação positiva, de 0,3%. Na ponta negativa, destacamos a queda de 2,2% na produção de bens de capital, o que mantém o resultado no ano amplamente negativo, com recuo de 10,4%. Isso sugere uma tendência negativa para os investimentos produtivos da economia, o que poderá impactar a capacidade instalada no futuro.

O cenário para a política industrial continua inalterado. A produção não apresenta uma tendência clara. O contexto não é terrível a ponto de levar a uma deterioração intensa, mas tampouco a indústria consegue manter um ritmo de crescimento sustentável. A continuidade do ciclo de cortes da política monetária irá aliviar a situação da indústria na margem, por outro lado, o cenário externo se torna mais incerto com o passar dos meses, o que pode limitar a retomada do setor.

Varejo avança 0,6% em setembro

Resultado veio melhor que o esperado, que era estabilidade no mês. Na comparação com setembro de 2023, o volume de vendas avançou 3,3%. Com o resultado, o setor acumula alta de 1,8% em 2023 e de 1,7% nos últimos 12 meses, ambas as métricas avançando frente ao resultado de agosto.

Na versão ampliada, as vendas no varejo avançaram 0,2% na comparação com julho. Comparadas a setembro de 2022, as vendas do varejo ampliado avançaram 2,9%. Nos últimos 12 meses, o varejo ampliado avança 1,6%.

Apesar do resultado positivo, maior parte das atividades pesquisadas apresentou recuo. Cinco das oito atividades tiveram desempenho negativo. O destaque positivo foram as vendas em supermercados, com alta de 1,6% no mês, seguidos de móveis e eletrodomésticos (2,1%) e produtos farmacêuticos (0,4%). Na ponta negativa, destacamos combustíveis e lubrificantes, e vestuário, que recuaram 1,7% e 1,1%, respectivamente. Portanto, vemos que o resultado positivo do setor veio a despeito do mau desempenho da grande maioria das atividades. Isso sugere uma demanda enfraquecida, com o grande destaque positivo sendo um setor de consumo essencial que tem passado por um período de deflação nos últimos meses, com o grupo de alimentação e bebidas acumulando queda de 2% no IPCA nos últimos três meses.

Volume de serviços recua 0,3% em setembro

Resultado veio pior que esperado, registrando o segundo mês consecutivo de queda do setor. Além disso, o resultado de agosto foi revisado, saindo de -0,9% para -1,3%. Ainda assim, o setor se encontra 10,8% acima do nível observado em fevereiro, mas 2,6% abaixo do pico da série histórica, que foi alcançando em dezembro de 2022. Na série sem ajuste sazonal, frente a setembro de 2022, o volume de serviços recuou 1,2%, encerrando uma sequência de 30 taxas positiva. O acumulado em doze meses passou de 5,3% em agosto para 4,4% em setembro de 2023, menor resultado desde julho de 2021 (2,9%).

A queda foi disseminada, com três das cinco atividades apresentando volume menor, com os destaques sendo serviços profissionais e serviços de comunicação, que recuaram 1,1% e 0,7%, respectivamente. Além delas, serviços de transportes recuou pelo segundo mês consecutivo, com queda de 0,3% em setembro. Na ponta positiva, o destaque foi serviços prestados às famílias, que avançaram 3%, recuperando parcialmente as perdas de 3,7% observadas em agosto.

Serviços finalmente dá sinais de desaceleração. O setor tem surpreendido devido à sua resiliência em meio à elevada taxa de juros. Nos últimos dois meses vemos sinais mais claros de desaceleração no setor, principalmente pelo lado da oferta. Nesse resultado de setembro, o destaque positivo foi o comportamento dos serviços às famílias o que sugere que a demanda ainda existe, o que pode suavizar a desaceleração do setor. Por outro lado, o ciclo de cortes na taxa de juros, que deve prosseguir pelos próximos meses, pode gerar alívio adicional, e impedir uma retração ainda maior.


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